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O MAIO DE 1968 NA FRANÇA | O maio francês: quando estudantes e trabalhadores desafiaram o poder

A imaginação no poder! Tomemos o céu por assalto! Sejamos realistas, exijamos o impossível! Com estas consignas recorda-se comumente o maio francês de 1968.

sexta-feira 13 de maio de 2016 | Edição do dia

Ainda que não tenham sido esses os únicos slogans dessa façanha, foram utilizados pela burguesia e seus meios para mostra que foi uma ‘revolta estudantil e utópica’. Porém, os acontecimentos desmentem esta interpretação.

O imperialismo e seus servos, ocultam que foi um movimento onde os estudantes e trabalhadores tendiam a confluir na luta contra um sistema capitalista que chegava ao fim de sua recuperação, depois do boom econômico que se produziu logo depois da Segunda Guerra Mundial. Este fim levou o presidente De Gaulle, em 1967, a decretar a reforma da Segurança social dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, um plano que dificultava a grandes setores o acesso a universidade. Também regulamentos internos nos colégios secundaristas que impediam a atividade política. Ou seja, uma ofensiva em toda linha contra os trabalhadores e o povo. Apenas anunciada, começou a resistência em setores de trabalhadores, estudantes universitários e secundaristas. Tudo isso combinado à repressão feroz do imperialismo francês contra a guerra de independência da Argélia e a perda de posições na Indochina/Vietnam, onde teve que se submeter ao imperialismo yanke para derrotar a guerra de liberação.

O partido que possuía maior influência entre os trabalhadores era o Partido Comunista Francês (PCF), através de sua central sindical, a CGT. O Partido Socialista também tinha influência, mas principalmente eleitoral. No movimento estudantil também o PC tinha influência e ainda ahaviam outros grupos chamados de “extrema esquerda” (como a antiga LCR).

A FAÍSCA QUE INCENDIOU A CIDADE

A repressão da mobilização de 22 de março a uma mobilização estudantil a favor do Vietnam e a detenção de alguns estudantes, foi a “faísca que incendiou a cidade”. Os estudantes ocuparam a Universidade de Nanterre (próximo a Paris) para libertar os detentos. Ao fim de abril, é preso um de seus principais dirigentes, Daniel Cohn-Bendit. A Universidade de Sorbonne (mais importante da França) se mobiliza em solidariedade com Nanterre. O PCF acusa os manifestantes de “grupinhos ultra-esquerdistas”. A Sorbonne é fechada pelo governo. Os estudantes chamam a greve geral universitária pela liberdade dos presos e pela retirada da polícia do Bairro Latino (que cercava a Sorbonne).

Começa a organização estudantil, os combates de rua e as barricadas, que vão chegar ao ponto culminante em 10 de maio. Nesse dia as barricadas chegam a 60 e passaram para a história como “A noite das barricadas”. Nesta noite juntaram-se aos estudantes centenas de jovens trabalhadores que se sentiam identificados com as reivindicações e que haviam sido abandonados pelo PCF. Com a ajuda dos vizinhos do Bairro Latino, os jovens estudantes e trabalhadores impediram a entrada da polícia.

As centrais sindicais se viram obrigadas a chamar uma greve geral para 13 de maio. Ali se consolida a unidade entre estudantes e trabalhadores. A greve será a maior da França: 10 milhões de trabalhadores e mais de mil estudantes se manifestaram em Paris e dezenas de cidades contra De Gaulle e sua política.

Entre os trabalhadores se estenderam rapidamente as ocupações de fábricas, muitas com seqüestros de patrões e empresários de menor escalão. Os jornalistas se organizaram para chegar às mentirosas informações “oficiais”. Paralisaram-se os transportes, os estaleiros, o gás, a eletricidade. A CGT discute como participar de um movimento obreiro que está transbordando suas ações e consignas e, por sua vez, como separa o movimento estudantil dos trabalhadores, organizando seus militantes para impedir a solidariedade entre os dois setores.

De Gaulle regressa do exterior para “colocar ordem” e chama um referendo sobre a reforma social e universitária. Mas “a ordem” não chegava. Seguiam as manifestações, enfrentamentos com a polícia, greves de estudantes e trabalhadores assim com as tendências a unificarem-se apesar de suas direções. No 24 de maio, uma nova “noite de barricadas” termina com um morto e 500 feridos.
Em Nantes, se somam também os campesinos, que invadem a cidade sob o lema “Não ao regime capitalista, sim à revolução completa da cidade”.

COMO SE “PACIFICOU” O MAIO FRANCÊS

Para dividir o movimento, as centrais sindicais (CGT, CFDT, FO, etc.) concordam com o governo e os empresários para firmar os “acordos de Grenelle”. Estes acordos se consolidam em 27 de maio e estabelecem um aumento salarial, a redução da jornada de trabalho e outras concessões. Mas os trabalhadores da fábrica Renault e Citroën os rechaçam vaiando em assembléia os burocratas do acordo. De Gaulle se prepara para uma possível intervenção militar, apoiando-se em manifestações de direita que diziam “Não ao comunismo”. Dissolve o parlamento, suspende o referendo e adianta as eleições legislativas.
Em junho, ainda seguem as barricadas, os acordos da burocracia permitem que em muitas fábricas se levantem as greves, deixando ilhada a vanguarda que se opunha a eles. Começa uma feroz repressão policial, que cobra a vida de um jovem estudante solidário com os trabalhadores. Na Pegeot também é assassinado um jovem trabalhador. A Sorbonne é desocupada. De Gaulle triunfa nas eleições legislativas. As greves de vanguarda se estenderam até maio de 1969. Embora De Gaulle perca um referendo nesse ano e renuncie, se realizam eleições presidenciais em junho onde ganha o anterior ministro de De Gaulle, Georges Pompidou.

REPERCUSSÕES NO MUNDO

Apesar desta derrota-golpe, o Maio Francês abrirá caminhos para uma época de ascensos obreiros-estudantis, como a A Primavera de Praga (derrotada pelos tanques estalinistas russos), os estudantes no México (massacrados na Praça Tlatelolco) ou o Cordobazo na Argentina. Esse processo terá seu momento culminante com a derrota yanke no Vietnam, a revolução em Portugal e o ascenso polaco em 1981. Mas, como explicamos em artigo sobre a revolução portuguesa, o imperialismo, ajudado pelos Partidos Socialistas e Comunistas e a igreja, logrará com “transições à democracia” derrotar as lutas obreiras nos países imperialistas, deixando isolada a revolução nas semi-colônias para abrir caminho a três décadas de neoliberalismo capitalista.

Tradução: Anita Anoca

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