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CAPITALISMO ESTABLISHMENT | Nova reunião secreta do Clube de Bilderberg, a convenção dos poderosos

Neste fim de semana se reunirá o clube elitista Bilderberg, uma convenção exclusiva e secreta onde os mais ricos buscam escrever a ordem mundial. O que vão debater à portas fechadas?

terça-feira 14 de junho de 2016 | Edição do dia

O que é o clube de Bilderberg?

O clube, grupo ou conferência de Bilderberg é um encontro anual em que se reúne a nata do capitalismo industrial e financeiro, dirigentes das maiores empresas de comunicação, representantes de vários países e organizações internacionais, assim como líderes políticos e importantes personalidades do mundo acadêmico.

A origem do Clube de Bilderberg data de maio de 1954, quando celebrou-se sua primeira reunião. Uma proposta do conselheiro político polonês Jozef Retinger, com o apoio do famosíssimo multimilionário David Rockefeller e do príncipe da Holanda, Bernardo de Lippe-Biesterfeld. O primeiro destes encontros realizou-se no hotel holandês Bilderberg, que batizou o grupo, que desde então reúne anualmente entre 120 e 150 das pessoas consideradas mais influentes do planeta em complexos hoteleiros de luxo para discutir de política e economia.

O que debaterão este ano no clube de Bilderberg?

Estes debates estão fortemente marcados pela conjuntura internacional de cada ano. Nesta 63ª edição do clube (em 1976 a reunião foi cancelada em decorrência de um escândalo de corrupção que envolvia diretamente o Príncipe Bernardo), serão tratadas questões como a imigração na Europa, segurança virtual, “precariado” e classe média; e outros temas que já são recorrentes no grupo, como Oriente Médio, China e Rússia, entre outros.

Algumas fontes preveem que o tema dos paraísos fiscais e os chamados Papéis do Panamá poderiam ser outros pontos de debate. Segundo afirma “El Confidencial Digital”, Henry Kissiger e David Rockefeller, dois dos membros fundadores do grupo, “propuseram submeter ao debate e aprovação, na edição deste ano na Alemanha, que Estados Unidos fique como único paraíso fiscal do mundo”.

O encontro de Bilderberg de 2016, que se celebra desde quinta-feira, nove de junho, até domingo doze, na cidade alemã de Dresden, conta com a presença da diretora do FMI, Christine Lagarde; do ministro das Fazenda da Alemanha, Wolfang Schäuble; dos primeiros ministros da Bélgica e Países Baixos, o rei Guillermo de Holanda; John Cryan, presidente da junta diretiva do Deutsche Bank; Thomas Enders, presidente da Airbus e Michael O’Leary, diretor executivo da Ryanair entre outros.

Entre os espanhóis participantes do evento figuram a presidente do Banco Santander, Ana Botín; o presidente executivo da Telefónica, Cesar Alierta; Luís Garicano, responsável pelo programa econômico do Ciudadanos e Juan Luis Cebrián, presidente do Grupo Prisa e membro do comitê diretivo do Clube de Bilderberg. Se especulava a respeito da possível participação da rainha Letizia Ortiz substituindo Sofía de Grécia, assídua frequentadora desses encontros, mas parece que isto não se consumou.

O clube de Bilderberg e as teorias da Nova Ordem Mundial

O caráter das reuniões se mantêm dentro do mais absoluto segredo e se encontram protegidas por um rigoroso esquema de segurança que fica a cargo do Estado anfitrião, onde nem a imprensa nem os curiosos são bem vindos. Aqueles jornalistas que tentam se infiltrar são mantidos sob controle restrito e são retidos em seus quartos de hotel, quando não diretamente presos pelas polícias locais.

Um mistério criado que é defendido pela organização. “Graças à natureza privada da conferência, os participantes não estão obrigados pelas convenções de seus cargos ou por posições preestabelecidas” diz a página oficial, um irrelevante blog lançado há seis anos diante da crescente pressão midiática gerada ao redor de cada um destes encontros, pois, como se supõe, neles se demarca a agenda política e econômica de muitos governos e organizações internacionais.

Por exemplo, a abdicação do rei Juan Carlos em 19 de junho de 2014 se concretizou poucos dias depois da reunião de Bilderberg daquele ano, que contava com a presença da então rainha Sofía. Este fato leva à especular com a possibilidade de que dita decisão fora favorecida desde esta alta instância, que via a necessidade de recuperar a imagem altamente desvalorizada de uma monarquia que têm sido a garantidora da ordem política e econômica do Estado Espanhol desde 1975.

Fatos como esse fortalecem a argumentação das teorias da conspiração, que veem em Bilderberg e outros grupos um tipo de governo supranacional que opera na penumbra. Para os que acreditam nessas ideias, atentados, mudanças de governo, terrorismo, crises, guerras e revoluções são planificadas e aplicadas com igual eficiência no caminho da conformação da chamada Nova Ordem Mundial. A motivação e natureza de seus orquestradores varia segundo os autores, mas podemos dizer que a grande maioria vai desde homens poderosos que aspiram ao controle e poder totais à seitas satânicas ou organismos extraterrestres com intenções ainda mais obscuras.

O problema destas teorias é que, além da loucura que podem desencadear, imprimem uma visão apocalíptica e paranoica do mundo em que a fonte de todos os problemas são conspirações; ocultando a dinâmica do conflito entre forças e classes sociais cujos interesses são opostos e contrários, que se enfrentam entre ela e que conformam suas próprias organizações, através das quais tratam de influir sobre a realidade, porém não têm a capacidade de planificá-la de forma milimétrica. Nas palavras do professor de psicologia e sociologia William Domhoff em “There Are No Conspiracies”.

“Há vários aspectos da visão geral das conspirações que não coincidem com o que sabemos das estruturas de poder. Primeiro: assume que um grupo reduzido de indivíduos altamente especializados e ricos desenvolvem, de alguma maneira, um desejo psicológico pelo poder que os levaria a fazer coisas que não correspondem com o papel que parecem ter. Por exemplo, que capitalistas muito ricos já não estariam interessados em lucrar, mas dedicados a criar um governo mundial. Ou que os governantes eleitos estariam tratando de suspender a Constituição a fim de assumir poderes ditatoriais. Esse tipo de afirmações se fazem há muitas décadas e, segundo se assegura sempre, “desta vez sim é verdade”, mas nunca chegam a ser. Dado que estas afirmações têm errado dezenas de vezes, tem mais sentido assumir que os líderes atuam pelos motivos comuns, tais como lucrar ou metas institucionalizadas para os políticos. Evidentemente que eles desejam ter lucros tão grandes quanto seja possível e ser eleito por maioria esmagadora, e isso pode levá-los a fazer coisas que são muito desagradáveis, mas nada que tenha a ver com criar um governo mundial único ou suspender a Constituição”.

Com efeito, não há motivos para não pincelar o sentido da existência de um fórum de debate internacional como é o Clube de Bilderberg no conjunto da política global. Entre seus objetivos declarados figuram o de “fazer um nó ao redor de uma linha política comum entre Estados Unidos e Europa em oposição à Rússia e ao comunismo”. Quer dizer, garantir a saúde do sistema capitalista, em que Estados Unidos joga um papel de dominador e Europa o de subalterna, sob a ordem política e econômica surgida após a Segunda Guerra Mundial.

Nesse sentido, é necessário destacar que Bilderberg não representa o conjunto da elite econômica mundial, mas aqueles setores relacionados com posições que poderíamos considerar da OTAN. É por ela que China e Rússia continuam sendo um tema de preocupação que se repete a cada ano nesses fóruns, pois são verdadeiros adversário na repartição dos mercados internacionais.

Portanto, podemos extrair várias conclusões da existência de um foro internacional como Bilderberg.

Primeiro, considerar que entre os objetivos das reuniões que o grupo mantém não está a execução da uma chamada Nova Ordem Mundial, mas em manter e fazer prevalecer a ordem econômica e política do pós-Guerra.

Em segundo lugar, que este e outros grupos similares representam alguns interesses concretos que tratam de influir sobre as decisões adotadas pelos governos dos Estados nacionais. Isto não é novo, já Karl Marx destacava no Manifesto Comunista que “o Governo do Estado moderno não é mais que uma junta que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa”. Constituições e democracias capitalistas garantem o desenrolas das atividades de seus membros e, portanto, não são, a priori, metas a se alcançar.

Por último, em oposição à estas reuniões internacionais dos capitalistas, reivindicar as necessidades de que a classe trabalhadora construa suas próprias organizações internacionais, sobre as bases da independência política de sua classe, para enfrentar os capitalistas e seus governos em todo o mundo.

Seguramente um tema que estará presente nas conversas dos poderosos este ano será a situação “ingovernável” da França e a preocupação com a radicalização da classe operária e da juventude.

Tradução: Alexandre "Costela"




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