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Demissões na pandemia | "Não tenho família, pago aluguel só, tenho medo": Reitoria da UnB põe 94 terceirizados na rua

Mesmo com acordo coletivo proibindo demissões durante processo de licitação de novas empresas e durante a data-base, dezenas de terceirizados da limpeza da empresa RCA serão demitidos amanhã. Em um momento de avanço da pandemia, a Reitoria da UnB, que se pinta de “progressista”, mostra seu caráter elitista e anti-operário ao descarregar a crise em trabalhadores que são mães e pais de família, alguns com mais de 10 anos de trabalho na universidade.

Rosa Linh Estudante de Ciências Sociais na UnB

Luiza EineckEstudante de Serviço Social na UnB

sexta-feira 14 de janeiro de 2022 | Edição do dia

Cerca de 94 funcionários terceirizados da empresa RCA estão na mira do desemprego e da miséria na UnB, diante da troca da empresa de serviço de limpeza no próximo contrato, que será dia 15 de janeiro. Essa é mais uma medida que escancara o quão anti-operária é a Reitoria. Isso ocorre depois de uma ameaça extremamente elitista e racista de apenas aceitar os trabalhadores que possuem diploma do Ensino Fundamental.

Leia mais: Reitoria da UnB quer jogar trabalhadores na miséria por nova exigência de escolaridade

Mesmo com o Acordo Coletivo determinando que todo terceirizado possui direito de estabilidade por 90 dias e a proibição de demissão durante o período de licitação, mesmo estando no período de data-base - mesmo diante de tudo isso, a Reitoria de Márcia Abrahão não poupou esforços para ignorar tudo e descarregar a crise nas costas das e dos trabalhadores terceirizados da UnB. O caráter racista das universidades no capitalismo fica explícito nesse caso: por um lado, se garante que a pesquisa, ensino e extensão sirva aos capitalistas, enquanto as empresas terceirizadas lucram aos montes; por outro, a universidade fica de pé todo dia com o suor e sangue das terceirizadas, em sua maioria negras e moradoras da periferia, e os estudantes sofrem com cortes de bolsas e com a precarização da vida da juventude.

A imagem acima foi retirada do Acordo Coletivo da categoria, proibindo demissões durante o período de licitação

A situação na voz de uma terceirizada

O Esquerda Diário entrevistou uma trabalhadora terceirizada da limpeza que nos relatou as bárbaras condições de trabalho, perseguições e assédio moral que estão sofrendo.

“O preposto e a Reitoria combinam preços da empresa para a licitação, diminui funcionários, triplica cobrança e o trabalho (...) Estamos muito sobrecarregados, tá muito difícil, as aulas voltam semana que vem né, a cobrança aumentou, multiplicou, triplicou. Eu estou cansada, doente mesmo. Não com a universidade, mas com a situação. Eu fico muito preocupada, não tenho família, pago aluguel só, tenho medo. Não tenho motivo para ir embora, mas estou sendo perseguida, sofrendo calúnias. Estou chateada, sendo vigiada.”

Ao ser perguntada sobre as condições de trabalho, ela nos disse: “Está muito chato, muitos já choraram, ninguém sabe nada, só contam mentiras para a gente, tá muito difícil.”

Sobre o papel da Reitoria, a trabalhadora disse: “A Reitoria está fazendo tudo errado. Estamos em data-base. Eles não se importam. Eles fazem e pronto, ao invés de favorecer a gente que mantém, a universidade limpa todo dia. A empresa e a universidade permitem isso, me sinto sem defesa. Tá todo mundo sofrendo perseguição. Mas eu tenho esperança nos alunos, eles sempre mudam as coisas quando tem algo errado na universidade”

Print de uma conversa cedida por Francisco Targino, militante da CSP Conlutas, com uma terceirizada da limpeza.

Preposta da RCA ameaça trabalhadores e interfere no processo de licitação

Abaixo, reproduzimos textualmente áudios que foram enviados a grupos dos trabalhadores terceirizados e enviados ao Esquerda Diário. Neles podemos ver a maneira cínica como a preposta da empresa RCA na UnB, Nilda, interfere no processo de licitação da empresa, intimidando os trabalhadores.

“Reforçando aí com você tá, tem pessoal das empresas fazendo vistoria na UnB, então eu não quero que ninguém passe nenhuma informação sobre a RCA, como é que funciona, o que é que usa, o que é que utiliza. A gente tá fazendo de tudo para a RCA continuar (...) ninguém tem autorização de passar nenhuma informação para esse pessoal (...)”

Mais uma vez, de forma cínica, Nilda “agradece em nome de Deus” pela empresa ter sido a vencedora do contrato:

“Pessoal boa tarde tudo bem, só para comunicar para vocês que foi homologado graças a Deus, a empresa RCA vencedora do contrato sim da UnB, para quem tinha dúvida (...) todos os recursos foram indeferidos (...) Queria agradecer todos vocês para quem tava torcendo para que a empresa continuasse (...) para quem não estava torcendo, fica meu lamento, porque a empresa vai ficar, em nome de Jesus, aí ou mais uns 5, 6 anos ou mais. Foi um presentão de Natal”

Para deixar os trabalhadores ainda com mais medo e aumentar o assédio moral, uma encarregada da limpeza orientada pela preposta enviou a seguinte mensagem em um grupo de WhatsApp dos terceirizados:

“Bom dia pessoal eu venho aqui pra passar um aviso pra todos vocês como vocês já estão sabendo né que a empresa ela vai nesse novo contrato ficar com 70% do pessoal da limpeza então infelizmente vão ter que sair umas pessoas ta e foi passado de cada encarregado que vai tirar de 5 a 6 pessoas infelizmente, ai eu gostaria de saber de vocês quem é que quer se desligar também da empresa já pode fazer isso ta é porque se alguém quiser se desligar e bom que aí não tem que tirar uma pessoa que as vezes necessita que não queira sair, por isso que estou perguntando. infelizmente cada encarregado vai ter que desligar da empresa de 5 a 6 pessoas foi passado pra nós ontem esse aviso viu gente então quero que vocês entendao bem não é encarregado que está tirando foi passado da empresa que vai diminuir de cada encarregado de 5 a 6 pessoas ta eu quero um ok de todo mundo que viu esse aviso que a nilda me passou pra todos vocês. Obrigado quero um ok de todos vocês.”

As entidades precisam se mobilizar imediatamente contra as demissões das terceirizadas!

A situação é cada vez mais absurda e recorrente. Mais de uma vez, o Esquerda Diário vem denunciando as condições bárbaras de trabalho a que são submetidas as terceirizadas da UnB, com cumplicidade direta da Reitoria.

Leia mais: Terceirizadas sofrem assédio moral e morrem de COVID na UnB com cumplicidade da Reitoria

Diante disso, é preciso seguir o caminho da luta, como os trabalhadores do bandejão central da USP que entraram em paralisação após casos de Covid-19 entre funcionários na unidade e falta de qualquer retorno por parte da reitoria e da diretoria da unidade. A esperança que a trabalhadora terceirizada expressou em seu depoimento com o movimento estudantil demonstra a força das lutas travadas na UnB, da aliança entre estudantes, professores e trabalhadores de questionar profundamente as universidades no capitalismo.

Por isso, é fundamental que o DCEe os Centros Acadêmicos, a ADUnB e SINTFUB, instrumentos de luta da comunidade acadêmica, organizem a mais ampla solidariedade entre os três setores da UnB para com os terceirizados, inclusive chamando à mobilização pela revogação de todas as demissões. A esquerda que está em diversos CAs e no DCE poderia mobilizar seus parlamentares e figuras públicas como Fábio Félix do PSOL para organizar a luta e aumentar a atenção para o caso.

É crucial defendermos a efetivação de todas e todos os terceirizados sem a necessidade de concurso público. Afinal, a terceirização é um mecanismo dos capitalistas para dividir e oprimir ainda mais a nossa classe - no final das contas, as terceirizadas já fazem seu trabalho todos os dias como qualquer efetivo, não há necessidade de concurso!

Essa é a situação que se encontra a classe trabalhadora no Brasil de Bolsonaro, Mourão e do regime do golpe institucional de 2016. Altas taxas de infecção pela COVID, inflação alta, desemprego, fome e demissões. É urgente que as centrais sindicais e a UNE rompam com sua paralisia eleitoreira e organizem um plano de lutas nacional de emergência em defesa do emprego, contra a carestia de vida e por Fora Bolsonaro e Mourão já!




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