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MACHISMO NO CARNAVAL | Metroviários de SP organizam Manifesto contra concurso da Rainha do Carnaval no Sindicato

sexta-feira 17 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Foto: site da CTB

Como já denunciado anteriormente no Esquerda Diário a diretoria do sindicato dos metroviários de São Paulo irá presidir novamente o concurso da Rainha e Princesa do Bloco do Trio Elétrico em SP este ano. Veja abaixo Manifesto organizado por metroviários de SP em repudio ao concurso de beleza. Vejam também neste link carta da Secretaria de mulheres do SINTUSP. A secretaria de mulheres do Sindicato dos Metroviários está organizando para o dia de saída do bloco do Trem Elétrico (dia 24, sexta-feira, as 18h30, Rua Augusta, centro SP) uma panfletagem contra o machismo e o assédio no carnaval e cotidianamente nos ambientes de trabalho e estudo.

Somos mulheres e não mercadoria!

Manifesto contra a realização do concurso da rainha do Trem Elétrico no Sindicato dos Metroviários

As mulheres estão nas ruas no mundo inteiro. Nos Estados Unidos, contra Trump e seu discurso machista e preconceituoso; na Argentina, a manifestação Ni una menos contra o feminicídio e a violência de gênero; no Brasil, as mulheres marcharam contra Eduardo Cunha e os retrocessos em seus direitos. Essas mobilizações pressionam a sociedade para uma nova postura em relação às mulheres e sua luta por direitos. Até a rede Globo reconheceu e incorporou isso: nas propagandas globais do carnaval de 2017 não há mais a imagem da mulher negra hiperssexualizada, dessa vez a emissora investiu em uma Globeleza vestida que apresenta a riqueza cultural brasileira, com amostras do frevo e o do maracatu.

O que está por trás dos concursos de beleza

O uso do corpo da mulher em propagandas mostra o quanto a mídia contribui para a construção de uma imagem de mulher objeto. No carnaval, normalmente, o marketing da festa é a imagem de mulheres negras, as famosas “mulatas brasileiras”. A figura da mulata como objeto de exportação transforma os corpos negros em meras mercadorias para a satisfação masculina. Trata-se de uma herança da cultura da escravidão. No carnaval fica ainda mais explícito como o machismo aliado ao racismo é nefasto às mulheres negras, inclusive o quadro é tão grave que vitima até crianças: são centenas de casos de abuso e prostituição infantil na “rota carnavalesca”.

Nosso Sindicato deve se conectar com a onda de lutas das mulheres

Existe na categoria metroviária um bloco de carnaval construído por trabalhadores, a Banda do Trem Elétrico. Como em muitos blocos, existe uma tradição que remonta um dos mais clássicos casos machistas desta festa: a escolha da Rainha e das Princesas. São mulheres jovens, a maioria negra, que desfilam e sambam perante um júri. São avaliadas e classificadas utilizando critérios de beleza e simpatia. A banda não faz parte do nosso sindicato - apesar de alguns diretores da entidade atuarem em sua organização -, mas utiliza o espaço deste para muitas de suas atividades, incluindo este concurso. Há um homem que agencia as mulheres e a vencedora recebe uma premiação em dinheiro.

Há alguns anos muitas mulheres da categoria questionam a realização desta competição, ainda mais dentro de um sindicato de esquerda, comprometido com as lutas feministas. A exigência de padrões de beleza inalcançáveis para a maioria das mulheres trabalhadoras gera baixa autoestima em muitas mulheres, além de disseminar a competição. A objetificação das mulheres negras no carnaval reforça uma imagem de servidão, legitimando seu lugar na base da pirâmide social, lugar este de origem escravocrata. Por tudo isso, para nós é contraditório um sindicato de esquerda, com uma secretaria de mulheres e de assuntos raciais, compactuar e participar da escolha da rainha e da princesa da banda.

Nós, homens e mulheres, que assinamos esse manifesto nos colocamos contra esse concurso e achamos que esta discussão deve ser feita de maneira mais séria nos próximos anos. A organização que representa os trabalhadores também deve ser um espaço que acolha homens e mulheres, criando uma relação de igualdade, onde ninguém seja desrespeitado. A cultura popular, infelizmente, não está imune às influências de uma cultura patriarcal, porém, é nosso papel lutar contra essa apropriação que reforça as opressões e divide ainda mais os trabalhadores.




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