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COTAS NA USP | Ocupar a USP por cotas é preciso!

Em meio a semana de calourada, a diretoria da FFLCH organizou uma aula magna com o tema “O homem simples e a filosofia”, que seria ministrada pelo Prof. José de Sousa Martins. O problema é que a aula foi convocada no mesmo dia e horário do único espaço da calourada unificada onde se debateria a questão das cotas na universidade.

quinta-feira 18 de fevereiro de 2016 | 17:42

Ocupar é preciso

Não foi a primeira vez que setores da burocracia universitária atropelaram xs estudantes negras e negros e estes, cansados de mais uma vez termos nosso tema tratado como debate paralelo ao acadêmico-institucional, fizemos uma ocupação da aula magna, que resultou em diversos setores do movimento negro, da esquerda e dos movimentos sociais fazendo intervenções sobre a necessidade da implementação de cotas na USP.

Desde que o tema passou a ser levantado tanto por trabalhadores quanto estudantes, ligados ou não ao movimento negro, a posição oficial da reitoria da USP é de afirmar que a entrada de negros na Universidade causaria uma queda na produtividade, na qualidade, além de “tornar a universidade mais violenta”, frase repetida diversas vezes por membros do Conselho Universitário.

No ano passado, em uma legitima tentativa de debater cotas dentro de uma das reuniões do Conselho Universitário, a Reitoria da USP não apenas impediu a entrada de membros da Ocupação Preta e da Secretaria de Negros da USP, como também processou criminalmente de maneira racista apenas os diretores sindicais negros que estiveram presentes na ação, como Marcello Pablito, que é também militante do MRT e que devido a esse processo hoje denuncia criminalmente a USP por racismo.

Na constatação de ausência de diálogo e na persistência em propagar discursos racistas, cabe aos estudantes criarem novos métodos para conquistar uma demanda tão justa, seja a partir de ocupações, como nos inspiraram os secundaristas que lutaram contra a reorganização, seja a partir de mobilizações cotidianas e demonstrações de força.

Uma delas ocorrerá no dia 18/02, às 12h em frente à FUVEST. O ato, convocado a princípio pelo Centro Acadêmico do curso de Letras e encampado por outros centros acadêmicos, pelo Núcleo de Consciência Negra e por membros da Ocupação Preta, se dirigirá às portas dessa representante do elitismo e do racismo institucionais.
Apenas neste ano, 142.721 pessoas se inscreveram no vestibular e destas apenas 10.588 estão sendo convocadas. Enquanto a grande maioria dos que entram são brancos e puderam passar por uma preparação educacional de qualidade, a esmagadora maioria dos que ficam de fora – prestando ou não o vestibular – são as negras e negros que, inclusive mas não apenas por sua condição de classe trabalhadora, seguem tendo como única opção ocupar vagas nas universidades privadas.

Como resposta ao movimento que exigiu cotas durante o ano passado, a reitoria da USP implementou o SISU, um método de ingresso que seleciona estudantes advindos de escolas públicas que prestaram o ENEM. Para poder ter acesso a lista de convocados, o estudante deveria pontuar no mínimo 60% da prova, fazendo com que parte dos convocados tenham sido alguns dos primeiros classificados na lista geral da FUVEST.

O PT e as cotas: uma disputa de hegemonia na luta contra o racismo

O PT foi o primeiro governo a obrigar as universidades federais a implementar as cotas para negros no sistema de ingresso. Essa lei, aprovada em 2012, garante 50% das vagas nas universidades federais para alunos advindos de escolas públicas, dentre as quais, a proporção de negrxs do estado é aplicada como porcentagem para distribuição de vagas.

Apesar de ter feito com que uma série de universidades tenham se tornado mais negras, a política de cotas não prevê a ampliação da permanência estudantil, fazendo com que a evasão escolar seja imensa, consequência da competição entre estudo e trabalho, ou da dificuldade que mulheres negras enfrentam, por exemplo, para seguir o curso apesar da maternidade.

A demagogia do governo PT se revela por várias facetas. A primeira delas é visível após uma rápida análise da quantidade do PIB que é destinada à educação.
Enquanto 45,11% são destinados aos empresários através do pagamento da dívida interna, a educação recebe apenas 3,73%, um pouco menos que a saúde com 3,98%. Dentre os premiados com 45,11% do PIB estão grandes capitalistas como Odebrescht, Camargo Corrêa, Vale, entre outras, importantes mantenedoras do trabalho precário negro, da semiescravidão e dos milhares de negros mortos em acidentes de trabalho.

A demagogia se torna mais profunda quando vemos que por trás de seu discurso de combate ao racismo está a manutenção da brutal repressão ao povo haitiano, que segue lidando com a violenta realidade da ocupação militar orquestrada entre EUA e Brasil e protagonizada pela Minustah, as tropas brasileiras do Haiti.

Há tempos que o PT cumpre, assim como outros partidos burgueses como o PSDB, o DEM, o PMDB, o papel de gerente de negócios da burguesia, porta-voz do capitalismo nacional e internacional. Como fiel representante dos capitalistas, o PT precisa ter como cara de seu governo a tentativa de hegemonizar a luta contra o racismo tentando calar os negros com algumas conquistas enquanto segura o chicote com a outra mão. Faz isso porque sente medo que os negros percebam, como já o fizeram antes no Brasil, no Haiti, como fazem hoje na África do Sul, como já fizeram nos EUA, que a luta contra o racismo é uma luta contra o elitismo, a meritocracia, lado a lado com os trabalhadores, também contra o capitalismo.

Nessa disputa de hegemonia, cabe aos negros e aos brancos que sofrem juntos das mazelas do capital, se aliar para conquistar cada demanda a qual temos direito, seja as cotas, seja o fim do vestibular ou a estatização da universidade privada. A juventude tem direito ao futuro. Ela sabe disso e mais do que nunca está disposta a tomá-lo nas suas mãos.

Cotas já!




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