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MÉXICO: HÁ TRÊS ANOS DA “SEXTA-FEIRA NEGRA” | México: O que devemos ao #YoSoy132?

Nesse dia começou um ciclo de politização e mobilização juvenil de cunho nacional que questionou os traços mais antidemocráticos do regime mexicano. Desde a greve de 1999 na Unam, com a criação do Consejo General de Huelga (CGH), não havia um movimento estudantil e juvenil no país, dessas características e dimensões.

Sergio MoissenDirigente do MTS e professor da UNAM

quinta-feira 14 de maio de 2015 | 00:01

No dia 11 de maio de 2012, na Universidad Iberoamericana, um grupo de estudantes protestou em pleno ato de campanha de Enrique Peña Nieto. O protesto, inesperado, obrigou Peña Nieto a se ocultar no banho da universidade. Os jovens tinham as mãos pintadas de sangue, simbolizando a brutal repressão de Atenco[1], e gritavam consignas de “Fora Peña”.

Nesse dia começou um ciclo de politização e mobilização juvenil de cunho nacional que questionou os traços mais antidemocráticos do regime mexicano. Desde a greve de 1999 na Unam, com a criação do Consejo General de Huelga (CGH), não havia um movimento estudantil e juvenil no país, dessas características e dimensões.

O #YoSoy132 colocou o país em correspondência com um fenômeno internacional de politização e mobilização juvenil. Desde 2011 a juventude liderou a luta contra a crise capitalista iniciada em 2008 nos Estados Unidos. Ainda que os fenômenos juvenis do último período tenham peculiaridades nacionais e diversos graus de questionamento, o processo de conjunto decantou uma nova geração de ativistas em distintos níveis.

Os processos mais avançados desta politização foram em Túnis e no Egito, onde os mártires Khaled Zaid y Mohamed Bouazizi simbolizaram os processos da “Primavera Árabe”. A juventude da revolução egípcia e tunisina se destacou por sua aliança com os trabalhadores do Canal de Suez e da zona mineira de Gafsa para derrubar as odiadas ditaduras de Mubarak e Bem Ali.

Os “indignados”, por outra parte, se destacaram pela crítica ao regime da transição à democracia na Espanha, ainda que seus métodos pacifistas tenham mostrado também a desigualdade do despertar juvenil. O Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, questionou o papel do capital financeiro na crise de 2008 com uma forte marca autonomista, e a “Primavera do Maple[2]”, em Quebec, tanto como a luta dos estudantes chilenos mostraram como os métodos da greve continuam sendo vigentes para resolver a exigência básica e atual de educação gratuita.

#YoSoy132 e a batalha de estratégias

O #YoSoy132 foi um despertar juvenil massivo, espontâneo e heterogêneo que questionou o processo eleitoral de 2012, muitíssimo progressista acima das contradições políticas e ideológicas que mesclavam os setores que o integravam. Cabe recordar que todos os partidos nas eleições haviam firmado um pacto de civilidade e de respeito aos resultados eleitorais. López Obrador, em 2012, falava da “república do amor” e o #YoSoy132 demandava “uma democracia autêntica”, questão impulsionada fundamentalmente por seus setores mais moderados, enquanto as alas mais de esquerda desconfiavam dos aspectos que mostravam maior confiança na democratização do regime político. Este movimento começou questionando a política eleitoral e o nocivo efeito dos meios de comunicação massiva na vida política do país.

Nos primeiros meses do movimento uma corrente “moderada” se elevou à direção de #YoSoy132 menosprezando os métodos democráticos do movimento estudantil e juvenil, as assembleias de base com delegados rotativos e revogáveis, e se negou categoricamente a unir o #YoSoy132 com outros setores populares. A política da direção do movimento foi impotente ao depositar confiança na campanha de “consciência cidadã” no processo eleitoral e na “vigilância das eleições”, o que levou milhares de estudantes e jovens a se iludirem de que se poderia evitar o retorno do Partido Revolucionário Institucional (PRI) vigiando as urnas.

Estas direções chegaram a negar a palavra aos setores que queriam se integrar unitariamente à luta que havia despertado o movimento na Ibero. Inclusive realizaram uma forte campanha contra a “ultra” da Unam que, segundo eles, queria “dirigir o movimento”, sendo que nós, que integramos o Movimiento de Trabajadores Socialistas (MTS), fomos parte ativa e protagonista desta ala esquerda que enfrentava os setores moderados, e batalhamos para que o movimento assumisse uma perspectiva de luta frontal contra o regime político e o conjunto dos seus partidos, e de aliança com os trabalhadores e os explorados e oprimidos.

O modelo organizativo da Assembleia Geral Interuniversitária, o principal órgão do movimento, foi uma grande contratendência à tradição democrática do movimento estudantil universitário: as assembleias do movimento eram fechadas, salvo a histórica assembleia das “Ilhas” e apenas os “dirigentes” tinham oportunidade de propor posições, muitas vezes sem respeitar as decisões das assembleias estudantis.

Outro elemento contrário à auto-organização democrática – que questionamos e enfrentamos, como parte da ala esquerda do #YoSoy132 – foi, no início, o rechaço da direção do movimento às correntes políticas, negando o debate frontal de ideias que, como sabemos, permite o avanço da experiência e da consciência dos estudantes em luta.

O início de uma nova geração

No contexto desta batalha de estratégias políticas que se desenrolou no seu interior, ao #YoSoy132 devemos um processo de politização juvenil em nível nacional. Sem dúvida, milhares de jovens pela primeira vez participavam da política, discutiam e se mobilizavam contra um regime antidemocrático, repressor e autoritário. Este despertar juvenil decantou uma nova geração de ativistas que de maneira complexa e com diversos fenômenos saiu às ruas avançando em sua consciência e se expressou nos anos seguintes.

Os jovens que se mantiveram até o final do movimento, após a impotência da estratégia inicial, evoluíram politicamente de forma circunstancial e foram vítimas da repressão do regime político do PRI, do Partido Acción Nacional (PAN) e do Partido de la Revolución Democrática (PRD). Daí em diante, como o despertar foi profundo, as mobilizações foram reprimidas diversas vezes: do 1DMX[3] aos protestos de setembro de 2013, quando a polícia desalojou com especial violência o acampamento dos professores, o Estado precisava passivizar essa nova geração de ativistas.

De certo modo, a geração que nasceu para a vida política com o #YoSoy132 foi quem realizou paralisações em solidariedade com os professores da Coordinadora Nacional de Trabajadores de la Educación (CNTE) contra a reforma educacional e também os que alimentaram o enorme movimento por Ayotzinapa exigindo o aparecimento com vida dos 43 estudantes normalistas desaparecidos.

O #YoSoy132 pode ser um catalizador do descontentamento nacional contra o regresso do PRI à presidência. No entanto, o movimento careceu de uma direção correta, métodos organizativos democráticos e uma abertura para incorporar a classe trabalhadora.

Ao #YoSoy132 devemos a abertura de um novo percurso geracional que ainda não está completado. O que está em discussão depois dessa irrupção é que os ativistas que emergiram à vida política necessitam de uma perspectiva estratégica. A juventude nas ruas, em aliança com os trabalhadores, poderia colocar um bloqueio à repressão, como no caso dos companheiros de San Quintín.

A toda esta nova geração, que se expressou no fenômeno de Ayotzinapa de forma ainda mais rompedora, propomos ser parte da construção de uma nova organização política revolucionária, integrada pelos setores mais avançados da classe operária e da juventude combativa, que retome a perspectiva de luta anticapitalista e socialista para acabar contra todo tipo de exploração e opressão.

Tradução: Val Lisboa




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