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POLÍTICA | Mourão e a difícil missão de desvincular a COAF do governo

O caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro e seu ex-acessor Fabrício Queiroz, segundo o vice-presidente General Hamilton Mourão, "não tem nada a ver com o governo". O general tenta, em vão, separar o escândalo nacional da imagem do governo federal para poder aplicar melhor os planos de ajustes da gestão Bolsonaro.

segunda-feira 21 de janeiro de 2019 | Edição do dia

O caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro e seu ex-acessor Fabrício Queiroz, segundo o vice-presidente General Hamilton Mourão, "não tem nada a ver com o governo". O general tenta, em vão, separar o escândalo nacional da imagem do governo federal para poder aplicar melhor os planos de ajustes da gestão Bolsonaro.

Queira Mourão ou não, o escândalo nacional envolvendo Flávio Bolsonaro, o filho do presidente da república, segue sendo um problema para o governo. Recentemente, o acusado pelo COAF (Conselhos de Controle de Atividade Financeira) fez uso de foro privilegiado, mesmo depois de ter aparecido em vídeo com seu pai, Jair Bolsonaro, dizendo que quem usa esse recurso é bandido. Nas redes sociais o assunto é um dos mais falados e até a Globo – que de anti-corrupta não tem nada – tem dedicado “alfinetadas” sutis ao caso.

Em entrevista à agência Reuters, o General que assume a presidência do Brasil por uma semana devido à viagem de Bolsonaro a conferência internacional em Davos (!), tentou separar o escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro e Queiroz do governo federal, em uma tentativa de dialogar com setores de sua própria base eleitoral que agora passam a se questionar se Jair Bolsonaro não é na verdade o que tentou desesperamente atestar não ser: mais um dos políticos tradicionalmente eleitos no capitalismo, envolvido em escândalos de corrupção, desvio de verbas, favorecimento de amigos e acordões. O objetivo de Mourão, de proteger o governo, é apenas porque quer levar adiante, junto à equipe econômica mais ajustadora da história, um enorme ataque contra a classe trabalhadora, que é a reforma da previdência, entre outras medidas, como a venda de aeroportos, da Eletrobrás, a venda pouco a pouco da Petrobras.

O golpismo e a parcialidade buscam conquistar terrenos fortes na consciência das massas para levar adiante os ataques que geraram o golpe institucional. Isso porque os ricos e empresários queriam que os ajustes fossem ainda mais rápidos do que o próprio PT já vinha fazendo.

O golpismo e a parcialidade do judiciário seguem, após consolidado o golpe institucional com essas eleições fortemente manipuladas, escancarados. Luiz Fux, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, na tentativa de blindar o governo, adiou a análise do caso, que vai a sorteio na volta do recesso do judiciário. Moro, que comprovou com a sua nomeação a super ministro suas intenções políticas com a Lava Jato, se mantém em silêncio sobre o caso, o que leva a algumas perguntas. A primeira delas, se os rumos da Lava Jato saíram do controle, ou se a aparição da família Bolsonaro na lista de investigados pela operação é uma forma de garantir controle sobre o que parece incontrolável: essa família de protofacistas que vão muito além da correlação de forças, testam limites contra a classe trabalhadora, o movimento de mulher, a luta negra, LGBT e indígena. Há nas mídias burguesas um uníssono. Folha, Estadão, Globo, todas juntas pedem desperadamente que Bolsonaro, Damares e cia parem de provocar os ânimos dos ativistas e coloquem o governo todo focado na reforma da previdência. Será que Moro, com a COAF, tenta colaborar para isso?

Não é só Mourão que está tentando separar o governo e a si mesmo do escândalo. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional já havia declarado que o caso é assunto de Flávio, não do governo, e Bolsonaro vai tratar assim. Também o ministro da casa-civil, Onyx Lorenzoni, disse que o presidente é vítima de chacotas por um caso em que nem envolvido está – apenas seu filho e sua esposa, a própria primeira dama, tendo recebido ao menos R$24 mil das transações de Queiroz.

Até escudeiros fiéis dos Bolsonaro, como o MBL, têm tentado se relocalizar para salvar a própria aparência. O próprio deputado Kim Kataguiri declarou que Flávio Bolsonaro é indefensável. De fato, é difícil defender qualquer um da família Bolsonaro, que sempre fez parte da cúpula mais reacionária da burguesia, que sempre se apoia sobre os ataques aos trabalhadores e à população para enriquecer. Mas o MBL pouco se importa, e defenderia os Bolsonaro caso isso não lhes custasse tantas “manchas no currículo”.

Todas essas movimentações de políticos, juízes e militares seriam cômicas se não fossem trágicas. À classe trabalhadora e à juventude cabe confiar nas próprias forças, e lutar pelo fim da tão ultimamente falada “mamata”. Todo político e todo juiz deveria ser não apenas eleito, como revogável a qualquer momento caso seu mandato não esteja a serviço da população. Todos os crimes de corrupção deveriam ser julgados por comissões independentes de especialistas e trabalhadores, que ganhem o salário de uma professora, e não por juízes superprivilegiados. E todas as nossas vozes e mãos devem batalhar e exigir juntas que nossos sindicatos estejam a serviço das lutas da nossa classe, aliando os combates em defesa de cada direito que querem arrancar das mulheres, negras e negros, LGBTs, povos originários, junto da batalha contra a reforma da previdência e as privatizações, superando os limites dessa já podre burocracia sindical, que ao início do ano prometeu "respeito" ao governo, e que, no caso da CUT, se restringe junto ao PT a uma suposta luta parlamentar, como se um punhado de deputados fossem mais fortes que a energia das massas trabalhadoras em luta, com as mulheres, negras e negros à frente.




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