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FORTUNA SUÍÇA DE EDUARDO CUNHA | Milhões de reais desviados por Cunha pagaram academia de tênis e cursos no exterior

sábado 10 de outubro de 2015 | 00:58

Nesta sexta-feira, 9, foram divulgados detalhes do "giro do dinheiro", mais de R$ 2,4 milhões, desviados por Eduardo Cunha (PMDM-RJ). A conta aberta na Suíça em nome da esposa do presidente da Câmara, a jornalista Cláudia Cordeiro Cruz, foi usada para pagar despesas pessoais da família do parlamentar. Aberta em fevereiro de 2008, a conta recebeu 12 repasses no valor total de US$ 1,050 milhão até janeiro do ano passado.

A conta em nome de Cláudia foi registrada no nome fantasia de Kopek e pagou gastos de cartão de crédito, academia de tênis na Flórida e cursos na Espanha e no Reino Unido. Entre 4 de agosto de 2011 e 15 de fevereiro de 2012, foram transferidos US$ 119,795 mil da conta de Cláudia à universidade espanhola Esade.

Atividades da Petrobrás na África também teriam beneficiado Cunha e sua esposa

Documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça ao Brasil comprovam que um negócio de US$ 34,5 milhões de dólares fechado em 2011 pela Petrobras, em Benin, na África, serviu para irrigar as quatro contas que têm o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e sua esposa, Cláudia Cordeiro Cruz, como beneficiários.

O "giro do dinheiro", como classificam os investigadores sobre o caminho para chegar até o parlamentar, é considerado mais interessante do que o valor bloqueado pelas autoridades suíças em 17 de abril, no total de 2,468 milhões de francos suíços. Convertido em reais pelo câmbio atual, o montante corresponde a R$ 9,638 milhões.

O caminho do dinheiro começa no pagamento da Petrobras à petroleira africana Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl (CBH), que celebrou em Benin a venda de 50% de um bloco de petróleo à estatal brasileira. A conta da empresa tem como titular o brasileiro Idalécio de Oliveira, que repassou US$ 31 milhões à Lusitânia Petroleum Ltd, controladora da CBH, que permaneceu com a outra metade do bloco. De acordo com as investigações, a conta da Lusitânia está em nome de Idalécio. Por meio desta conta foram destinados US$ 10 milhões, em maio de 2011, ao empresário João Henriques, apontado como lobista do PMDB no esquema de corrupção na Diretoria Internacional da Petrobras. Henriques disse em depoimento à força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, que fez uma transferência bancária a um político no âmbito de um contrato da estatal para aquisição do campo de exploração em Benin.

Investigadores brasileiros calculam em ao menos 15 dias o tempo para fechar a primeira etapa da análise das contas de Cunha e decidir pela abertura de um inquérito perante o Supremo Tribunal Federal ou oferecimento direto de uma denúncia à Corte.

As autoridades suíças conseguiram bloquear apenas duas das quatro contas ligadas ao parlamentar. Isso porque o deputado encerrou as outras duas em abril e em maio do ano passado, após o início das investigações da Operação Lava Jato. As quatro contas foram abertas entre maio de 2007 e setembro de 2008. Anos antes, portanto, do recebimento dos valores oriundos do negócio da África. Investigadores brasileiros apuram a partir de agora como os negócios foram irrigados antes de 2011 e a existência de possíveis outras contas ligadas ao deputado.

Eduardo Cunha e impeachment

Em postura defensiva com relação ao processo de impeachment de Dilma devido a rejeição de suas contas pelo TCU, Cunha afirmou nesta sexta, 9, que a discussão é jurídica e há argumentos contra e a favor, o fato ocorrido no primeiro mandato não pode ser usado um pedido de impeachment no segundo governo: "Meu entendimento é que o mandato anterior não contamina o mandato atual". Os partidos de oposição se reunirão na terça-feira (13) em Brasília para tomar uma posição conjunta sobre a situação de Cunha. Nos bastidores, os líderes oposicionistas na Câmara estão cientes de que a situação do peemedebista está insustentável, mas ainda evitam se manifestar publicamente sobre o caso para não prejudicar a estratégia para tentarem abrir um processo de impeachment contra Dilma, aproveitando o impacto da reprovação das contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Análise

O escândalo de corrupção envolvendo Cunha ganha força no mesmo momento em que o TCU (Tribunal de Contas da União) rejeita as contas de Dilma - veja aqui e aqui - (que começam a ser avaliadas pelo Congresso a partir da semana que vem e que serão julgadas possivelmente apenas no próximo ano pelo regimento da Câmara e Senado) e que, ao mesmo tempo, o governo busca se recompor politicamente com o PMDB a partir da reforma ministerial. Eduardo Cunha (PMDB/RJ), antes o “grande opositor” do governo Dilma, demonstra novamente, que não é o pilar da estabilidade política do regime, podendo perder seu mandato de presidente de Câmara.

Cunha está se liquidando politicamente e não é uma figura insubstituível, o próprio regime político em nome a agenda máxima do ajuste fiscal contra os trabalhadores e a favor dos lucros dos empresários, irá encontrar um substituto, já se destaca dentro do PMDB na Câmara, por exemplo a figura do deputado do RJ, Leonardo Picciani (líder da bancada do PMDB).

Os detalhes nefastos do “caminho do dinheiro”, milhões de reais desviados por corrupção por Eduardo Cunha desde, pelo menos, 2007, com destino à paraísos fiscais como a Suíça, são mais um exemplo de como a corrupção é parte da sustentação do regime político de democracia dos ricos que vigora no país. Um regime que estruturado para defender os interesses dos capitalistas e latifundiários, como desenvolvemos em artigo publicado esta semana - veja aqui.

Agência Estado/Esquerda Diário

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil




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