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ATOS BOLSONARISTAS | "Motociata" tem baixa adesão, mas é funcional a política bolsonarista

Bolsonaro realizou nesse sábado mais um ato junto à sua base reacionária. Novamente, a demonstração de força foi abaixo do esperado, mas a principal aposta de Bolsonaro é manter seu bloco engajado e nas ruas. Não serão as eleições a derrotar essa base de extrema-direita, precisamos responder nas ruas, massificando a mobilização para o dia 19J.

segunda-feira 14 de junho de 2021 | Edição do dia

Longe de ter sido a vitória que o bolsonarismo pinta, o “maior passeio motociclístico do mundo” nas palavras do presidente e com delirantes 1,3 milhão de pessoas segundo suas fake news, a motociata realizada na cidade de São Paulo pela base de extrema-direita foi mais uma vez uma frágil demonstração. Bolsonaristas esperavam 100 mil pessoas, mas segundo números da polícia e da mídia foi mais próximo de 10 mil. Contra a manipulação bolsonarista, as imagens aéreas são indiscutíveis, principalmente quando contrastadas com a impressionante multidão que tomou a Av. Paulista para gritar "Fora Bolsonaro”.

Ainda assim, a conta-gotas, Bolsonaro vai conseguindo dar mostras daquele eleitorado fiel de 30% que o habilitam ao segundo turno. Esses atos também vão expondo as características dessa base dura. Sob o mote de “Acelera para Cristo”, mostrando a simbiose com a base evangélica, e com a convocação feita por motos-clube e grupos de tiro, cuja bandeira de liberação generalizada do porte de armas é uma bandeira do presidente. O ato em São Paulo repetiu o que já havia ocorrido no Rio de Janeiro, onde uma força policial desproporcional foi mobilizada para estar presente, 1.000 policiais acompanharam o ato na capital fluminense e 1.433 na cidade paulista. Muito mais do que garantir a segurança do presidente, esses policiais foram parte de engrossar os contigentes bolsonaristas, mostrando o compromisso desse setor com o presidente reacionário.

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Bolsonaro vai buscando também dar essas demonstrações em locais estratégicos. Brasília foi o palco montado para que todo o agronegócio do centro-oeste girasse suas bases em apoio, Rio de Janeiro é seu bastião em que foi eleito inúmeras vezes a deputado. O ato em São Paulo foi uma óbvia provocação a Doria, que se coloca no campo da oposição demagógica a Bolsonaro. Além desse comparecimento disfarçado e massivo dos policiais, ao custo de um R$ 1,2 milhão diga-se de passagem, outro gesto de apoio de dentro da base tucana veio da prefeitura paulista, que sob o comando de Ricardo Nunes (MDB), empenhou R$ 75 mil reais para a realização do evento, sob o pretexto da colocação de gradis. Nunes, que era membro da bancada da bíblia na Câmara Municipal, pode se converter numa peça determinante nos rumos do MDB, que com Temer, seu padrinho político, tem flertes com Bolsonaro.

Por tudo isso, ainda que o quadro geral seja de debilidade de Bolsonaro, a sucessão de atos vai se convertendo em ponto de apoio para que ele possa contrapor o isolamento em que os ensaios de frente ampla buscam lhe jogar. Sua tropa bolsonarista segue como um capital político importante para que ele siga atraente e obrigue setores do regime golpista a acenarem para ele, dialogando com sua base. Como o caso, por exemplo, dos governadores do centro-oeste que apoiaram sua aposta de tornar o Brasil sede da Copa América.

Como derrotar o bolsonarismo?

Frente a isso se coloca a questão de como derrotar o bolsonarismo. Uma base reacionária composta por militares, policiais, a cúpula das igrejas, setores do agronegócio e parte da classe média arruinada que não vão desaparecer mesmo diante da derrota eleitoral em 2022. Setores que são expressão das transformações estruturais do regime pós-golpe, que produziram um realinhamento do regime à direita muito mais reacionário do que já era, cujo peso atrai a direita neoliberal disposta a todo acordo no campo dos costumes e automaticamente alinhada no objetivo de descarregar a crise nos trabalhadores e setores oprimidos, através das reformas, demissões, privatizações e precarização dos serviços públicos.

Acreditar que esse regime irá combater Bolsonaro é dar espaço para que as instituições lavem sua cara, enquanto essa base bolsonarista segue se fortalecendo por dentro do regime, com a conivência e cumplicidade de seus demais atores. Como os militares que estão espalhados pelas mais distintas áreas do governo, gozando de muitos privilégios materiais. Como é o caso do presidente da Câmara, Arthur Lira, disposto a aprovar o voto impresso, desde que sejam votadas também as reformas administrativas e tributárias. Assim como, são o caso dos governadores que se dobram às vontades de suas bases policiais reacionárias.

Para derrotar Bolsonaro mas também sua base reacionária, não é possível ter ilusões de que será esse regime através de saídas institucionais que conduzirá essa luta, como a CPI da covid, o impeachment ou mesmo o desfecho planejado para as eleições. É a força dos trabalhadores e da juventude, que já tomou as ruas no último dia 29 de maio, que pode varrer Bolsonaro, Mourão e os militares, combatendo todo o regime degradado. Para isso é fundamental que os trabalhadores apresentem o seu programa para superar a crise econômica e sanitária, contrapondo uma resposta classista às saídas reacionárias da extrema-direita e também aos ataques da direita tradicional.

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