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ARTE E REVOLUÇÃO | O papel da arte na Revolução Permanente (parte 2): a arte desiquilibrando o modo de vida capitalista

A direção operária enquanto pressuposto da luta política revolucionária, reserva para os artistas um papel libertário. Um exército revolucionário das artes, para utilizar a expressão do sempre atual poeta Maiakóvski, não tem nada a ver com bater continência. A revolução socialista que explode no campo nacional, impulsiona revoluções internacionais e culmina na luta mundial, traz para a arte a missão histórica de desenvolver uma sensibilidade destruidora.

quarta-feira 29 de julho de 2015 | 00:00

Como organizar a revolução no plano da cultura? Deve-se ter em mente que a luta revolucionária deve impedir, como afirma Trotski, um estado de equilíbrio. Dentro da militância cultural, que contribui com a educação política dos trabalhadores, a arte deve promover a deseducação: é preciso romper com as estruturas mentais dominantes e as convenções que condicionam a percepção humana. Uma tempestade interior capaz de redefinir as relações humanas, capaz de arrancar o homem do seu estado de alienação, processa-se a partir da criação artística. Em coletivos ou individualmente o artista abre fogo contra a linguagem e os símbolos da cultura oficial.

Se observarmos o Brasil de hoje, a direita ganha espaço através de valores culturais que legitimam um determinado modo de vida. O racismo, a homofobia, o uso ideológico do futebol e da religião, além de todo culto realizado em torno da violência policial, estão de mãos dadas com os interesses das multinacionais. No cinema comercial é recorrente encontrarmos filmes (sejam estes norte americanos ou brasileiros) que na comédia, no gênero policial e no drama histórico, não levam ao confronto, mas ao apaziguamento mental que a partir de uma estética plastificada garante a vitória do super herói e a felicidade pequeno burguesa. É a classe dominante financiando e garantindo o equilíbrio do seu modo de vida.

A oposição cultural a este sistema orquestrado por estéticas publicitárias não está num simplório receituário marxista: não se combate uma pregação bíblica ideologicamente mal intencionada com “a pregação" do Manifesto Comunista de Marx e Engels. Para adquirir consciência política, o trabalhador (que deve conhecer os fundamentos teóricos do marxismo) precisa estar inserido num processo de agitação revolucionária em que tanto a greve quanto a arte denunciam o rosto de porcelana do capital. No caso da arte em especial, trata-se de colaborar com um novo psiquismo: a experiência estética (seja no contexto plástico, literário, teatral, musical, cinematográfico, etc) invalida pela força expressiva da imagem o equilíbrio social em torno dos costumes e da moral burguesa.

Uma profunda transformação interior processa-se no indivíduo que numa experiência de choque com a obra de arte, passa a estruturar o seu pensamento de acordo com as suas possibilidades criativas. Supera-se assim a passividade do consumidor, intrínseca ao modo de vida capitalista. É o processo cultural revolucionário que complementa-se, de acordo com a sua dinâmica específica, com a luta política revolucionária. A subversão dos signos do capital e a emergência de uma sensibilidade libertária por meio da imagem, remetem a uma série de referências artísticas revolucionárias; investigar a validade de tais referências no mundo contemporâneo passa a ser o interesse dos artistas e dos intelectuais que trabalham pelo desequilíbrio do modo de vida burguês.

“Desiquilibrar" a cultura instituída consiste num empenho que passa pela disseminação da luta revolucionária e a inserção de estratégias de comunicação nos mais variados setores sociais. No próximo artigo veremos como tais estratégias aplicam-se por exemplo no movimento estudantil brasileiro.




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