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29 de março | O dia que no Rio parou garis, rodoviários e app: o que o carioca deveria refletir sobre isso?

Já havia começado a greve de garis quando veio a notícia da paralisação de rodoviários e de aplicativos desta terça. Este artigo é uma tentativa de que o duro cotidiano vivido pelo carioca não faça passar esse 29 de março como “mais um dia de caos” em meio à uma situação reacionária e desesperadora para muitos. Fazia anos que o Rio de Janeiro não respirava o “ar fresco” das lutas da classe trabalhadora, com amplo apoio popular. Paremos pra pensar no que ocorreu hoje, o que está por vir e o que fazer. É o Rio se conectando com uma onda de lutas pelo país.

quarta-feira 30 de março de 2022 | Edição do dia

Garagem da Viação Redentor nesta terça — Foto: Reprodução/TV Globo

O “debochado” e arrogante Eduardo Paes hoje não conseguia deixar de expressar seu medo nas primeiras horas do dia ao vivo na Rede Globo. Mostrava novamente seu caráter reacionário chamando os garis em greve, em sua maioria negros e negras, de uma minoria de “baderneiros”. Mas não escondia seu desespero. Sequer se atreveu a atacar a paralisação dos rodoviários como uma mera paralisação patronal, como sempre faz. Ele sabe que por mais que sempre há interesses mafiosos da patronal dos transportes (alguns deles seus amigos) tentando desviar a legítima demanda e luta dos rodoviários, a paralisação expressou a insatisfação dos trabalhadores realmente.

Os repórteres perguntavam se ia ter demissão. Ele, que é um carrasco que demitiu 300 garis na histórica greve de 2014, tinha medo de dizer simplesmente que sim. É que ele já sentiu na pele que os trabalhadores em luta são capazes de reverter demissões, como fizeram os garis em 2014, e vencer. E nesta manhã, os garis estavam nada menos que junto aos rodoviários “parando tudo”. E poucas horas mais tarde eles teriam os trabalhadores de aplicativo também se manifestando em diversos pontos da cidade contra os baixos valores pagos por essas malditas empresas.

Paralisação de motoristas de APPs

Apesar da repressão dos governos e patronais, apesar do esforço das direções sindicais e políticas que separam as lutas de cada categoria, os trabalhadores estão levantando a cabeça contra o aumento absurdo do custo de vida e começando a impor às suas direções que paralisem. E mesmo que as direções não queiram, estas paralisações confluíram num mesmo dia. E fizeram voltar a surgir, ainda que por hora em setores minoritários, a pergunta: “É greve geral?”

Terminal de ônibus vazio

O medo de Eduardo Paes era também porque em todos os últimos dias ele preparou um plano de contingência com todas as ilegalidades possíveis contra o direito de greve dos garis, com escolta armada, contratação de precarizados e prisão de ativistas. Mais uma vez o judiciário, que tem juízes privilegiados eleitos por ninguém e que ganham fortunas, atuando contra os trabalhadores. Mas não adiantou, já nas primeiras horas da greve era possível ver lixo acumulado em vários pontos da cidade, ainda que na Zona Sul sempre os esforços do governo se concentram para não incomodar as elites e a classe média alta.

Rua da Relação cheia de lixo, no Centro. Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Eduardo Paes tem medo porque sabe que é impossível cobrir efetivamente o trabalho das dezenas de milhares de trabalhadores super-explorados, que carregam esse serviço estratégico nos ombros, debaixo de sol, chuva e tiros.

O medo de Paes era também porque sabia que a população estava apoiando. Nem a famigerada Rede Globo “amiga do Dudu” conseguiu esconder, filmar ao vivo ia contra seus objetivos. Foram dezenas de entrevistas tentando depoimentos contra a greve, sem sucesso. Em Santa Cruz apareceu nas imagens passageiros em apoio. Um dizia que a imprensa só ia filmar o caos no dia de greve, mas que aquele caos do transporte era cotidiano. Outro gritava do ônibus pro Eduardo Paes dar o aumento. Viralizou a trabalhadora precária reclamando da sua chefe, a Dona Rosângela, que ’mandou dar um jeito de chegar’: ’Que jeito? De avião, só pode’.

Não arrancaram uma palavra dos trabalhadores contra os rodoviários, mesmo espremidos nos poucos ônibus que circulavam ou passando horas tentando chegar no trabalho. É que os trabalhadores que paralisaram tem demandas que são as sentidas por todo trabalhador carioca, que não tem salários que alcançam chegar no fim do mês.

A Globo mesclava as imagens do “caos operário” e do desespero de Eduardo Paes com a cobertura “alegre” do carnaval que vem aí, mas nada conseguia ocultar a tensão do dia, que só começou a baixar quando a pressão contra os rodoviários da maldita “justiça” com suas medidas anti-sindicais ilegais fez a categoria suspender a greve.

Superlotação nos poucos ônibus que circularam

A direção mafiosa do sindicato dos garis, que só está fazendo greve pela enorme pressão da base da categoria, rapidamente se aproveitou da paralisação dos rodoviários pra tentar impedir o primeiro ato da greve dos garis, que era às 14hs na prefeitura. Já estavam tentando negociar com a prefeitura e a justiça burguesa, a antecipação da audiência de negociação que seria somente na quinta, e que por fim foi adiantada para quarta-feira. Sindicato, COMLURB e prefeitura com medo da greve. Mesmo com o sindicato cancelando o ato na prefeitura, a base dos garis, os ativistas e a oposição sindical mantiveram o ato que reuniu centenas de garis, mesmo com todos os obstáculos de falta de transporte.

Garis em greve fazem ato na prefeitura

Atenção carioca! O que aconteceu no dia de hoje no Rio de Janeiro, que vem sendo um estado marcado especialmente pelo giro reacionário da situação política do país, mostra a disposição de luta da classe trabalhadora novamente. E essa força está se expressando primeiro pela via dos setores mais explorados. É o Rio se conectando com uma dinâmica crescente de greves nas últimas semanas no país frente ao insuportável aumento dos preços e da carestia de vida. Em Minas Gerais tem greves de educadores e metroviários. Outros estados tem paralisações de professores, rodoviários e outras categorias.

O dia de hoje marca o retorno à cena dos garis, que em 2014 contagiaram o país com sua heroica greve e que começam a se organizar independente do sindicato. É o retorno do medo de Eduardo Paes, esse inimigo dos trabalhadores que até mesmo o PSOL chamou a apoiar na sua eterna busca de um “mal menor”.

Mas essas lutas ainda não conquistaram a projeção e o respaldo que tiveram em 2014, quando os garis pararam a cidade no carnaval e ganharam apoio de massas de toda a classe média progressista e do funcionalismo público e também dos trabalhadores precarizados cariocas. É urgente que toda a juventude e os trabalhadores de todos os setores apoiem ativamente a greve dos garis e ajude a greve a romper o bloqueio midiático.

Enquanto a classe trabalhadora carioca está apontando o caminho para enfrentar a extrema direita, o governo Bolsonaro-Mourão e os ataques dos governos e patrões: com a força da mobilização e de seus métodos históricos de luta.

Enquanto isso, o que está fazendo algumas das esperanças da esquerda e do progressismo carioca? Marcelo Freixo não emitiu uma palavra sobre todas essas lutas, como não poderia deixar de ser para quem assumiu sua política burguesa indo para o PSB. Marcelo Freixo é aliado do Paes e não dos garis. Lula está no Rio e também não diz uma palavra porque prefere como aliado Alckmin e estava tentando organizar um evento com o reitor da UERJ convidando o bolsonarista Claudio Castro pra “dar as boas vindas”. Nada estranho para o PT que tem figuras como André Ceciliano que aprovou a privatização da CEDAE e que no Rio sempre foi parte de articular as alianças do PT com mafiosos como o próprio Eduardo Paes, Pezão, Crivella e Eduardo Cunha.

Basta de ilusões de que a forma de enfrentar a situação desesperadora de vida que estão vivendo amplos setores no Rio e no Brasil é a via institucional e uma Frente Ampla como as que fazem Lula e Freixo.

Poucos setores da esquerda estão apoiando a luta dos garis e as demais greves em curso. Os parlamentares do PSOL e Glauber Braga não aparecem em nenhuma mobilização e no máximo tardiamente fazem algum tweet em apoio, sequer usando seu peso político para tirar as lutas do isolamento.

Confiemos somente na força da luta e mobilização e na organização pela base para superar as burocracias que controlam os movimentos. Todo apoio à luta dos garis e a cada uma das lutas em curso no país. Venha construir conosco uma ampla campanha de solidariedade às lutas em curso com o Esquerda Diário e ombro a ombro em cada manifestação.




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