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ELEIÇÕES RIO | O que representa a chapa de Renata Souza e Ibis Pereira do PSOL para a esquerda carioca?

Os índices historicamente baixos do PSOL carioca nas pesquisas e o conteúdo da chapa Renata Souza/Ibis Pereira, exige uma ampla reflexão para tirar conclusões que permitam fortalecer a construção de uma verdadeira alternativa que supere pela esquerda o PT, que deveria ser anticapitalista, o que o PSOL vem se negando.

Carolina CacauProfessora da Rede Estadual no RJ e do Nossa Classe

quinta-feira 5 de novembro de 2020 | Edição do dia

Imagem: Extra

O Esquerda Diário publicou uma série de artigos sobre as eleições municipais cariocas onde desenvolvemos nossa posição sobre os diversos candidatos, o que aqui não detalharemos e podem ser conhecidas em outros artigos. Somos parte dos que querem combater Crivella, a extrema direita e o Bolsonarismo, mas também em primeiro plano Eduardo Paes, que está rastejando pelo apoio de Bolsonaro, é um típico representante do regime golpista e seus ataques e já chegou a apoiar milícias explicitamente.

Para combater esses inimigos dos trabalhadores e do povo pobre, a Delegada Martha Rocha do PDT passa longe de ser uma alternativa, como desenvolvemos aqui. Sobre ela, nos limitaremos nesse artigo a pontuar que é possível ver como não pode ser uma opção em seu orgulho de ser polícia, o logotipo de xerife na campanha, o lema de “chama a delegada”, e considerar que foi fiel apoiadora da intervenção federal no RJ, além de que faz parte de um partido burguês e que aplica ataques onde governa e teve diversos parlamentares favoráveis à reforma da previdência.

Também é preciso não enganar-se novamente apostando no PT de Benedita da Silva, pelos motivos que aqui detalhamos. Como partido no Rio, o PT fez parte de governos ou foi apoiador no Rio de grupos políticos de ninguém menos que Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Pezão, Garotinho e do próprio Eduardo Paes. Até mesmo Crivella já foi apoiado em 2014 por petistas como Lindbergh Farias e outros. Votar no PT seria repetir a aposta na estratégia da conciliação com os capitalistas e golpistas, que abriu espaço para o golpe institucional e agora quer se postula para administrar novamente o regime golpista.

Nesse sentido, queremos neste artigo, dialogar como MRT com todos os que tem como referência o PSOL carioca sobre o que representa a candidatura de Renata Souza/Ibis Pereira, desde o ponto de vista dos que batalham para construir uma alternativa política que supere o PT pela esquerda e que nessas eleições coloca como tarefa essencial o enfrentamento com o regime golpista, através da Bancada Revolucionária em São Paulo, Flavia Valle em Contagem e Val Muller em Porto Alegre, do Esquerda Diário em todo o país.

Militarizar a política e valorizar a polícia vai na contramão da luta negra

A indicação de um Coronel da PM como vice, repetindo a linha da direita (e do PT, como com Major Denice em Salvador, por exemplo) de militarização da política, foi o ápice de uma linha que o PSOL carioca vem adotando cada vez mais longe de responder o problema da violência urbana pela esquerda. Ao invés de apresentar um programa anticapitalista para garantir saúde, educação, moradia, etc, buscam se apresentar como quem pode gerir o estado burguês e promover a utopia reacionária de uma “humanização” da polícia. De acordo com essa concepção, a candidatura do PSOL apresenta a proposta de “ampliação do efetivo e valorização da Guarda Municipal” e também defende “direitos humanos” para os policiais.

Trata-se de mais um gesto forte que o PSOL quer fazer para os atores do regime e o eleitorado conservador de que não é um “partido radical” e que está apto como alternativa para a burguesia, para a Globo e outros atores do regime político para governar o Rio e as barbáries que o povo pobre sofre especialmente neste estado.

A indicação de Ibis Pereira como vice fator decisivo para que retirássemos nossa candidatura à vereadora pelo MRT no Rio de Janeiro, com os fundamentos que explicamos neste vídeo, e depois desenvolvemos nesta entrevista com Luiz Carlos Azenha do site Viomundo.

Com essa política, o PSOL se coloca na contramão do levante negro que vem se expressando no mundo, desde o assassinato de George Floyd em especial. Se coloca na contramão do enfrentamento com a polícia e a justiça racista que necessitam as mães de tantos jovens assassinados pela polícia no Rio. A única forma de enfrentar o racismo estrutural no Brasil é se enfrentando com o racismo e autoritarismo da instituição policial, com a força das ruas como se fez nos EUA, e enfrentando o conjunto desse regime político, que desde o golpe institucional está ainda mais reacionário e tem nas forças policiais agentes fundamentais da opressão.

PSOL renuncia a tarefa de enfrentar o regime golpista, prefere administrá-lo

O PSOL deveria estar aproveitando as eleições para através de seus candidatos, parlamentares, e das entidades e movimentos sociais que influencia, chamar todos os setores que querem combater o regime golpista e seus ataques, a que se unam para construir uma grande mobilização e pressionar as grandes centrais e direções do movimento de massas a convocarem um plano de luta sério contra os ataques e o regime golpista.

Mas isso passa longe do que apresentam Renata Souza e Ibis Pereira, que se apresentam como possíveis "gestores responsáveis" da prefeitura e se negam a fazer qualquer chamado a qualquer tipo de luta nas ruas ou mobilização. Ao contrário, Renata Souza declara que faria um "diálogo republicano" com Bolsonaro! Nada mais emblemático da adaptação ao sistema político burguês, mesmo quando sua face é a de uma extrema direita, que Renata Souza e tantos do PSOL denunciam como "fascista".

Isso já é um problema grave para qualquer cidade do país, mas é pior ainda na cidade que está sendo cada vez mais controlada pelas milícias (que foram ao menos executores da Marielle) em parceria com o tráfico e com múltiplos vínculos com os políticos que controlam o estado, inclusive da própria família Bolsonaro. Rechaçamos qualquer tipo de “diálogo republicano” com polícia, milicianos, a extrema direita e os capitalistas, esses só entendem a linguagem do enfrentamento na luta de classes.

Frente ao problema da corrupção, o PSOL carioca também segue apresentando como alternativa apostar no mecanismo autoritário do impeachment e as CPIs, sempre alimentando ilusões de que os problemas podem ser resolvidos por dentro das instituições degradadas, seja pelos parlamentos ou o judiciário golpistas.

A falta de uma perspectiva anticapitalista

A chapa do PSOL nas eleições municipais do Rio se nega a apresentar propostas que apontem num sentido anticapitalista, em sintonia com as posições que Guilherme Boulos expressou na sua reunião com a burguesia paulista da Associação Comercial de São Paulo.

Renata Souza fala contra "as máfias", mas trata como se fosse algo de substituir os gestores por pessoas que não sejam corruptas, não defende estatização dos transportes, nem denuncia a privatização do petróleo (como destacamos nesse vídeo) que é uma das fontes de riqueza principais do Rio e sequer questiona a Lei de Responsabilidade fiscal, que estrangula o orçamento dos municípios e não permite concessões que permitam efetivamente melhorar a qualidade de vida das massas nem num sentido básico da saúde e educação.

Sem defender esse tipo de medidas, qualquer eventual governo do PSOL, faria ajustes, como foi com o Syriza, Podemos e todas as experiências neoreformistas desse tipo.

Pra onde vai o PSOL carioca? Um diálogo com os todos que tem o PSOL como referência

Os índices bem baixos que Renata Souza e Ibis Pereira mostra o fracasso de apostar em um projeto de partido eleitoralista, ao redor de Marcelo Freixo, que nunca escondeu que não era socialista e agora já expressou sua vontade de um "MDB de esquerda", uma "Frente Ampla" (pensando na sua localização para as eleições de 2022) que cabe golpistas "democráticos" ou empresários "humanos" como os banqueiros que cedem dinheiro ao PSOL.

As figuras centrais do PSOL carioca, o que Renata Souza agora repete, sempre se negaram a aproveitar a sua projeção eleitoral para construir uma alternativa à esquerda do PT, que teria que ser anticapitalista e revolucionária, que apostasse na mobilização. Sempre optou por ir se adaptando cada vez mais para supostamente buscar mais votos e agora se encontra nessa situação de fracasso eleitoral, com sua base votante retornando ao PT, ou indo para o PDT e até Eduardo Paes. Anos perdidos em construir uma base sólida militante e votante por motivos ideológicos. Marcelo Freixo já deixou claro que apoiaria até mesmo Eduardo Paes contra Crivella, o que é parte de criar uma base votante do PSOL volátil e disponível para qualquer suposto “mal menor”.

Esse programa e atuação do PSOL de conjunto se combina com um peso no discurso da representatividade dos setores oprimidos, dos negros e das mulheres. Mas Renata Souza apresenta uma defesa da representatividade sem qualquer conteúdo de classe, nem um programa que possa responder de fato as demandas da massa de negros e mulheres da classe trabalhadora e explorados, ou uma estratégia combativa de luta contra o racismo e machismo estrutural, o que só pode se dar enfrentando o regime burguês. É também por isso que sua campanha não ganhou apoio de amplos setores da juventude negra, apesar de que o PSOL desde o assassinato da Marielle veio despertando referência em setores da juventude negra, o que o PSOL não potencializa com essa política. Essa política é bem diferente do que apresentamos como Bancada Revolucionária em São Paulo e do MRT, que expressa outra concepção de luta contra as opressões.

Cabe a todos que tem o PSOL como referência, que apoiaram eleitoralmente por convicção da necessidade de construir uma alternativa que supere o PT pela esquerda, assim como seus militantes, tirar lições desse processo e dar passos no sentido de construir uma alternativa realmente socialista e revolucionária. Essa é a batalha que estamos dando como MRT e Esquerda Diário.




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