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"Não se fala em contratação". Além do vírus, trabalhadores da saúde enfrentam a precarização do trabalho

Por trás de todos esses casos há aqueles e aquelas que estão de prontidão para atender, orientar, acalmar e acompanhar os pacientes: os médicos, as enfermeiras e as trabalhadoras responsáveis pela limpeza dos hospitais.

terça-feira 17 de março de 2020 | Edição do dia

Nestas duas semanas o mundo entrou em alerta com o avanço do Coronavírus. Na China foram infectados cerca de 80 mil pessoas e mais de 3 mil morreram. Na Itália, a quantidade de infectados é menor, porém a mortalidade é 3 vezes maior. Agora, esse vírus já se espalhou por mais de 150 países pelo globo.

Em depoimento, Vitória, trabalhadora terceirizada de um hospital do RJ relata:
"Nós ainda sofremos muito com a falta de informação nos nossos locais de trabalho, como vai ser o atendimento, como deveríamos atuar, os procedimentos de segurança e etc. Além disso ainda lidamos com a ausência de salários e condições insalubres de trabalho... hoje por exemplo, recebemos 4 pacientes com suspeita e não tinha testes no hospital"

Na Itália, uma foto rodou o mundo, símbolo da rotina extenuante vivida pelas trabalhadoras. Uma enfermeira exausta adormece de máscara, luvas e uniforme sentada em frente ao computador. "Trabalhamos o tempo todo, não temos mais turnos, não vejo minha família há quase duas semanas", afirmou Elena Pagliarini, 43 anos.

Aqui no Brasil, apesar de existir um sistema de atendimento público de saúde, o SUS, o mesmo vem sofrendo com a precarização, como mostramos aqui, em 11 anos de cortes na saúde, o SUS perdeu 43 mil leitos para internação. E em um momento de crise pandêmica, o mínimo que deveria ser feito, que é a contratação emergencial de profissionais e investimento em equipamentos, não está sendo realizado, como relata Marília, trabalhadora do Hospital Universitário da ZO de São Paulo:

"Até o momento não se fala em contratação para essas áreas emergenciais. Os clínicos e funcionários terão que se desdobrar para fazer o atendimento dos pacientes que chegam e as trabalhadoras da limpeza serão realocadas, então vamos continuar trabalhando com o número de funcionários que tem no hospital hoje".

Se adentrarmos no interior do Brasil, veremos que a situação é ainda pior.

Uma moradora da cidade de Oiapoque, cidade que faz fronteira com a Guiana Francesa e que mantém relações comerciais e turísticas com os estrangeiros e que fica distante 12h de ônibus da capital Macapá, relata:

"Se a doença chegar por aqui estaremos entregues ao acaso. A cidade só tem 5 kits para fazer o teste e o único hospital é quase todo desprovido de recursos"

Não podemos confiar nem entregar nas mãos daqueles que por exemplo aprovaram através de um golpe institucional em 2016 um Teto de Gastos para a saúde, o cuidado com com nossas vidas.

Por isso, os trabalhadores devem ter espaços de discussão onde possam decidir como vão se expor menos aos riscos, estabelecendo uma rotatividade mais adequada entre os trabalhadores das áreas de maior exposição. É preciso formar um comitê de crise composto por trabalhadores eleitos em cada unidade, efetivos e terceirizados, como representantes, e que sejam, junto a especialistas, os que vão decidir as medidas para a crise.

Derrubando a Lei do Teto, será possível reabrir todos leitos de UTI fechados além de abrir novos leitos para atender as demandas dessa crise. Precisamos para agora de um SUS 100 por cento estatal, sob controle das trabalhadoras e dos trabalhadores em parceria com a população.




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