Na madrugada desta quarta-feira (horário de Sri Lanka), o agora ex-presidente deixou o cargo e embarcou junto ao seu círculo íntimo em um avião militar com destino às Maldivas. O primeiro-ministro interino assumiu o cargo com legitimidade precária e declarou estado de emergência.
quinta-feira 14 de julho de 2022 | Edição do dia
Os fortes e massivos protestos, devido à profunda crise econômica, forçaram Gotabaya Rajapaksa a renunciar à presidência. Na madrugada desta quarta-feira (horário de Sri Lanka), ele deixou o cargo e embarcou em um avião militar Antonov-32 do Sri Lanka com seu círculo interno com destino às Maldivas. Agora sem imunidade, ele temia ser processado. Nos primeiros minutos desta quarta-feira, decolou do Aeroporto Internacional de Colombo.
Enquanto isso, o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe, também repudiado pela maioria popular, cuja casa foi incendiada no mesmo sábado, foi nomeado pelo próprio Gotabaya Rajapaksa como presidente interino, segundo um funcionário. O anúncio colocou mais lenha no fogo da revolta popular. Os manifestantes, que também exigem a renúncia do primeiro-ministro, invadiram seus escritórios e tomaram a estação de televisão estatal. Wickremesinghe respondeu declarando estado de emergência, mas a legitimidade de sua medida foi questionada pelos manifestantes e por setores do próprio regime político. Espera-se que Rajapaksa apresente oficialmente sua renúncia até o final do dia.
Os manifestantes continuam ocupando a residência presidencial, desde os maiores protestos no sábado, impulsionados pela profunda crise econômica, que levou as maiorias populares sem poder ter acesso a alimentos e produtos de primeira necessidade por falta de dinheiro. Uma situação que vem acontecendo há muito tempo e que a guerra na Ucrânia e a invasão reacionária da Rússia só aprofundaram.
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Rajapaksa é o último membro da dinastia de sua família a deixar o governo. Em maio, Mahinda Rajapaksa, ex-primeiro-ministro e irmão mais velho do presidente, foi forçado a deixar o cargo pelos protestos. Agora também o ministro das Finanças, Basil Rajapaksa, irmão de Gotabaya e outros funcionários - membros de sua família - foram obrigados a renunciar devido às manifestações que vinham exigindo.
Sri Lankan President Gotabaya Rajapaksa fled the country for the Maldives, hours before he was due to step down amid widespread protests over his handling of a devastating economic crisis https://t.co/iZFW8OqnCd pic.twitter.com/F9BtEKBa9b
— Reuters (@Reuters) July 13, 2022
A escassez de combustível é sofrida diariamente pela população trabalhadora e pobre e vem se prolongando a meses. Os preços dos alimentos e remédios dispararam, os cortes de energia são diários e o transporte público, devido à mesma falta de combustível, muitas vezes é suspenso. Diante dessa situação, o governo do ex-presidente estava em negociações com o FMI para obter um empréstimo em troca das conhecidas medidas de ajuste daquele órgão imperialista.
Os partidos da oposição, juntamente com os de Rajapaksa, vêm discutindo a formação de um governo de unidade nos últimos dias, com base no avanço das negociações com o Fundo Monetário. Aparentemente, de acordo com várias agências de notícias, ainda não há acordo para formar esse governo. De qualquer forma, o parlamento já anunciou que no dia 20 deste mês elegerá o novo presidente.
O Sri Lanka é o caso mais explosivo da expressão de um fenômeno global de crise e alta inflação que em diferentes latitudes está provocando lutas operárias por salários e revoltas populares naqueles países que dependem mais diretamente de insumos básicos como trigo e combustível.