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CULTURA NEGRA | Milhares de pessoas celebram a resistência negra em Campinas

Neste sábado, dia 9 de Julho, aconteceu o 13º Arraial Afro Julino da comunidade do Jongo Dito Ribeiro na Fazenda Roseira, um grande evento cultural de resistência negra.

domingo 10 de julho de 2016 | Edição do dia

Este foi o 13º Arraial Afro Julino do Jongo Dito Ribeiro. O evento acontece por dentro e no entorno de um antigo casarão de uma fazenda do período colonial brasileiro. Na cidade de Campinas, a última cidade do Brasil a abolir a escravidão, nas salas onde os escravos serviam os senhores, na terra onde o povo negro trabalhava até a exaustão, nas senzalas onde etnias negras de todas as partes da África sofriam com as torturas dos açoites, o som dos tambores, das alfaias, do berimbau, a música e os rituais de matrizes africanas reverberavam em um belíssimo gesto de resistência. O caráter subversivo deste evento festivo aglutina coletivos, organizações e ativistas de esquerda de toda a cidade para celebrar a luta do povo negro contra o racismo e todas as outras formas de opressão. Milhares de pessoas passaram pelo evento que durou das 12h do sábado até as 6h do domingo, repleto de atividades culturais, exposições, muita música e dança. Na organização do evento ajudam coletivos da questão negra, terreiros e grupos de religiões de matrizes africanas de toda a cidade. O espírito da luta contra tadas as formas de opressão, racismo, machismo e LGBTofobia predominava em todos os espaços do evento. Não faltaram também manifestações contra o golpe institucional e pelo fora Temer.

O evento também foi marcado pela qualidade das apresentações artísticas e culturais. Além do tradicional jongo, tiveram apresentações de bandas e discotecagem de samba, soul e rap. Uma das atrações mais apreciadas pelo público foi a banda Aláfia. Com uma tremenda presença de palco, composto por três excelentes vocalistas cheios de carisma e personalidade, sax, gaita, percussão, bateria, teclado, flauta, trompete, todos executados com maestria pelos músicos, repleto de efeitos visuais de iluminação, os milhares na plateia não cansaram de dançar ao ritmo contagiante da mistura de samba, rap e soul. A postura da banda no palco não era apenas contagiante pela carisma, pela dança e pela paixão com que executavam cada música, mas também pela firme crítica ao racismo, ao sistema de opressões e pela celebração da resistência, reivindicando cada aspecto da cultura negra, misturando manifestações faladas com a própria música de forma sensível em uma só intervenção artística.

Após o show o Esquerda Diário foi ao camarim para entrevistar integrantes da banda, que nos receberam com muita atenção. O Brasil passa por uma grande politização, setores da direita vem ganhando expressão e força social, e os direitos democráticos estão ainda mais ameaçados, ao mesmo tempo a cultura vem sendo um grande nicho de resistência e os setores oprimidos, negros, mulheres, LGBTs e toda a juventude vem se levantando para defender seus direitos e seu futuro. Sobre este cenário convidamos os integrantes entrevistados da banda a se manifestarem livremente e enviarem uma mensagem através do Esquerda Diário. Xenia, mulher negra e vocalista da banda, antes de começarmos a filmar as mensagens, ressaltou a importância de estar em uma antiga senzala, onde os negros eram torturados, e poder manifestar esta resistência em um momento onde quanto mais se expressa a luta contra o racismo, o machismo e outras formas de opressão, quanto mais estes setores saem da posição para as quais foram designadas e emergem socialmente, maiores se tornam as represálias contra eles, por isso temos que fazer aquilo que esta dentro do nosso alcance e não abaixar a cabeça.

Abaixo seguem as mensagem gravadas durante a entrevista com Xenia França, Jairo Pereira e Eduardo Brechó.


Temas

Racismo    Música    Cultura



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