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França | "Nem Macron nem Le Pen!" Eleições francesas são marcadas por recorde de abstenções

Apesar do apelo geral por um "voto útil", o primeiro turno das eleições presidenciais na França acabou sendo uma repetição do que já havia acontecido em 2017: uma abstenção massiva. É urgente a preparação para futuras mobilizações e a construção de um bloco de resistência, para o 2º turno com o seguinte lema: “Nem Le Pen nem Macron!”.
Apresentamos o editorial do Revolução Permanente, grupo irmão do MRT na França.

segunda-feira 11 de abril de 2022 | Edição do dia

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Um reedição de 2017: "voto útil" e abstenção massiva

Ocorreu o primeiro turno das eleições na França, marcado por leis restritivas e antidemocráticas para apresentar candidaturas e agora haverá segundo turno, no qual concorrem à presidência os dois candidatos mais votados do primeiro.

O segundo turno será no dia 24 de abril e lá será definido, numa espécie de reedição das eleições de 2017, entre o atual presidente Emmanuel Macron e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen. Com 27,6% e 23,4% dos votos respectivamente, o ex-presidente Macron, e seu projeto de ataque às conquistas da classe trabalhadora, enfrentará a candidata racista e neoliberal, Marine Le Pen, garantindo um segundo turno 100% reacionário e sem nada a oferecer para a classe trabalhadora, a juventude e os setores populares.

Os dois candidatos foram eleitos em um contexto de abstenção massiva, em torno de 26%, nível não visto desde 2002, após uma “não-campanha” eleitoral, marcada pela imposição de Macron de não realizar debates políticos públicos.

Mais estruturalmente, o resultado e a abstenção indicam a continuidade da crise do regime, incapaz de conseguir o apoio da classe trabalhadora e da juventude e o desaparecimento eleitoral dos partidos tradicionais de centro-esquerda (Partido Socialista) e de direita (Os Republicanos) no cenário político.

Esses resultados e a alta taxa de abstenção enfraquecerão o próximo presidente e anunciam um quinquênio (próximo mandato presidencial de cinco anos) potencialmente explosivo.

Atrás das duas primeiras posições, a centro-esquerda de Jean-Luc Mélenchon e sua formação La Francia Insumisa/Union Populaire (FI/UP), ficaram novamente em terceiro lugar com 22% dos votos e uma diferença de apenas 500.000 votos para Marine LePen. O candidato da FI/UP se beneficiou na reta final da pressão por um "voto útil" (como único candidato com possibilidade de eventualmente chegar ao segundo turno contra Le Pen ou Macron) o que lhe permitiu obter um avanço em relação às pesquisas anteriores, mas ainda não conseguiu chegar ao segundo turno.

Este fenómeno do "voto útil" desempenhou um papel fundamental nas eleições, como atesta a queda nos resultados de todos os candidatos que não estavam entre os três primeiros. Com 4,8% e 1,7% respectivamente, Valérie Pécresse (Os Republicanos) e Anne Hidalgo (Partido Socialista) obtiveram os piores resultados da história dos seus partidos, marcando o aprofundamento da crise do bipartidarismo francês, aberta em 2017.

Éric Zemmour e seu programa de extrema-direita ficaram em 4º lugar com 7,1%, muito longe de suas esperanças de chegar ao segundo turno, enquanto Yannick Jadot (Os Verdes) e Fabien Roussel (Partido Comunista) conseguiram 4,6% e 2,3% respectivamente. Por sua vez, os candidatos de extrema esquerda obtiveram pontuações baixas, 0,8% para Philippe Poutou do Novo Partido Anticapitalista (NPA) e 0,6% para Nathalie Arthaud de Lutte Ouvrière (LO) de um total de 460.000 votos (em comparação com o 630.000 que ambas as formações haviam conseguido em 2017).

Um segundo turno reacionário: nem Le Pen nem Macron!

Com Macron vs. Le Pen novamente, a famosa "frente republicana" (todos contra Le Pen) do 2º turno está mais uma vez na boca dos principais editorialistas da mídia. De fato, a extrema direita imprime um importante resultado total com 32,1% do total de votos, 6 pontos a mais que em 2017, o surgimento de uma nova figura ultra reacionária como Eric Zemmour e projeções de segundo turno que parecem mais ajustadas do que em 2017.

Após um mandato de cinco anos de Macron marcado pela securitização, ofensiva governamental autoritária e racista, a repressão ultra violenta aos movimentos sociais, leis islamofóbicas e dissolução de organizações, a política de se alinhar atrás dele para "enfrentar a extrema direita" no segundo turno mostra-se como uma fraude óbvia.

Foi Macron e seu governo que alimentaram o clima reacionário dos últimos anos e, portanto, a luta contra a extrema direita e suas ideias exige uma luta sem concessões contra o macronismo.

A Revolução Permanente, da Rede Internacional La Izquierda Diario, aponta que neste segundo turno, como em 2017, a saída não pode ser Le Pen ou Macron. Enquanto ambos os candidatos realizam projetos de ataques diretos às conquistas sociais, o urgente é preparar um bloco de resistência que busque articular os setores em luta para se defender e contra-atacar os ataques que estão por vir, dando continuidade aos importantes processos de luta que esses últimos cinco anos.

Como salientou o nosso camarada Anasse Kazib, ferroviário de origem imigrante, que lutou até ao último momento contra o sistema eleitoral antidemocrático francês para poder concorrer nestas eleições com uma proposta anticapitalista e de esquerda independente, Nem a peste nem a cólera: nem Macron nem Le Pen.




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