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BETIM (MG) | O prefeito mais rico do país, Vittorio Medioli, oferecerá uma solução efetiva para os betinenses?

Esse ano os milionários “prefeitos-gestores-não-políticos” assumiram as prefeituras. Dentre eles, Vittorio Medioli, o prefeito mais rico do país, assume seu cargo em Betim e agora detém não só toda a mídia influente da cidade e parte das empresas que empregam (mas exploram) os betinenses, mas também passa a, através do sistema representativo, tomar as decisões políticas pelos betinenses.

MaréProfessora designada na rede estadual de MG

segunda-feira 16 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Nas últimas eleições, partidos como o PHS adotaram para seus candidatos às prefeituras a máscara de gestores, não políticos. A tática deu certo em várias cidades incluindo Betim: o povo elegeu um gestor milionário aparentemente na esperança de que Betim possa prosperar, sem desvio de verbas e com a possibilidade de aumento nas vagas de emprego.

A população já se encontrava órfã de representação política seja com Carlaile Pedrosa do PSDB, ou com os governos do PT e do PCdoB (que apoiou Medioli durante a campanha), que se pintaram de vermelho e ficaram conhecidos como a esquerda de Betim, mas que, na prática usam de conciliação com os capitalistas para garantir os privilégios dos mais ricos e dos políticos enquanto os ataques à população continuam passando sem real organização da juventude e dos trabalhadores para lutar pelos próprios direitos. Vale lembrar que, por melhores gestores que possam ser Medioli, Alexandre Kalil (PHS) em BH ou João Doria (PSDB) em SP, uma cidade está longe de ser uma empresa: os trabalhadores precisam de muito mais que o transporte de casa para os locais de trabalho, um salário mínimo e um cartão para alimentação.

Italiano, filósofo neoliberal, empreendedor, capitalista!

Vittorio Medioli nasceu na aristocracia de Parma, na Itália, em 1951. Estudou Direito na Universidade de Parma e Filosofia na Universidade de Milão. Aos 25 anos mudou-se para o Brasil no intuito de empreender no setor de transportes, fornecendo as cegonheiras para a multinacional italiana FIAT, e fundou a SADA Transportes. Naturalizou-se brasileiro aos 30 anos, casou-se com a atual presidente da editora responsável por publicar os jornais de Medioli “O Tempo” e “Super Notícia”, jornais, inclusive, que foram criados quando a mídia de Betim o atacava por seus negócios com a FIAT.

Medioli é presidente do grupo SADA, dono de toda a mídia influente de Betim, dentre outras posses. Como editor chefe d’ O Tempo, escreve artigos de opinião dentre outros “textos filosóficos” que deixam bem clara a posição neoliberalista do prefeito. Em um de seus escritos chegou a usar o termo “abominável máquina do Estado”, máquina essa na qual ele se debruçou por quatro mandatos como deputado federal pelo PSDB. O “gestor” é também presidente de seu partido, o Partido Humanista da Solidariedade. Em 2015 foi condenado a 5 anos e 5 meses de prisão por evasão de divisas, mas, segundo a defesa do milionário, faltavam provas e o processo prescreveu, e agora assume o cargo de prefeito pela primeira vez.

E como todo bom capitalista, Medioli, cujo patrimônio declarado ao TSE é maior que 350 milhões de reais, não se esquece da filantropia: é fundador da Fundação Medioli, e já assume a prefeitura abdicando do salário de prefeito, depois de ter sido o candidato à prefeitura de Betim que mais investiu na própria campanha, e seguindo a linha de outros gestores do Brasil que agem com populismo demagógico.

A disputa pelo espaço político-ideológico para garantir que Medioli fosse eleito com mais de 60% dos votos começou aproximadamente em janeiro de 2015, quando o então prefeito, Carlaile Pedrosa, tirou uma licença médica, e ficou clara quando o jornal do milionário (O Tempo) começou a denunciar os absurdos que sempre aconteceram na cidade, tanto os conflitos internos na prefeitura entre o vice Waldir Teixeira (que deixou o próprio partido para se filiar ao partido de Medioli em setembro de 2015) e Carlaile, quanto os atrasos das obras, dando cobertura inclusive às manifestações dos artistas, e os problemas do transporte público. Já era nítido que a cidade esteve abandonada no último mandato de Carlaile, que nunca hesitou em atrasar salários dos trabalhadores, cancelar concursos públicos aumentar o preço das passagens de ônibus e das refeições no único restaurante popular (eram 6) da cidade, sucatear a o Sistema Único de Saúde através do fechamento de Centros de Saúde e da doação de um terreno para a construção de um hospital público para a Unimed, mas a jogada serviu para aprofundar o clima de calamidade que assola os betinenses, propiciando a ideia da necessidade de um herói que salvasse a cidade.

O quadro é nacional e internacional

A impopularidade do PT, que mesmo após o golpe se coligou aos golpistas para as eleições às prefeituras, também ficou evidente nas urnas por todo o país e abriu espaço para que a direita reacionária, seja com gestores ou com políticos, todos “farinha do mesmo saco”, tomassem as prefeituras para passar ainda mais rápido os ataques do governo Temer, o qual Medioli apoia veementemente. Com candidatos que ainda tentam se mascarar como representantes da esquerda no Brasil, por mais que defendam os mesmo interesses dos mais ricos e oferecendo uma saída “por cima” com o discurso das Diretas Já, sem mobilização de base, o PT não mais convence os trabalhadores que querem uma saída rápida para a situação crítica de milhares de pessoas, que é a falta de empregos. Todo esse quadro favorece, em todo o país, a ascensão de gestores como Medioli, Kalil e Doria.

A eleição de Donnald Trump nos EUA, embora em realidades diferentes, pode ser análoga: o ricaço também se elegeu sob o discurso de rechaço à classe política, mas, principalmente, usando a tática de oferecer aos trabalhadores uma resposta para um quadro preocupante. Não é apenas por ser racista, misógino, homofóbico e xenofóbico que Trump prega um discurso higienista: é também para iludir os trabalhadores de que a falta de empregos se deve aos imigrantes, assim como a direita brasileira justifica a crise como resultado de anos de “gastos” com assistencialismo popular. Lá a brincadeira deu nessa lamentável eleição, aqui, dentre outras tragédias, na criação (e aprovação antidemocrática e impopular) de uma PEC da morte contra a qual a juventude betinense também batalhou até o final.

Precisamos de uma saída por e pelos trabalhadores

O título ainda não foi respondido: Medioli poderá resolver os problemas de Betim deixados por Carlaile e pelos prefeitos anteriores? Para nós, anticapitalistas, não. Assim como a Lava Jato e Sérgio Moro não podem ser a solução para a corrupção no país. Assim como Lula não pode ser uma alternativa para salvar a classe trabalhadora em 2018. A única resposta possível para os ataques dos capitalistas deve surgir do povo, por isso, uma nova constituinte imposta por lutas e greves, com os trabalhadores mudando as regras do jogo, se mostra mais eficaz que mudar os jogadores. Não podemos confiar nos neoliberais que enxergam cada pessoa como mercadoria e lançam um olhar econômico sobre todas as coisas. Betim precisa de uma alternativa construída e executada pela base, que são os estudantes secundaristas que ocuparam as escolas da cidade, os artistas desamparados pela Funarbe, a juventude e os trabalhadores reféns das empresas nesta cidade industrial.




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