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RESPOSTA A KIM KATAGUIRI | O elo entre o ’recrutamento de traficantes’ de Kim Kataguiri e o secretário de educação de SP

Professora rebate afirmação preconceituosa de Kim Kataguiri e fala sobre a ligação entre ele e a recente fala do secretário de educação de SP

quarta-feira 13 de abril de 2016 | Edição do dia

Como professora de uma escola estadual na periferia da zona norte de São Paulo e ex-aluna de escola pública por toda a juventude, não foi com surpresa, mas com muita indignação, que assisti ao programa da TV Folha com Kim Kataguiri, colunista deste mesmo jornal, e Carina Vitral, presidente da UNE (a quem não vou entrar nos méritos, mas cuja a cara de pau merece ser tema de um outro texto em breve). Não tive surpresas pois minimamente já havia ouvido falar do jovem e reacionário colunista e sabia de todo tipo de absurdo que sai de sua cabeça, mas não pude deixar de me indignar com a afirmação de que "as escolas públicas são centros de recrutamento de traficantes".

Quem dá ou já deu aulas em escolas públicas uma vez na vida (principalmente as da periferia) sabe muito bem o universo enorme e a diversidade de histórias de vida que se pode encontrar entre os muros dessas instituições. Mas os muros e grades das escolas não fazem muito mais do que tornar mais bruto o ambiente escolar que busca disciplinar até através de sua estrutura. Por mais cadeados que tenha, a escola não está livre do mundo exterior e é através das vidas dos próprios alunos que esse mundo penetra nas escolas. Um mundo de sonhos que na periferia parecem distantes e que se contrapõe a todo instante com a realidade dura e violenta que as famílias que habitam o entorno enfrentam cotidianamente. Para essas pessoas, uma das poucas formas de se ter algum futuro diferente passa diretamente pela Educação.

Passada a indignação inicial, uma rápida reflexão ligando pontos esclarece o insulto proferido com tanta naturalidade por Kim. O líder do MBL, que se diz um defensor do liberalismo, não faz mais do que o esperado para alguém em sua posição: ataca tudo que é público, difama, precariza, destrói, para em seguida dizer que apenas a privatização deste serviço é que seria capaz de melhorar a situação. É o que vemos nas escolas públicas, mas também nas universidades públicas, hospitais, transportes e até na Petrobrás.

Imediatamente vem à mente a recente declaração de outro liberal, o atual secretário de educação de São Paulo, Renato Nalini, que disse que "educação não é um direito básico" e que a população cobra demais dos governos por coisas que "seriam muito melhores" se fossem tomadas pela iniciativa privada. Nalini escancarou ainda mais o projeto neoliberal que os governos já começam a implementar por todo o Brasil, sendo uma das metas principais dos governos tucanos.

Para quem vive tantos anos dentro de escolas, como aluna e hoje professora, fica evidente o longo processo de precarização da educação. Não se trata de um acaso ou simples incompetência dos gestores públicos, mas sim de um projeto muito bem pensado para precarizar ao máximo as estruturas das escolas, as políticas educacionais e principalmente os trabalhadores da educação, para depois, agitando a bandeira da falência da escola pública, passar a mesma para os grandes empresários e tubarões do ensino, como pouco a pouco já vai ocorrendo.

Assim, a fala de Kim Kataguiri não é a de quem está preocupado em resolver os problemas da escola pública nem mesmo de dar uma saída para o problema do tráfico, oferecendo para os jovens uma opção melhor e mais clara de acesso aos seus sonhos e uma vida digna. Sua fala, além de preconceituosa, se "esquece" de mencionar que os grandes líderes do tráfico que mata a juventude nos morros não tem seus filhos nas escolas públicas, mas sim, vestem terno e gravata, moram em mansões, são diretamente ligados com a polícia assassina e políticos corruptos e, vez ou outra, carregam seu "pó" em helicópteros particulares para depois se manifestarem de verde e amarelo lado a lado com ninguém menos que (adivinhem?) o próprio Kim!

Seja no insulto de Kim aos alunos das escolas públicas ou no discurso rebuscado do secretário Nalini, o que está por trás é a mesma coisa: a completa aversão à tudo que é de bem e uso comum e que não pode gerar lucros para empresários. Felizmente a juventude em luta exemplar conseguiu botar um freio à reorganização escolar (que seguia o curso da precarização do ensino) em SP e agora vem mostrando que continua com disposição ocupando dezenas de escolas no RJ! Mas para que a luta contra todos esses inimigos da educação possa realmente sair vitoriosa até o fim é necessário que alunos, professores e comunidade se unam em todos os estados e municípios numa luta coordenada que diga não aos ataques contra a educação!




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