Para conservar seus apoiadores, Bolsonaro diz que ‘Nenhum ministro saiu por corrupção’ após a saída de três ministros do governo em menos de um mês.
terça-feira 19 de maio de 2020 | Edição do dia
Depois da saída de três ministros do governo em menos de um mês, o presidente Jair Bolsonaro minimizou as demissões e sentiu necessidade em enfatizar que “nenhum ministro saiu por corrupção”. Em discurso a apoiadores na frente do Palácio da alvorada nesta terça (19), Bolsonaro afirmou “Nenhum ministro saiu por corrupção ou acomodação partidária. No passado, trocava centenas de ministros por ano e a imprensa falava nada. Agora trocam um aqui eles...”, sem completar a frase.
Os ataques à mídia são recorrentes no discurso do atual presidente, que faz do descontentamento contra a grande mídia um dos pilares com seus apoiadores. Em seguida indagou “Parece que só querem caos no Brasil, né?” e sugeriu “É só você não ouvir a mídia, pô. Não houve a mídia, não”.
Mas destaca-se a fala de Bolsonaro sobre os ministros que deixaram seus cargos em seu governo. Ao afirmar que “nenhum ministro saiu por corrupção” não é com a imagem desses ministros que Bolsonaro se preocupa, e sim para contornar e compensar suas aproximações com o centrão e Rodrigo Maia.
Para compreendermos a importância que essa afirmação tem para manutenção de sua base, devemos recordar como Jair Bolsonaro conseguiu se eleger com um perfil falso e mentiroso. Bolsonaro até então era apenas mais um dos velhos políticos burgueses, envolvido em diversos casos de corrupção e com a milícia, que conseguiu colocar toda sua família na política, que viveu todos esses anos às custas dos trabalhadores e tudo de mais desprezível.
O legítimo ódio à politicagem e à grande mídia e o sentimento latente de busca por uma alternativa poderiam facilmente cair sobre Bolsonaro. Para se eleger, no entanto, distorceu esse sentimento e se apresentou com uma figura de fora da velha política. Colocou a corrupção como seu principal inimigo e teve o discurso fortalecido com figuras como Sérgio Moro e a Operação Lava Jato.
Enquanto, por um lado, Bolsonaro se utiliza de todos esses mecanismos mais podres da política burguesa para seguir governando, por outro fortalece esse discurso que o elegeu para segurar sua base mais rígida. Atualmente o presidente faz acordos com setores do Centrão e negocia abertamente cargos em seu governo, ao mesmo tempo que casos de corrupção aparecem envolvendo tanto Auxílio Emergencial, que foi desviado para 190 mil militares. Sobre seus ministros não é diferente, o atual Ministro do Turismo, que foi denunciado por Ministério Público no final do ano passado por envolvimento com laranjas no PSL, segue como parte do governo.