Como parte da iniciativa da realização do curso “O Capital de Karl Marx em tempos de crise”, o portal Ideias de Esquerda entrevistou Iuri Tonelo, que será quem ministrará o curso e conta um pouco sobre essa experiência e o significado dessa iniciativa.

O vídeo com a palestra de apresentação do curso pode ser acessado em: https://www.youtube.com/watch?v=vs2c2Piwq3g

Ideias de Esquerda: Como surgiu a iniciativa do curso?

Iuri Tonelo: O Esquerda Diário tem feito uma série de transformações em seu site e em seus conteúdos, como forma de atender o público de milhões de usuários mensais que acessam o portal. Entre as principais iniciativas, está o projeto da rede internacional, o Esquerda Diário Multimídia, com iniciativas no canal do YouTube, em podcasts, Esquerda Diário 5 minutos e mesas de debate online, buscando oferecer ferramentas de informação, políticas e de teoria marxista para o público por distintas vias em tempos de quarentena. E nesta semana, partimos para um novo desafio e demos o primeiro passo em uma iniciativa pioneira e ambiciosa nesse período: oferecer um conteúdo marxista online e gratuito, que pudesse tornar nosso portal também uma referência no país na formação de nossos setores que estão despertando para o marxismo.

Nós apostávamos que com a difusão que o Esquerda Diário tem pelo país, a possibilidade que muitos setores teriam de ter um tempo maior para a realização dos cursos por estarem nas quarentenas, e o próprio interesse pelo marxismo nesse novo momento, fariam com que a inciativa de um curso sobre Marx fosse bem recebida. Mas não imaginamos que atingiríamos o número de 1700 inscrições. Estamos genuinamente contentes com o resultado, e com uma equipe do Esquerda Diário trabalhando duro para garantir o melhor curso possível.

Ideias de Esquerda: O que indica do momento que estamos vivendo esse grande interesse pelo curso?

Iuri: Acredito que a explicação está em dois grandes fatores convergentes: num primeiro plano, os efeitos do coronavírus e seus impactos ideológicos. Tenho conversado com várias companheiras e companheiros do Esquerda Diário que se mantêm trabalhando, e também com o pessoal da juventude, e é perceptível que a discussão nos locais de trabalho e estudo sobre as mazelas do capitalismo está em voga. Existe um grande sentimento de frustração com as aspirações anteriores à pandemia, que acaba sendo uma frustração com a ideia de que gradualmente a vida poderia ir melhorando dentro desse sistema. Em suma, acredito que cada vez mais vai ficando visível que nossas vidas se modificaram, e que o atual sistema do capital não consegue oferecer coisas básicas de um sistema de saúde, leitos, testes massivos, nem mesmo álcool em gel em alguns casos. Imagine, as mais poderosas potências imperialistas do mundo dizendo que não conseguem resolver essas questões tão básicas, sendo que poucas semanas atrás se discutia que o mundo dessa década seria o mundo da robótica, inteligência artificial, carros autônomos e impressão 3D. Esse choque ideológico, expresso nas contradições reais que a pandemia está escancarando desse sistema, abre espaço para as ideias marxistas. É claro que, olhando o quadro nacional isso se agudiza, com representantes políticos como o negacionista Bolsonaro, Mourão e militares no executivo do nosso país, e opositores com Maia, Doria ou o STF, não se pode esperar muito da política dos “de cima”, e mesmo existe já uma certa desconfiança ou crítica mais aberta em amplos setores dos trabalhadores e a juventude sobre as experiências da conciliação, como do PT e outras partidos da esquerda, o que também abre espaço.

Por outro lado, as pessoas também começam a sentir as tendências econômicas mais profundas do que se avizinha: é um acontecimento em pleno desenvolvimento, mas não me resta dúvida de que estamos vivenciando uma crise histórica do capitalismo, quando digo histórica quero dizer que é uma das principais crises das últimas décadas. Muitos economistas importantes, mesmo do mainstream, têm dito que a crise econômica atual é mais poderosa que a de 2008, com alguns comparando apenas com 1929. Isso indica um cenário futuro de crise, destruição, desemprego, miséria, desamparo, mas também de revoltas, rebeliões e, por que não, processos de revolução social. Ou seja, como se darão os embates entre as classes e a disputa dos trabalhadores por não arcar com as contas da crise, não podemos saber ao certo, mas já um fato indeclinável que vivenciamos uma grande crise do capital, e a crise do capital é sinônimo da atualidade de Marx, em especial de sua crítica da economia política. “Marx voltou”, essa é a nossa conclusão ao receber 1700 inscrições para o curso online do Esquerda Diário.

Ideias de Esquerda: O que os inscritos podem esperar no curso?

Iuri: Faremos duas turmas, uma mais introdutória, para aqueles que ainda não conhecem nada da obra, e uma turma intermediária, para os que já têm familiaridade com alguns dos principais conceitos de O Capital. É um desafio e tanto, porque naturalmente para um público amplo que assistirá os cursos, os perfis são diferentes e talvez até as expectativas, então creio que será um desafio especial esse curso online. Mas estamos com uma forte equipe e iremos oferecer muitos canais para os que querem avançar no estudo, além do curso ao vivo propriamente dito, teremos grupos em seis horários com coordenadores do Esquerda diário online para debate e tirar dúvidas, fóruns de debate do conteúdo dos cursos e também abriremos a possibilidade da formação de grupos de estudo regionais, posto que contamos com inscritos de todas as regiões do país, em todos os estados. Enfim, a satisfação de promover debates sobre O Capital no Brasil inteiro é enorme, então o que pudemos fazer para alentar isso, faremos.

Ideias de Esquerda: Já estão sendo organizados outros cursos?

Iuri: Estamos organizando sim outros, estudando as melhores possibilidades. Estamos terminando de fechar, mas já antecipo que nossa próxima iniciativa será com a nossa querida Simone Ishibashi, com um curso sobre o Lênin, que acredito que será uma iniciativa excelente também.