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28S: DIA DE LUTA PELA DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO | Na cidade mais rica do Brasil uma mulher ganha em média R$1762,00 e o aborto chega a custar R$5 mil

Em São Paulo, cidade mais rica da nação o aborto clandestino chega a custar 5 mil reais. O salário médio da mulher brasileira, no entanto, é de R$1762,00 de acordo com o IBGE.

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

quinta-feira 28 de setembro de 2017 | Edição do dia

As luzes e os prédios futuristas de São Paulo impressionam. Pela Avenida Paulista os arranha-céus trazem uma ideia de modernidade, uma cidade livre e cosmopolita. A maior cidade do Brasil, no entanto, traz dentro de si as contradições da cidade grande e sua modernidade.

Assim como no resto do Brasil, o aborto é crime em São Paulo. Porém, assim como em qualquer cidade, o fato de ser proibido não impede de acontecer. Em clínicas luxuosas nos jardins se paga 5 mil reais por um procedimento simples e rápido. Num país onde 6 pessoas concentram toda a riqueza de metade da população, a maioria das mulheres não tem 5 mil reais para pagar uma clínica clandestina no Jardins. Quem não tem esse dinheiro está entregue à própria sorte, à agulhas de tricô, cabides, e um sem fim de clínicas clandestinas mais baratas porém pouco seguras. Não à toa, o aborto é a 5ª causa de mortes maternas. Recorrem a clínicas clandestinas precárias e morrem.

De acordo com dados publicados pelo IBGE de 2013, estima-se que mais de 412 mil mulheres praticam o aborto só na região sudeste. São Paulo corresponde à 52% da população da região. Embora os dados não tratem especificamente por estado ou por cidade, a maior e mais rica cidade do brasil também concentra um número absoluto elevado de abortos clandestinos.

De acordo com relatos, anônimos, pois o aborto ainda é crime sujeito à prisão no Brasil, clínicas clandestinas chegam a cobrar 5 mil reais pelo procedimento. São clínicas luxuosas, localizadas em bairros nobres da cidade. Lá o médico realiza com todo cuidado o procedimento que é muitas vezes simples.

Porém, quem tem 5 mil reais para pagar em uma clínica desse tipo? Milhares de mulheres em recorrem a parentes, amigos, se endividam. Mas muitas não conseguem essa quantia. No Brasil uma mulher negra chega a ganhar 60% menos que um homem branco. A cidade mais rica do Brasil é também uma das mais cara: aluguel, transporte e alimentação mal cabem no bolso. Muitas mulheres acabam recorrendo a métodos pouco seguros ou clínicas clandestinas precárias. Muitas acabam tendo complicações graves. Algumas pagam com a vida o preço da proibição do aborto no Brasil.

Jefferson Drezett é responsável pelo serviço de aborto legal do hospital Pérola Byington que fica em São Paulo. Em entrevista concedida a revista Galileu em 2016 afirmou categoricamente
"Se todos esses abortos inseguros fossem feitos de maneira segura, eu não vou dizer que poderíamos salvar todas as mulheres, porque isso seria impossível, mas nós iríamos passar de 47 mil mortes por ano para algo entre 80 e 100 mortes por ano".

M., de 27 anos, realizou há pouco mais de 1 ano um aborto em uma dessas clínicas. Conta o que sentiu:
“Senti raiva ao perceber quão simples é o procedimento. Entrei numa sala acompanhada de duas enfermeiras e o médico que antes havia me explicado cada detalhe de cada etapa. Foi o tempo de uma endoscopia, 15 minutos para fazer a sucção e eu voltar da anestesia geral. Sem dor alguma durante, a dor de uma forte cólica menstrual que vai progressivamente diminuindo até não doer nada uma hora após o procedimento, cessando junto a um sangramento. Ele me explicou que a dor que eu sentia era do meu útero voltando a se contrair. Tudo foi exatamente como ele me descreveu. Raiva, pois milhares de mulheres morrem todo ano por não fazerem de modo seguro, porque é caro, porque desconhecem os procedimentos clínicos, porque não podem pedir ajuda, porque quando são socorridas são maltratadas pela hipócrita moral cristã que pesa sobre o sistema de saúde e seus profissionais.”

A proibição do aborto não traz somente consequências materiais às mulheres. O peso da proibição unido à pressão da religião, acarreta subjetivamente um peso enorme a essas mulheres, como um estigma social. Mesmo quando conseguem pagar pelo procedimento, a proibição ao aborto lhes custa muito mais. Se fosse legalizado esse estigma seria menor ou não existiria. Porque o aborto é crime aquela que o pratica é criminosa. Não fosse isso, essa “culpa” não existiria.

Em São Paulo, assim como no Brasil, custa caro ser mulher. Ganha-se pouco, menos ainda se for negra. Pagam 5 mil reais para realizar um aborto clandestino seguro ou pagam com a própria vida se não tiverem esse valor. A proibição do aborto não impede ele de acontecer. Mas porque ele é proibido milhares morrem todos os anos.




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