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POLÊMICA | O ’terceiro campo’ de Luciana Genro encabeçado por Marina Silva

Nesta semana se aprofundou um importante debate na esquerda e em especial entre dirigentes e militantes do PSOL. Isso porque a principal figura do partido, Luciana Genro da corrente Movimento de Esquerda Socialista (MES) deu entrevista à Folha de São Paulo defendendo as eleições gerais.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quinta-feira 31 de março de 2016 | Edição do dia

O MES já havia soltado nota de sua Executiva Nacional apoiando a política defendida por parlamentares da REDE de Marina Silva que buscam a cassação da chapa Dilma-Temer via TSE para se convocar eleições presidenciais. Mas o que chamou atenção foi que em meio a todo este debate Luciana, que já havia chamado todos a se tranquilizarem declarando que "não vai haver nenhum golpe, vai haver apenas impeachment", agora tranquiliza todos: "E não venham com o espantalho do Bolsonaro para dizer que não se pode ter eleições. É Marina quem lidera as pesquisas. E nós vamos à luta".

Essa posição tem toda sua coerência quando vemos Luciana Genro dizendo que Sérgio Moro, apesar de "excessos" está levando adiante um momento histórico no Brasil na luta contra a corrupção. Como se existisse alguma luta contra a corrupção, elemento inerente do sistema capitalista, por fora de uma luta contra todo este sistema. Para Luciana todos os partidos querem abafar a Lava-Jato.

Luciana Genro só "esquece" o fato mais do que evidente que a própria Lava Jato e o Poder Judiciário no Brasil podem ser considerados como um "partido político" apoiado pelo imperialismo, que tem como objetivo implementar ataques ainda maiores que os já praticados pelo PT.

Então vejamos o que seria esse suposto "terceiro campo". Luciana Genro considera que para não ser linha auxiliar do PT ela necessita se diferenciar de todos os setores que falam abertamente contra o impeachment, e a forma de se diferenciar neste caso é diretamente não ser contra o impeachment. Então ela nunca fala que é contra o impeachment, apenas quando alguém pergunta muito aí respondem "Claro, sou contra o impeachment que quer colocar Temer". Será que se fosse a Marina Silva a entrar ela apoiaria?

O medo que Luciana Genro tem de aparecer como linha auxiliar do PT curiosamente não é o mesmo medo que ela tem de aparecer como linha auxiliar da direita e do próprio impeachment. É isso que lhe permite bradar aos quatros ventos, seguida da agrupação Juntos!, a necessidade de eleições gerais, como se isso não fosse neste momento mais uma forma de buscar através das próprias instituições do regime, como o Tribunal Superior Eleitoral, impor um golpe institucional contra um governo que teve o voto de milhões de pessoas. Segundo Luciana Genro isso seria a "real democracia".

A verdade é que não há nada de terceiro campo nesta posição de Luciana Genro. Ela quer fazer parecer que é a forma do povo decidir, mas sua linha política não tem nenhuma relação com construir uma mobilização independente dos trabalhadores e da juventude que neste momento passaria por se posicionar firmemente contra o impeachment, as manobras jurídicas e os ataques e ajustes do governo do PT. Na verdade, o que há por trás dessa posição de Luciana Genro é puro eleitoralismo. Quer capitalizar o sentimento de rechaço ao governo mesmo que venha da direita, nas supostamente "contraditórias" marchas do dia 13 de março, que como todos sabem era composta por setores reacionários da classe média brasileira.

É também por isso, que no fim das contas, assim "sem declarar oficialmente", Luciana Genro já deixa ali apontado em sua última nota que com eleições gerais quem entrará será Marina Silva, e que isso não tem problema nenhuma. "Vamos a luta", termina a nota. Tratando Marina Silva como talvez um "mal menor", figura esta de um partido também burguês como a REDE que nas últimas eleições já mostrou apoio ao PSDB de Aécio Neves, Luciana Genro mostra que seu terceiro campo não tem nada de independente e muito menos de luta de classes.

É o campo da lava-jato, da REDE de Marina Silva e de todos que não se colocam contrários ao impeachment mas a favor do golpismo institucional por outras vias, ou seja, é um campo de classe reacionário.

Não é possível hoje ter uma posição de independência de classe e sequer lutar seriamente contra os ataques e ajustes do governo Dilma, que quer buscar na figura de Lula uma nova estabilidade pra aplicar mais ajustes, sem partir de rechaçar o impeachment. Da nossa parte, a partir das discussões que fizemos na Conferência Nacional do MRT na última semana, é necessário levar para as assembléias de estudantes e trabalhadores a exigência de um plano de luta contra o impeachment, as manobras jurídicas e os ataques e ajustes do governo do PT. Devemos exigir que as centrais sindicais rompam sua subordinação ao governo e organizem esse plano de luta já. Como parte desta luta concreta, debater com os trabalhadores a necessidade de impor uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana que coloque nas nossas mãos as respostas para esta situação, coisa que nem o governo, nem os partidos burgueses e muito menos a Lava-Jato poderão fazer. Este é o caminho pra construir um terceiro campo de independência de classe que contribua na luta por um governo dos trabalhadores e do povo pobre.

ps: Independente das diferenças políticas, rechaçamos as ameaças contra Luciana Genro por parte do blogueiro Breno Altman.




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