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O assassinato de Michael Brown evidenciou o caráter racista da sociedade estadunidense. A brutalidade policial não distingue gênero, mas o assassinato de mulheres negras são invisibilizados na mídia

Celeste MurilloArgentina | @rompe_teclas

sábado 25 de julho de 2015 | 00:00

O assassinato de Michael Brown evidenciou o caráter racista da sociedade estadunidense. A brutalidade policial não distingue gênero, mas o assassinato de mulheres negras são invisibilizados na mídia.

A impunidade da brutalidade policial é a expressão mais aguda, a manifestação evidente do racismo, que perdura na sociedade norteamericana, discrimina e marginaliza 13% de sua população. As mulheres negras representam um setor sobre o qual recaem os prejuízos “cruzados” por seu gênero, rua raça e especialmente sobre as pobres, por sua classe.

Malcon X Grassroots Movement, um organismo de direitos humanos da comunidade afroamericana, diz que há uma pessoa negra assassinada pela Policia oi forças repressivas a cada 28 horas. Desde o assassinato de Brown, se calcula que a policia assassinou 14 adolescente incluindo Tamir Rice de 12 anos.

Seria ingênuo acreditar que a ausência de vitimas femininas da violência policial na mídia corresponde com a ausência de vítimas. Afinal, os meios de comunicação não transmitem a realidade, são só uma forma de vê-la e não casualmente essa forma reponde a preconceitos e bom sensos, que neste caso combinam racismo e machismo.

Desde a época dos linchamentos até a brutalidade policial contemporânea, a imagem da vitima da violência racial institucional é masculina. Essa construção faz com que as mulheres e meninas assassinadas pela polícia sejam vistas como raras ou excepcionais, quando na realidade tem sido objeto de vexames e humilhações racista ao longo da historia.

A revista Bitch explica que os nomes das mulheres assassinadas pela policia raras vezes ficam na memória das pessoas e não tem o mesmo protagonismo nos meios de comunicação que casos como o de Brown e Garner. “O machismo impacta em todos os aspectos da vida das mulheres negras, incluindo a forma em que somos tratadas, ou não mencionadas, na mídia depois de nossas mortes. Ainda assim, nossa experiência com as forças de segurança é muito parecida com a dos homens”.

A invisibilização das mortes é o ponto mais alto da desigualdade e da discriminação que recai sobre as mulheres afroamericanas por seu gênero e raça (somando o fato de que a maioria é pobre).

Morrer é uma possibilidade, viver na pobreza é uma certeza.

Desemprego. A taxa de desemprego é significativamente mais alta entre as pessoas negras: 12,2% contra 6% entre as pessoas brancas (2013). E embora o desemprego feminino abaixou de 6,2% para 5,7% no ultimo ano, essa queda foi desigual: entre as mulheres negras segue acima da média 10,8%.

Salários. Segundo o ultimo censo, 13,1% das mulheres da classe trabalhadora são afroamericanas. Por sua vez essas mulheres representam a renda principal ou única de 53% das famílias negras.

As mulheres de conjunto ganham em média 77 centavos por cada dólar que ganha um homem. Para as mulheres negras a lacuna salarial é “dupla”, recebem 64 centavos por esse mesmo dólar. Ganham um salário menos que os homens negros e que as mulheres brancas.

Essa lacuna “dupla” as coloca na escala mais baixa do seguro social. Uma mulher negra deve subsistir com um terço da renda média de um homem branco na aposentadoria.

Pobreza. O ultimo censo de pobreza (2011) mostrou o dado escabroso que nos Estados Unidos 3 a cada 10 pessoas são pobres. A taxa de pobreza feminina é a mais alta nos últimos 20 anos (14,6%), e essa taxa quase se duplica entre as mulheres negras (25,9%).

As mulheres negras tem mais possibilidade que suas companheiras brancas de ser uma trabalhadora pobre (renda abaixo da linha de pobreza). De fato as duplicam com uma porcentagem de 14,5% contra 6,6%.

Essas diferenças constroem uma desigualdade brutal. Para citar um exemplo: uma mulher branca solteira entre 35 e 49 anos possui uma “riqueza” (entre renda e bens próprios) em média de 42.600 dólares, um pouco mais da metade de um homem branco (70.300 dólares). Uma mulher negra do mesmo grupo teria como posse uma “riqueza” de 5 (cinco) dólares.

A diferença é aguda e explica a dependência de uma grande parte de mulheres negras da ajuda estatal. Os baixos salários as condenam aos bairros pobres com más condições de moradia, sem acesso à saúde e educação de qualidade, isso não tem feito mais do que alimentar ao longo da histórica uma cadeia constante de marginalização e estigmatização.

Invisíveis. Aiyana Stanley-Jones, Darnesha Harris, Mackala Ross, Delores Epps, Eleanor Bumpurs, Karen Day, Malissa Williams, Shantel Davis, Shelly Frey, Tyisha Miller, Yvette Smith, Tanesha Anderson, Michelle Cusseaux. Todas elas (que não são todas) são Michael Brown e Eric Garner, seus assassinatos estão impunes, mas seus nomes não saem no jornal (no máximo “mulher foi morta”). O silenciamento não é mais o ultimo link de uma cadeia de violência econômica e institucional que recai sobre as mulheres negras. Ignorar suas mortes é só confirmação do desprezo por suas vidas.

Publicado originalmente em 12 de dezembro de 2014.




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