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ELEIÇÕES FRANCESAS | O dia em que Poutou, candidato anticapitalista francês, parou de fazer rir as classes dominantes

Desde a noite dessa terça-feira, 4, face ao barulho suscitado por sua intervenção, as coisas mudaram para Philippe Poutou. O candidato do NPA definitivamente parou de fazer rir as classes dominantes, a casta política e o sistema midiático. Analise.

sexta-feira 7 de abril de 2017 | Edição do dia

Foto: AFP/LIONEL BONAVENTURE

Philippe Poutou é o símbolo do político não-profissional: aquele que não anda de terno, não coloca uma gravata, e que fala sem o conjunto dos códigos comumente admitidos pela classe política. Aquele, sobretudo, do qual alguns se permitem rir abertamente, à imagem da sequência consternadora ocorrida no palco do programa televisivo On n’est pas couchés, no sábado 25 de fevereiro, onde os colunistas foram tomados por um louco riso geral, sinal de um desprezo de classe, em seguida deles o interrogarem sobre seu programa contra as demissões. Contudo, é claro que desde sua passagem televisiva diante dos outros dez candidatos à eleição francesa, o tom mudou. Desde então, nas mídias e na classe política dominante, o único candidato operário desta eleição não faz rir de tudo.

Uma sequência de antologia

Letargia sobre o palco da BFM TV. São 22h43 e Philippe Poutou está a pouco de lançar uma bomba que vai definitivamente fazer mudar o curso do debate. Ele só levou dois minutos para explodir o cerco midiático que se impunha até então, atacando frontalmente François Fillon e Marine Le Pen sobre seus respectivos negócios. Para dar esse golpe, era necessário para Poutou agarrar a oportunidade. De fato, muitos dizem que geralmente tudo é feito para evitar semelhantes invectivas. É a característica “histórica” desse debate com os 11 candidatos, que existe para ilustrar. Em seguida ao debate, o canal France 2 já definiu suas disposições para evitar uma reincidência do único candidato operário na eleição presidencial. O único candidato que usou dessa tribuna, uma tribuna excepcionalmente oferecida, para atacar Fillon e Le Pen a fim de exprimir o ódio do mundo do trabalho e da juventude face à corrupção generalizada da casta política.

Assim, a intervenção do único operário dessa eleição permitiu fazer cair definitivamente as máscaras. Ele deu um pontapé no formigueiro dessa farsa televisiva, na qual os políticos mais corruptos irão senão debater, sem rir, sobre a “moralização da vida pública” e propor suas soluções. Uma “harmonia” que Poutou fez quebrar em pedaços em duas frases. A primeira fez colapsar a postura vitimista de Fillon, obrigado a responder de maneira agressiva. Em três movimentos, a “impostura” operária de Marine Le Pen não existia mais. Desde então até o fim do debate, mais nenhum candidato ousou atacar o candidato do NPA.

A cólera contra esse sistema

Como o único candidato operário, habituado aos gracejos e aos escárnios, foi bem sucedido para impor tal nível de impertinência aos ogros do sistema midiático? A resposta é simples, e é Philippe Poutou que a resume melhor: “Eu desejo expressar esta cólera desde os de baixo (...) contra os políticos corruptos, que se reencontraram aqui, no salão que fica em torno dos púlpitos”. Após décadas de austeridade e de ataques antissociais, de alternância sem alternativa, a cólera contra esse sistema político e midiático é imensa. E os negócios da corrupção, de desvio de dinheiro, combinados às brigas incessantes contra os “auxiliados”, e os aproveitadores na boca de todos os grandes candidatos dessa eleição, terminam de agravar a situação.

Nesse contexto, o golpe de cólera de Poutou contra os esquemas e a corrupção entra em ressonância direta com o cotidiano de milhões de trabalhadores. Quem melhor que um operário que trabalha na linha de produção da fábrica Ford em Blanquefort, que arrisca perder seu trabalho, que não tem nem cargo eleitoral, nem emprego fictício poderia melhor o expressar? O candidato do NPA fala com seu instinto. E pouco importa que isso não corresponda às regras de decoro do sistema midiático, pouco importa que os cronistas da BFM TV achem isso “desrespeitoso” porque isso golpeia no lugar certo. Philippe Poutou é a impertinência operária que surge no banquete presidencial, a realidade dos trabalhadores e das classes populares que perfura a tela da televisão.

Um operário anticapitalista às presidenciais

A intervenção de Philippe Poutou tem suscitado uma repercussão midiática sem precedente. Nas redes sociais, ele tornou-se o porta-voz de milhões de trabalhadores e jovens. No sistema midiático dominante, em resposta, o tom é bem diferente. A atitude desse “pequeno” candidato exasperado. Na melhor das hipóteses, explicam que o debate foi pobre, que não permitiu discutir de “fundo”. Na pior, atacam-no frontalmente. É necessário ler, a esse propósito, essa tribuna nauseabunda, mas das mais conscientes, publicada no site Challenges, que descreve Poutou como “o inquietante bufão da república” determinado a “destruir a democracia tradicional, seu inimigo privilegiado”. Ataques de um jornal, porta-voz de uma parte consciente da burguesia, que não vêm, definitivamente, senão para expressar os risos que se transformaram de repente em medo. A melhor maneira de reconhecer os cães de guarda é quando se vê suas presas.

Essas tentativas de intimidação, que não estão senão no seu início, expressam uma tomada de consciência profunda de que, contrariamente ao que afirma o jornal Le Figaro, a extrema esquerda não está morta. Através de suas palavras de ordem, abriu-se o caminho à expressão da cólera do mundo do trabalho e da juventude que ardia e não tinha voz. É por essa razão, precisamente, que ele não faz mais rir, mas que ele começa mesmo a dar medo nas fileiras das classes dominantes. “Votar NPA, é redepositar confiança no campo dos explorados” e o campo oposto, o dos capitalistas, compreendeu isso. É por isso que se ri menos no lado dos cronistas da classe dominante e de suas mídias. Sua agressividade de hoje contrasta com a leveza e a condescendência com as quais eles trataram Philippe Poutou até aqui, o “gentil operário”. Apostamos que a partir de agora, não veremos mais Le Figaro se alegrar com um suposto “fim de ciclo da extrema esquerda”, apostamos que não veremos mais Vanessa Burggraf gargalhar diante do candidato operário.

Imaginamos enfim que corremos o risco de ver menos frequentemente Philippe Poutou sobre os palcos de TV, como é o caso do próximo debate com os onze candidatos, que já foi cancelado. Nesse 4 de abril, sobre o palco da BFM TV, os anticapitalistas revelaram a cabeça e isso não agrada a todo o mundo.




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