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PRIMÁRIAS ESTADOS UNIDOS | O ascenso de Trump e obstáculo Bernie Sanders

Donald Trump é o virtual nominado, ante o olhar impotente de um Partido Republicano em crise. A vitória de Bernie Sanders confirma que ainda é o principal obstáculo para Hillary Clinton.

Celeste MurilloArgentina | @rompe_teclas

quinta-feira 12 de maio de 2016 | Edição do dia

As primárias da terça-feira, 10, em West Virginia e Nebraska (a última dos republicanos) não modificaram a repartição dos delegados. Seguem vigentes os problemas que atravessaram todas as primárias: os outsiders são protagonistas, a crise republicana se aprofunda, e o establishment democrata, embora tenha sido mais hábil para canalizar o descontentamento, não consegue impor sua favorita.

Nenhuma das estratégias do establishment republicano deu resultado: ignorar Trump, fazer campanha contra Trump, fazer campanha por “qualquer um menos Trump”. À margem da nomeação, que está quase em suas mãos, o partido não conseguiu ver a profundidade da crise que significou o feito de que tenha sido um outsider o porta-voz da ira da base conservadora e de direita.

A campanha de Trump se baseou essencialmente no descontentamento de setores da base republicana (que combina milionários, pequenos proprietários e classe média baixa) farta de dinastias como os Bush e os filhos mimados do establishment. A primeira vítima desta “saciedade” foi Jeb (uma vez “sonhado” herdeiro do clã Bush na Casa Branca), em seguida, a jovem promessa do partido, o senador da Flórida, Marco Rubio.

Trump candidato, partido dividido

Em Indiana, Donald Trump se transformou no único competidor da corrida republicana. Nessa mesma noite, o senador texano Ted Cruz se retirava e, no dia seguinte, o governador de Ohio, John Kasich. Mas esta corrida solitária não solucionou as divisões. Não são poucos os funcionários que anteciparam que não participarão da campanha por não apoiar a candidatura de Trump. Alguns se mantiveram num decoroso silêncio. E outros adiantaram seu apoio em nome da “unidade do partido” (e da renovação de seus cargos).

Entre os detratores de Trump há vários funcionários da política externa, que veem este terreno como um dos mais perigosos. Daniel Rude, ex-assessor de Mitt Romney, deixou claro: “Fui republicano toda a minha vida. Nunca votei num democrata, nem tenho intenção de fazê-lo (...) Mas ao mesmo tempo, nunca vi um candidato anti-acordos comerciais, que menospreza nossos sócios e aliados, insulta nossos amigos e vizinhos [e] tem uma política externa irresponsável”.

Mas existe outro setor do partido que, ainda que esteja muito distante da política de Trump, não vê outra opção que não apoia-lo nas eleições gerais para evitar que a crise e as divisões partidárias atentem contra a renovação de seus cargos. Depois de tudo, os deputados e senadores, antes de serem republicanos, são partidários de seus próprios assentos.

O fantasma do terceiro partido

A “unidade” do partido poderá ser apreciada em sua máxima expressão na convenção republicana. Mas o caminho à cidade anfitriã de Cleveland já envia alguns sinais. Pelos usos e costumes (e as regras de um obscuro Comitê de Organização Permanente), a convenção é dirigida pelo presidente da bancada republicana do Congresso. O problema é que o presidente, Paul Ryan, é uma das figuras que pôs em dúvida seu apoio à candidatura de Trump. Em contrapartida, o líder da maioria republicana do Senado, Mitch McConnel, e Reinice Priebus, da direção do partido, apoiarão ao milionário.

Ryan é a expressão da ala centro do partido (a ala mais golpeada nas primárias) e disse na semana passada que não estava preparado para apoiar a Trump: “Creio que os conservadores querem saber: [Trump] compartilha de nossos valores e nossos princípios sobre um governo limitado, um papel adequado do Poder Executivo, sua adesão à Constituição?”.

O milionário respondeu dizendo que não está preparado para “apoiar a agenda de Ryan”, e agregou “Talvez, no futuro, possamos chegar a um acordo sobre o que é o melhor para o povo dos Estados Unidos. [O povo] foi tratado tão mal durante tanto tempo que já está na hora de que os políticos pensem primeiro neles”.

Quando a tensão estava crescendo, Ryan disse que não queria menosprezar a conquista de Trump, que teria “herdado” algo muito especial nas primárias. Trump, por sua vez, respondeu-lhe via Twitter, “Paul Ryan disse que herdei algo muito especial, o partido Republicano. Errado, não o herdei, ganhei-o com milhões de eleitores”. E, assim, voltou a esfregar na cara do establishment sua vitória indiscutível nas primárias.

Depois desses atritos, e, outra vez, em nome da unidade, planejou-se uma reunião para a próxima quinta-feira, 12, em Washington. Enquanto se gestava esta reunião, sobrevoava o fantasma do terceiro partido. Soube-se que William Kristol, editor da tradicional revista Weekly Standard e uma importante figura conservadora, impulsiona a iniciativa de um candidato que encarne a política e os valores conservadores por fora do Partido Republicano. Kristol tentou convencer Romney da ideia, se não de se candidatar, pelo menos, de apoiar um candidato independente. A simples ideia de um terceiro partido fez calafrios percorrerem as espinhas de todos os republicanos. O próprio Ryan teve que aclarar que, para ele, um terceiro partido “seria um desastre”.

A corrida está virtualmente definida, e já começam os planos para conquistar, em novembro, os 270 votos do colégio eleitoral e ficar com a Casa Branca. Isto representa múltiplos desafios, começando pelo nada desprezível peso das mulheres e das comunidades negra e latina, entre as quais os republicanos em geral, e Trump em particular, são mais débeis.

Difícil para Trump é fácil para Clinton?

A resposta fácil é “não”. A complicada também. O Partido Democrata tem muitos motivos para festejar um concorrente como Trump, que não pode mobilizar a base democrata. De fato, segundo algumas pesquisas, estados que geralmente votam em republicanos, como Utah, Georgia, Mississipe e Arizona, poderiam votar num democrata nessa ocasião.

Mas estas primárias não estiveram isentas de problemas e contradições para o partido de Barack Obama. Hillary Clinton enfrenta, todavia, dois grandes obstáculos: o primeiro é Bernie Sanders e o segundo é Hillary Clinton. O senador de Vermon, que acaba de vencer em Indiana (apesar de que é quase impossível que alcance a Clinton na conta dos delegados), é o porta-voz do descontentamento da base progressista do Partido Democrata, de sua raiva das elites políticas e a juventude que, todavia, não está disposta a renunciar a seu candidato. E ainda que não se saiba que impacto terá uma eventual derrota de Sanders e a competição Clinton-Trump, o problema de Clinton com a base do partido segue vigente.

Um dos problemas mais perigosos para Hillary e o Partido Democrata é que muitas das críticas que Bernie Sanders faz “pela esquerda”, Donald Trump as fará pela direita. Sua relação com Wall Street (sem contar o detalhe picante mais recente que relacionou importantes doadores de campanha de Clinton com os Panamá Papers), sua linhagem Clinton, e sua própria coleção de fantasmas, entre os quais o escândalo dos e-mails (usou seu servidor privado enquanto era secretária de Estado) e o ataque ao consulado em Benghazi são alguns dos mais famosos.

Traduzido por Seiji Seron




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