×

Não queremos a ascensão de algumas queremos a liberdade plena de todas. Não queremos ocupar cargos nas empresas e na política pra atacar as mulheres trabalhadoras, queremos o fim de todo esse sistema de superexploração e opressão patriarcal.

segunda-feira 12 de dezembro de 2016 | Edição do dia

Muitas revistas e jornais digitais têm soltado matérias sobre "as mulheres em 2016". O El País ontem por acaso estampou a capa da sua com minas anticapitalistas, numa matéria com um conteúdo radicalmente oposto à essa concepção. Interessante esse movimento da grande mídia, pois expressa o fato inegável de que explodimos como força social. Que uma forte voz feminina de basta entrou na cena não apenas nas redes sociais mas também nas ruas. Por outro lado, falam sobre "mulheres" e "representatividade" em geral, o que para nós feministas anticapitalistas e revolucionárias não existe.

Falam sobre as diferenças salariais existentes entre homens e mulheres e contrapõem a isso a boa notícia dos altos cargos de chefia em grandes empresas ocupados por mulheres e de grandes marcas que tiraram do ar propagandas machistas pela pressão do movimento feminista. Ora, aí eu questiono, o fato de algumas mulheres terem chegado à liderança internacional de empresas ajuda a que as massas de mulheres trabalhadoras deixem de seguir nos postos de trabalho mais precários dessas mesmas multinacionais, e conquiste alguma equiparação frente aos salários masculinos? O fato de terem campanhas empresariais "feministas" de "mulheres podem ser engenheiras" mostrando algumas privilegiadas que conseguiram isso muda algo no fato de que a esmagadora maioria de mulheres segue sendo criada pra ser esposa e mãe? E somos a ampla maioria sem diploma ou emprego no mundo?

A resposta é não. Essas empresárias não representam um avanço do "conjunto das mulheres", pelo contrário representam uma ínfima minoria de mulheres da elite e não a grande maioria. A presença crescente de grandes líderes nacionais e internacionais, como na lista das 10 mulheres de 2016 do Financial Times, mudou em alguma coisa nesses mesmos países a situação de violência e falta de direitos das mulheres? H. Clinton será mesmo uma representação do "avanço" rumo a emancipação das mulheres que ela mesma explora e oprimi não só em seu país como em muitos outros? Por acaso sob o governo de Dilma Roussef as mulheres no geral se beneficiaram no país? ou apenas continuamos morrendo nos abortos clandestinos e nos trabalhos terceirizados que nunca cresceram tanto?

Hoje a Tati Quebra Barraco, assim como a Elisabeth, mulher do Amarildo, essas sim representam grandes massas de mulheres desse Brasil, que estão na mesma situação de violência estatal que o caso delas evidencia. São milhares de mulheres perdendo seus filhos, maridos e suas vidas na mão do estado capitalista. Essas não contam nas notícias da grande mídia. E quantas terão a oportunidade de serem "presidentas" ou o q essas presidentas mudam pra nós? Nenhuma empresária ou estadista pode representar ou levar a frente a luta das mulheres pela emancipação, estão nesse momento todas juntas para colocar nossa luta em suas bocas e ver como nos calam pra manter a ordem (patriarcal) dominante e passar todos os ajustes contra as massas trabalhadoras frente a crise pra manter seus lucros. Não queremos a ascensão de algumas queremos a liberdade plena de todas. Não queremos ocupar cargos nas empresas e na política pra atacar as mulheres trabalhadoras, queremos o fim de todo esse sistema de superexploração e opressão.

A força que se mostra nas redes e nas ruas não pode ser aprisionada em ícones, em figuras como dessas mulheres que representam a classe dominante e passam ao largo de representar qualquer avanço para as mulheres trabalhadoras, e mesmo conquistar direitos elementares para todas as mulheres como o direito ao aborto e ao próprio corpo. Nossa voz precisa ser independente "dessas mulheres" e quem elas representam de verdade. O feminismo tem que voltar a ser perigoso e revolucionário, e não um consultor de empresas e governos como prega essa matéria do El País, essa é a perspectiva que eu e a Stephanie defendemos, e é muito emblemático essa apropriação e distorção da nossa voz quando estampamos sua capa.

Se você chegou até aqui na leitura te convido a ler esse texto sobre a cooptação capitalista e o feminismo empresarial, da minha companheira de Pão e Rosas e ex candidata a vereadora Diana Assunção.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias