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“O socialista que não é feminista carece de amplitude. Mas, quem é feminista e não é socialista carece de estratégia.” Louise Kneeland.

quarta-feira 7 de dezembro de 2016 | Edição do dia

As coordenações e marchas em todo o continente latino-americano pelo #Nem UmaMenos expressam um grande movimento que tem posto em centro os feminicídios, o abuso e a precariedade na qual nós mulheres vivemos. A inferioridade salarial, os limitados direitos maternais, a proibição do direito ao aborto legal, seguro e gratuito, a débil participação política e sindical, a imposição moral da Igreja, o assédio nas ruas, são algumas das muitas expressões que dificultam nosso pleno desenvolvimento.

Historicamente, nós mulheres temos lutado por igualdade entre os sexs, como foi a luta por direito ao voto e à emancipação política, como também a luta por nossas demandas e direitos específicos, como o direito à berçários e escolas infantis em nossos trabalhos ou os direitos sexuais e reprodutivos como o direito ao aborto.

O surgimento do movimento #NemUmaMenos reatualiza importantes discussões sobre como as mulheres conseguimos terminar com a opressão. Para ele, há que se diferenciar as distintas estratégias existentes nos movimento de mulheres e feminista.

Neste sentido, podemos reconhecer um feminismo reformista que aponta a solucionar os problemas da mulher com base em reformas do Estado capitalista que, como bem sabemos, não tem conseguido garantir os direitos das mulheres, pois seguimos sendo a maioria entre os pobres e as mais precarizadas nos lugares de trabalho, assim como sofremos a opressão e violência deste sistema. Os estados somente têm cooptado as demandas das mulheres e a diversidade sexual, com o objetivo de fortalecer a ideia das vítimas e do paternalismo estatal, desmerecendo o papel de transformação das mulheres trabalhadoras e pobres.

Também se reconhece ao feminismo radical, que pensa que o patriarcado só poderá ser destruído através de uma revolução cultural, pois, para este setor, é o patriarcado que sustenta o capitalismo, colocando no centro a luta de sexo contra sexo, no contexto de que são os homens que exercem a violência contra a mulher. Sob esta perspectiva se desvaloriza o caráter de classe a violência estrutural contra a mulher a serviço do sistema capitalista, levando a luta que gera ações diretas como repulsa e autodefesa, colocando o sujeito homem como inimigo e não uma estrutura que se baseia na exploração e opressão de massas e as instituições que as mantém. Tampouco tem uma estratégia para unir a explorados e oprimidos contra sistema capitalista e patriarcal.

Desde o pão e Rosas, apresentamos um feminismo socialista. Tomamos o legado do marxismo e o movimento operário na história, pois, todos os processos revolucionários tem posto em ação a força das mulheres pela transformação social, mostrando em seus feitos a importância do papel das trabalhadoras e pobres, unindo sua luta à dos trabalhadores para terminar com toda exploração e opressão. É por ele que nos firmamos na estratégia de uma revolução operária e socialista para acabar com o sistema capitalista e firmar as bases para terminar com toda opressão social.

Para conhecer um pouco mais da tradição que reivindicamos desde o Pão e Rosas, e porque pensamos que é necessário impulsionar um feminismo socialista que lute por uma revolução operária e socialista, devemos recordar os principais pilares do marxismo em torno das problemáticas que afetam as mulheres.

O Manifesto Comunista, escrito por Karl Marx e Frederich Engels em 1948, caracteriza o papel social reprodutor da mulher como produto do sistema patriarcal e seu fortalecimento no sistema capitalista, e é por ele que os comunistas colocaram a abolição da família e denunciaram o papel da igreja para manter a opressão da mulher; na Comuna de Paris em 1871 como primeiro ensaio de Governo de Trabalhadores na história, apresentou a separação entre o Estado e a Igreja, igual trabalho, igual salário e que as mulheres pudessem eleger e serem eleitas como representantes políticas, e, junto com ele, se levantam comissões de mulheres que a Primeira Internacional agitou para que as mulheres se organizem nesse processo desde os seus lugares de trabalho.

Daí vem o legado de organizar comissões de mulheres na II e III Internacional Comunista, de onde tiveram um papel protagonista dirigentes como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai, que foi a primeira embaixadora no mundo e quem encabeçou a luta das mulheres na gloriosa Revolução Russa de 1917, de onde se conquistou o direito ao voto, o direito ao aborto, ao divórcio, restaurantes e lavanderias coletivas para abolir a divisão sexual do trabalho e incentivo à participação social e política da mulher. A socialização do trabalho doméstico foi chave para avançar e libertar as mulheres da escravidão doméstica a que as condena o capitalismo e o patriarcado.

Leon Trotsky no programa de transição da IV Internacional conclui às portas da II Guerra Mundial: Abriu passagem para a mulher trabalhadora! Abriu passagem para os jovens! Os setores mais explorados por esse sistema.

Esta tradição não termina aqui, nas grandes greves nos Estados Unidos do princípio do século XX, as comissões de mulheres estiveram na linha de frente nas greves por oito horas e por melhoras salariais; as mulheres se colocaram no centro como aliadas para atingir ao sistema que gera penalizações e sofrimento para as massas, e, nas fábricas de composição feminina, como as testeis, as mulheres mostraram sua indubitável fortaleza, destacando a greve por Pão e Rosas em Lawrence.

Há alguns anos, Teresa Flores, a primeira dirigente sindical chilena, também organizou a centenas de mulheres no norte do país, impulsionando ações como as ondas apagadas para incentivar a greve entre os trabalhadores pampinos, unindo sua luta a seus companheiros de trabalho.

E assim como hoje o Pão e Rosas, impulsionado pelas organizações trotskystas de uma luta por comissões de mulheres em todos os lugares de estudo e trabalho. Na Argentina existem importantes exemplos nas empresas sob gestão operária como Zanon e Madigraf, no Chile esta prática tem seus primeiros germens na comissão de mulheres do sindicato do centro cultural GAM em Santiago e a fábrica de explosivos Orica, em Antofagasta, onde as trabalhadoras se reúnem para discutir e atuar contra o machismo junto a seus companheiros de sindicato, dando uma saída classista frente à opressão e ao machismo.

É por isso que o triunfo da vice-presidência da FECH de Bárbara Brito, no Chile, consideramos como uma ferramenta e uma tribuna para as mulheres da classe operária. Assim também destacamos a importante tribuna de Myriam Bregman, como deputada na Argentina pela FIT-PTS, desde onde se impulsiona os direitos das mulheres através da mobilização para terminar com os terríveis abortos clandestinos e os direitos das trabalhadoras.

Desde estas tribunas pretendemos fazer um chamado a constituir comissões de mulheres em todos os lugares de trabalho e estudo, que permitam às mulheres dar conta de que somos vítimas do sistema patriarcal e capitalista, e nos colocamos em pé de luta contra a opressão e exploração, desde uma perspectiva anticapitalista.

Tradução: Zuca Falcão




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