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RETORNO INSEGURO | Ocultação de casos de contaminação por COVID-19 e assédio em Diretorias de Ensino de Guarulhos

Por orientação de dirigentes da rede estadual de ensino de duas Diretorias, Guarulhos Norte e Guarulhos Sul, casos de contaminação por COVID-19 dentre membros da comunidade escolar não estão sendo comunicados aos trabalhadores da educação e nem às famílias dos alunos. O objetivo é manter as escolas abertas a qualquer custo; no caso, a custo das vidas de educadores, alunos e familiares.

terça-feira 16 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Foto: Divulgação/Secretaria da Educação

M., professora da região de quem recebemos a denúncia e que pediu para não ser identificada por medo de represálias do governo (“Para que eu possa ter mais segurança dentro da escola e continuar na luta, eu prefiro não aparecer no momento, a gestão é autoritária”), expõe também o caso específico de sua escola. Uma das professoras foi contaminada e os colegas só ficaram sabendo pela própria professora. E a escola não fechou. Ela relata:

“A gente vem percebendo que as direções [das escolas] estão escondendo os casos. Se você teve contato com alguém que teve sintomas, você não fica sabendo. E isso a mando das dirigentes, tanto da DE Guarulhos Norte quanto da DE Guarulhos Sul. Isso vem há um tempo se consolidando, este poder dessas dirigentes, que são capangas do Rossieli, estão cada vez mais dominando a situação pra esconderem números de infectados. Na escola que eu trabalho teve um caso de COVID confirmado e a escola não fechou nenhum dia e essa é a situação de outras escolas da cidade. É muito preocupante.”

Ela ainda demonstra a preocupação com a determinação do governo de abrir as escolas – que ocorre em meio à segunda onda de contaminação do coronavírus, à maior média de mortes por dia desde o início da pandemia e ao aumento de casos registrados de ocorrência da cepa variante mais contagiosa e mais perigosa:

“Na minha escola só há 2 funcionárias de limpeza para 18 salas de manhã, 18 à tarde e 13 à noite. Vários professores estão afastados e quem está na escola [trabalhando presencialmente] está se virando. Os protocolos estão sendo seguidos da maneira como eles [a gestão] acham que tem que ser. Tudo para forjar uma situação de naturalidade.”

Os desmandos das Diretorias de Ensino não param por aí. Além de exporem trabalhadores, crianças e adolescentes ao risco de contaminação, também estão assediando quem, amparado pela lei, orientou trabalho remoto. Em áudio enviado por Whatsapp, Vera Curriel, uma das dirigentes, assedia um diretor de escola por ter cumprido a liminar expedida em 28 de janeiro de 2021 pela juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti contra a reabertura das escolas. Pela manhã do dia seguinte à determinação judicial, ocorreria presencialmente uma reunião de planejamento e tal liminar impedia já está realização presencial, visto que tinha caráter de aplicação imediato. A liminar foi derrubada somente no fim da tarde do dia 30 de janeiro. A dirigente diz:

“E., bom dia. Eu estou preocupada porque todas as escolas estão [trabalhando] presencialmente. Não era pra fazer online, tá? Não podia, não é opção, é determinação do secretário [de Educação]. Entendeu? A liminar, o governador não recebeu ainda. Eu fico preocupada, tá? A gente não pode fazer as coisas assim a revelia. Você tinha que ter conversado com seu supervisor antes.”

A justificativa do secretário Rossieli Soares para descumprir a determinação judicial foi de que não havia recebido oficialmente a liminar. O que é claramente uma desculpa pífia para seguir em sua sana de abrir as escolas a qualquer custo em benefício dos empresários da educação, visto que na mesma noite a secretaria emitiu comunicado oficial mantendo as atividades presenciais em face da liminar aprovada; ou seja, esta era de total conhecimento do secretário e do governo Doria.
A professora que fez a denúncia expôs a reflexão e os sentimentos da maioria dos professores que estão sendo obrigados a retornar presencialmente às escolas sem condições sanitárias seguras:

“Estamos passando por tanta coisa... um cansaço mental de a gente estar se expondo todos os dias... e a preocupação que carregamos. Tudo isso gera uma grande aflição. Não existe uma aula coerente, não tem nenhum tipo de continuidade daquele trabalho que a gente fazia antes da pandemia. Então por que estamos presencial[mente] lá na escola? Qual é o motivo da gente estar na escola se arriscando sendo que a escola não está funcionando de fato? É só uma maquiagem.”

Reiteramos a pergunta: qual é o motivo? Para nós, não há motivos que justifiquem essa enorme exposição de milhões de pessoas à contaminação pelo coronavírus, só alimentando ainda mais pandemia. E são os professores os que mais se preocupam com a vida escolar e o desenvolvimento pedagógico dos alunos, e por isso mesmo vêm desde o ano passado denunciando e exigindo condições seguras e vacina para um retorno seguro o mais rápido possível. Mas o governo Doria com seu secretario Rossieli durante o ano todo não moveram uma palha; somente se empenharam em desenvolver um aplicativo de aulas para vender educação à distância (EaD), como era há muito tempo o objetivo desse setor da burguesia. Um aplicativo que em pouco ou nada tem contribuído para o ensino das crianças e adolescentes. O motivo então de abrir as escolas, para eles, é garantir tal mercado da EaD e responder às demandas dos empresários da educação que estavam perdendo milhões de reais com o fechamento das escolas. Esse é o único motivo. E esses governantes têm seus capangas para garantir o cumprimento de sua política, inclusive recorrendo a ameaças e perseguição se necessário. A professora conclui e nós concordamos:

“A Apeoesp está pegando muito leve com essas dirigentes. Elas estão fazendo o que elas querem. Se não denunciarmos e não expormos o que está ocorrendo, a situação vai ficar muito problemática.”

Por isso também se faz necessário que nos organizemos para exigir do governo condições sanitárias seguras, para impedir os desmandos autoritários do governo e também para que o nosso sindicato, a Apeoesp, esteja de fato a serviço de organizar esta luta.




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