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UFRGS | Novo reitor da UFRGS, Rui Opperman, quer avançar na privatização da universidade

Em entrevista concedida à Zero Hora, publicada nessa terça-feira (28), o atual vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que se prepara para assumir o cargo de reitor em setembro, deu uma série de declarações acerca de como gerir a maior universidade do estado, que prevê a ampliação das parcerias privadas. Na prática, isso significa avançar na privatização de uma das mais importantes universidades públicas do país. Não há outra palavra senão privatização para descrever a aproximação entre as empresas e a universidade.

quarta-feira 29 de junho de 2016 | Edição do dia

Segundo Rui Oppermann, a prioridade da nova reitoria vai ser buscar “fontes de recursos públicos e privados que viabilizam os planos de expansão que a universidade tem nas áreas de ciência, tecnologia e inovação”. Não chegou a citar nenhuma empresa específica, a não ser o banco Brics, com sede em Xangai. Mas dado o histórico de parcerias entre a UFRGS e grandes corporações, como a Gerdau, Tramontina, British Gas e outras, é de se esperar que empreendedores de todos os lugares voltarão seus olhos para a universidade.

A justificativa de buscar o setor privado é a mesma que a grande mídia dá há anos para qualquer questão relacionada à crise econômica: não pense em crise, privatize. Ao invés de questionar as prioridades do governo com relação aos gastos públicos (sendo que quase 50% do orçamento federal vai direto para os cofres dos grandes bancos, sobrando menos de 4% para a educação pública), busca-se a privatização. E tudo isso com a finalidade do lucro, tão somente.

O governo Dilma cortou bilhões da educação durante o seu mandato e honrou a dívida pública integralmente. Agora com o aprofundamento da crise econômica, o governo golpista de Temer vai descarregá-la ainda mais nas costas da população através das desvinculações orçamentárias e a promessa de mais cortes. É nesse cenário que o reitor Rui Oppermann justifica a ampliação e o aprofundamento das parcerias com grandes empresas na UFRGS (e não a toa a Globo, com seu braço gaúcho da Zero Hora, celebra as intenções do novo reitor).

Cabe a nós, os que prezam pela universidade pública e pelo conhecimento voltado às necessidades da população, questionar a serviço do que serão feitas essas parcerias privadas. Para que e para quem servem as pesquisas científicas e tecnológicas financiadas por grandes empresas? Para satisfazer as necessidades da população ou do lucro?

Quais empresas lucram com a UFRGS?

Não é necessário ir tão longe para descobrir que empresas lucram com o conhecimento produzido nas universidades públicas, com toda a infra-estrutura garantida pelo Estado, a partir de cooptar professores e pesquisadores, tudo isso com a chancela das reitorias e chefias. Em 2015 na UFRGS, por exemplo, ficou conhecido o caso de professores do Instituto de Geociências que lucraram dezenas de milhares de reais com pesquisas voltadas à petrolífera British Gas. Como a reportagem mostra, o projeto vinculado à extração do pré-sal na bacia do Espírito Santo, aproximou os professores Juliano Kuchle, Claiton Sherer e Paulo Alves de Souza da multinacional britânica garantindo R$ 216 mil, R$ 135 mil e R$ 116 mil para cada um respectivamente. Os lucros obtidos pela gigante petrolífera a partir das pesquisas feitas não é de nosso conhecimento, mas certamente se multiplicaram e foram para bem longe do país.

Um outro caso absurdo, esse ainda mais ligado ao novo reitor Rui Oppermann, é a criação da Cátedra Tramontina Eletrik na Escola de Administração da UFRGS em dezembro de 2013. Ela busca o aprimoramento das práticas empresariais através de estudos de marketing voltados ao comportamento do consumidor. Em outras palavras, são pesquisas feitas com toda a estrutura pública para pensar como a Tramontina pode vender e lucrar mais, tudo às custas dos milhares de operários explorados sob condições miseráveis de trabalho. A solenidade, na época, contou com a presença do ilustre novo reitor Oppermann e ninguém mais que o herdeiro gaúcho Clóvis Tramontina. Há imagem mais ilustrativa do que essa para representar a intenção de tornar privado aquilo que deveria ser público?

A Gerdau então nem se fale. A siderúrgica mantém parceria com a UFRGS desde a década de 1990 e já financiou inúmeras pesquisas de interesse próprio. Mesmo tendo tido uma queda de 95% do lucro líquido nesse primeiro trimestre de 2016, a empresa obteve lucro de R$ 930 milhões de janeiro a março. Boa parte da tecnologia envolvida na produção do aço, e que garantiu esse lucro milionário junto à exploração de milhares de operários, é desenvolvida em universidades como a UFRGS, com laboratórios, bibliotecas, professores, tudo sustentado pelo Estado. Mas no final quem lucra com aquilo que deveria ser público são os grandes empresários e corruptos como Jorge Gerdau.

De acordo com a reportagem da Zero Hora, em 2014 houve 98 projetos de interação universidade-empresa na UFRGS. Eles somaram um montante de R$ 26 milhões, sendo que a universidade ficou com apenas 5% do lucro (R$ 1,273 milhões), proporcionando às fundações e aos próprios professores a maior parte. A pesquisa em si, que envolve o maior custo e valor, é vendida para as empresas poderem lucrar ainda mais com a tecnologia aplicada.

Projeto da nova reitoria: privatização e elitização

São inúmeros os casos que envolvem interesses privados e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e não vamos nos alongar por aqui. O que interessa, e indigna, é que o novo reitor (que, diga-se de passagem, apenas empossa por conta do processo ultra anti-democrático que seleciona a chapa dentro da universidade, pois se fosse voto universal ou mesmo paritário, Rui teria ficado em segundo lugar no pleito. O que ganhou a eleição foi a compra de diretores através de benesses, interesses escusos e bilhetes do show da Maria Bethania, não a vontade da comunidade de que ele administre a universidade) possui um projeto muito claro para a UFRGS no próximo período. E esse projeto envolve ampliar e aprofundar a relação com os interesses privados. Ou seja, avançar na privatização da universidade pública. Como se não bastasse tudo isso, Rui deixou claro que não vai fazer nada concernente à permanência dos estudantes, como se não houvesse uma evasão imensa dos mais pobres e uma dificuldade sem tamanho dos que se mantêm com bolsas de R$ 400. Dessa forma a universidade segue em um caminho de linha reta: o da elitização e da privatização.

Apenas um movimento muito forte, unificado com estudantes, funcionários e professores, pode botar abaixo esse projeto e dar uma saída de fundo, anticapitalista, para o problema.

- É preciso abrir o livro de contas da universidade, das fundações privadas e das empresas terceirizadas. Precisamos saber para onde vai o dinheiro público, bem como efetivar os terceirizados sem a necessidade de concurso público uma vez que já se mostraram capazes de exercer seu ofício.

  •  É necessário acabar com essa estrutura de poder antidemocrática que sustenta uma casta política dentro da universidade. O Consu, órgão de deliberação máximo da universidade e extremamente antidemocrático, deve acabar. Apenas estudantes, funcionários e professores são capazes de gerir essa universidade de maneira democrática e voltar as pesquisas e o conhecimento a serviço das necessidades da população e não do lucro. Isso só será feito com uma gestão democrática onde se fazem presentes os três setores.
  •  Mais verbas para a educação pública. Por pesquisas voltadas às necessidades da população, garantir o ensino de qualidade e a permanência dos estudantes que necessitam de auxílio.


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