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ESTADOS UNIDOS | O Pentágono contradiz a Trump sobre o assassinato de Soleimani

O secretário de Defesa do Trump reconheceu numa entrevista no domingo que não existiam provas sobre supostos ataques a quatro embaixadas dos EUA como havia dito o presidente. Esse havia sido o último argumento do Governo para justificar o assassinato de Soleimani. As fricções entre Trump e o “Estado profundo”.

Juan Andrés GallardoBuenos Aires | @juanagallardo1

terça-feira 14 de janeiro de 2020 | Edição do dia

O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, admitiu este domingo que não há visto nenhuma “prova” concreta de que o general irã Qasem Soleimani, assassinado no início de janeiro em uma operação estadunidense em Bagdad, planejou atacar quatro embaixadas do país norte americano, como afirma o presidente Trump.

Esper também disse que Trump ainda está disposto a dialogar com os líderes iranianos, em meio a uma série de tuits publicados pelo presidente (alguns em persa), para atacar o regime iraniano e apoiar as mobilizações que aconteceram no final de semana em Teherán em protesto pela responsabilidade do Governo na explosão do avião ucraniano na semana passada, que havia sido negada originalmente pelo regime.
Esses atritos entre o que Trump diz e afirmações de seu secretário de Defesa mostram os aspectos internos entre o governo e o Pentágono sobre quais devem ser as prioridades em temas de política externa.

As causas do assassinato de Soleimani

Após o assassinato do general iraniano, Trump e seu secretário de Estado, Mike Pompeo, ensaiaram uma série de justificativas, nenhuma das quais poderia ser corroborada e que mostrava a arbitrariedade com que os Estados Unidos agiram no bombardeio e assassinato da segunda figura em importância do regime iraniano em solo iraquiano.

O governo dos EUA disse primeiro que ele havia sido morto pelos planos que Soleimani tinha em mente, depois por todos os "assassinatos que ele havia cometido no passado" e finalmente o justificou dizendo que o general iraniano planejava atacar pelo menos quatro embaixadas dos Estados Unidos.

No entanto, as declarações de Esper negam isso. "O presidente não citou uma prova concreta, e eu não vi nenhuma, no que diz respeito às quatro embaixadas", disse o secretário de Defesa em entrevista ao programa de televisão "Face The Nation", da CBS News.

Apenas 48 horas antes Trump havia garantido em uma entrevista à rede Fox News "posso revelar que acredito que provavelmente haveriam sido quatro embaixadas", referindo-se aos supostos objetivos de Soleimani.

Não é a primeira vez que os Estados Unidos mentem para realizar ataques em outros países. Sem dúvida, o caso mais ressonante dos últimos tempos foi o argumento de que o Iraque de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa, para invadir o país em 2003. Ninguém nunca, nem mesmo os governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, puderam provar isso, tudo se revelou uma mentira absoluta. O mesmo aconteceu nos últimos anos com os assassinatos de milhares de civis durante seus bombardeios com drones, muitos dos quais estão escondidos e outros são relatados sob o rótulo de "danos colaterais".

Mas, neste caso, é o próprio Pentágono que contradiz Trump. Embora não seja algo novo, os atritos entre o chamado "Estado profundo" e o governo Trump, que foram recorrentes nos últimos anos, tendem a se tornar mais agudos quando prevalecem as aventuras presidenciais, como nas últimas semanas (aconselhado por Mike Pompeo, que no último período, ele tem insistido em uma política mais dura em relação ao Irã).
Além disso, Esper também disse que Trump ainda está disposto a conversar com os líderes iranianos. Contrariando uma série de tweets que o presidente disparou durante todo o final de semana, Esper disse que "estamos dispostos a sentar e discutir sem condições prévias uma nova via, uma série de medidas que tornarão o Irã um país mais normal".

Os tweets de Trump, muito pelo contrário, escritos diretamente em persa, mostravam um conteúdo mais agressivo, buscaram empatia com os manifestantes que protestavam contra a demolição do avião ucraniano e emitiam advertências ao regime iraniano.

Em um dos primeiros, publicado antes das declarações de Esper, ele apontou "Para os líderes do Irã: NÃO MATE OS MANIFESTANTES. Milhares já foram mortos ou presos por vocês, e o mundo os está observando. Mais importante ainda, o EUA os está assistindo. Liguem a Internet novamente e deixem que os jornalistas informem livremente! Parem com a matança do seu grande povo iraniano! "

Em um segundo tweet, ele parecia contrabalançar diretamente o Esper. "O Conselheiro de Segurança Nacional sugeriu hoje que sanções e protestos no Irã (que estão afogando o regime) os forçariam a negociar. Na verdade, eu não me importaria se eles negociarem. A questão é que eles devem decidir, eu digo apenas ’eles não terão armas nucleares’ e ’não matem os manifestantes’ ".




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