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CRISE GLOBAL | O declive de economias “emergentes”, com lugar destacado no encontro de Davos

Na reunião da elite econômica e política global, as economias batizadas como “emergentes” pelo poder financeiro global tem um lugar destacado.

quinta-feira 21 de janeiro de 2016 | 02:22

Ficaram para trás os tempos em que os líderes das economias que o poder financeiro global batizou como “emergentes” passeavam por Davos com ar de triunfo. Como o New York Times levantava em sua edição de 19/01, “desde o ano 2000, o boom de Davos e dos mercados emergentes havia sido em grande medida um e o mesmo, um ideal vivo da globalização ajudado pelos bancos centrais que imprimiram milhares de milhões de dólares de novo dinheiro”. Esta situação vem mudando nos últimos anos, ao calor de uma reversão nos fundos de investimentos que beneficiaram estes países durante a primeira década do novo milênio. Por isso, o protagonismo que possuíam as economias emergentes nesse auge será um dos focos de preocupação na agitada economia mundial.

Mais de um bilhão de dólares em fundos de investimento tem saído de mercados emergentes nos últimos 18 meses, mas o êxodo poderia estar longe de terminar, dado que as economias outrora prósperas parecem estar presas em um ciclo débil de crescimento e investimentos.

O endurecimento de crédito nos Estados Unidos e a fortaleza do dólar como resultado da política monetária mais dura da Reserva Federal norte-americana, a desaceleração da economia chinesa e a implosão do “superciclo” associado das matérias primas, configuram o combo que dá origem às preocupações.

Diferentemente de outras ocasiões da última década e meia, temem que não haja uma forte recuperação quando terminar o atual período de debilidade. “O panorama global e os motores para os mercados emergentes são muito diferentes de 2001”, comentou o chefe de mercados emergentes no ICBC Standard Bank, David Spegel, em referência a época em que Ásia, Rússia e Brasil se recuperavam dos golpes da crise do final da década de 1990. “Nessa época, todas as estrelas estavam alinhadas para a globalização e os mercados emergentes foram os que mais se beneficiaram. Desta vez, simplesmente não temos esses múltiplos catalizadores”, comentou.

Em 2001, o principal catalizador foi a China. Sua entrada na Organização Mundial do Comércio desatou um milagre de exportações e investimentos de uma década que impulsionou a sua economia de sexto ao segundo lugar mundial. Sua ascensão respondeu por boa parte do mundo em desenvolvimento, desde exportadores de soja e aço latino-americanos a talheres asiáticos que se converteram em parte de sua enorme cadeia de abastecimento fabril. Mas agora sua desaceleração está golpeando esses países de forma igualmente dura. As exportações desses mercados emergentes – desde automóveis coreanos ao cobre chileno – estão declinando a maior taxa anual desde a crise de 2008-2009, segundo UBS. A conclusão pessimista a que estão chegando alguns é que o efeito chinês possivelmente foi uma mudança única na vida, cujos efeitos estão se dissipando para sempre.

O economista Dani Rodrik, da Harvard Kennedy School, disse que “por muito tempo sustentei que se exagerou com o tambor publicitário sobre os mercados emergentes, quando era evidente que o que estava ocorrendo eram altos preços de commodities e dinheiro barato”. Agora, segundo sua visão, “estamos vendo menor crescimento e conflitos políticos entre o mundo emergente e o desenvolvido”.

Desde 2011, o dólar aumentou em mais de 100 por cento em relação as moedas de países como Turquia, Brasil e África do Sul. Nos últimos seis meses, depois da decisão da China de desvalorizar o renminbi, também estão desvalorizando-se frente ao dólar as moedas antes “robustas” de Singapura, Coréia do Sul e Taiwan.

Analistas como JP Morgan estimam que desde meados de 2014 tenha saído da China quase um bilhão de dólares e que só as reservas de seu banco central haviam declinado em mais de 500.000 milhões de dólares no ano passado.

Para o capital financeiro global, existem ainda alguns lugares destacados, como a Índia e o México. Mas frente ao aumento do temor com a China e uma recessão no Brasil e Rússia pelo segundo ano consecutivo, muitos temem que o regresso dos investimentos no setor não seja tão breve.


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