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CINEMA | O quarto de Jack, um drama em delicadeza

Contém Spoilers!

Gabriela FarrabrásSão Paulo | @gabriela_eagle

sábado 27 de fevereiro de 2016 | 00:00

Quando se escolhe narrar um drama há a possibilidade clichê e óbvia de explorar o drama e a tragédia ao seu máximo conseguindo todas as lágrimas possíveis do espectador; o risco nessa escolha é de termos um dramalhão clichê de fácil venda e grandes lucros em bilheterias. Mas o filme “O quarto de Jack” não é nada disso, a escolha feita para se tratar esse drama é a delicadeza; a escolha menos óbvia, mais difícil e correta. Antes de qualquer análise já é preciso dizer que esse é um filme belo.

A sinopse por si só já anuncia o drama que encontraremos. O filme trata da história de Joy, que vive presa em cativeiro há 7 anos com seu filho de 5 anos, Jack, fruto dos estupros cotidianos realizados pelo seu sequestrador. Não há como não ser um filme triste, mas Lenny Abrahamson conseguiu com sua direção, que esse fosse um filme delicado – e de quebra a indicação a melhor direção no Oscar.

Os jogos de câmera e fotografia são todos pensados para que a visão do filme seja a visão de Jack, um menino de 5 anos nascido em cativeiro, que tem como mundo o quarto onde vive e que acredita através das histórias da mãe, que tudo o mais para além do quarto que aparece na televisão são coisas alienígenas vindas do universo. Essa fantasia foi tudo o que sua mãe pode lhe dar para que ele tivesse a possibilidade de ser feliz nesse cativeiro. Tudo é focado de muito perto, como a curiosidade de uma criança a qual não basta ver de longe, é preciso ver de perto, tocar e sentir, se encantar e descobrir tudo o que existe. Essa delicada e bela fotografia entrou nos indicados amelhor fotografia pelo Oscar.

Brie Larson interpreta Joy e Jacob Tremblay é Jack; a dupla é fantástica em cada cena. Pela interpretação brilhante, Brie Larson aparece entre os nomes indicados a melhor atriz no Oscar. Mas é de Jacob todas as atenções convencendo o espectador de cada sentimento, cada encanto na descoberta de um novo mundo, que ele descobre apenas aos 5 anos, e todo o medo de não estar mais no quarto ao qual ele se acostumou a chamar de mundo; o encantamento e o medo de estar em um lugar muito maior, que ele nunca pode imaginar que existia onde não há mais apenas ele e sua mãe.

A história original vem do livro de mesmo nome escrito por Emma Donoghue, que também ficou encarregada do roteiro e que rendeu a escritora a indicação a melhor roteiro adaptado. Além da fotografia o roteiro também traz a visão de Jack, suas narrativas fantasiosas sobre tudo o que acomtece a sua volta, a delicadeza de narrar o cativeiro onde vive como lar, e a beleza em a tentativa de suicídio da propria mãe como a pressa dela em fugir são responsáveis por embaçar a visão do especatador com lágrimas.

Cada cena vale esse filme, desde as imagens desfocadas de cada objeto do quarto de Jack até as cenas duras de confronto de Joy com seu pai, que não consegue aceitar seu neto, fruto de sua filha com o sequestrador dela e a entrevista com a mídia burguesa, que explora a dor de Joy a expondo.

“O quarto de Jack” é um filme belo, uma grata surpresa entre os indicados ao Oscar e os blockbusters que atolam as salas de cinema.


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Cinema    Cultura



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