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FEMINICÍDIO EM CAMPINAS | Marília, mais uma vítima da violência machista em Campinas

Marília Camargo de Carvalho, estudante de Medicina 27 anos, foi assassinada pelo namorado na manhã de domingo, 8, em Campinas. Rafael Moraes Garcia, estudante de educação física de 28 anos, cometeu suicídio após o crime. Nas redes sociais, amigos da jovem postaram mensagens de inconformismo com o crime e em solidariedade com a família, que é de Toledo, no Paraná.

Julia GarrafaEstudante de medicina da Unicamp

sábado 14 de julho de 2018 | Edição do dia

A polícia, após encontrar o corpo de Rafael no quintal do condomínio que a vítima morava, no bairro Jardim Aurélia, logo arrombou o apartamento da jovem e encontrou seu corpo, que apresentava sinais de asfixia. De acordo com as câmeras de segurança do prédio o rapaz entrou e saiu do local algumas vezes após o crime, mas nenhum funcionário ou vizinho desconfiou de nada. A suspeita é de que o casal que namorava há cerca de quatro anos, desde 2014, havia começado a discutir de madrugada, quando a jovem foi morta.

Marília morreu na sua própria casa, assim como dois terços das mulheres vítimas de feminicídio, como apontam pesquisas do Ministério Público Estadual (MPE). Mais um caso que escancara a violência machista no Brasil, o 5º colocado em número de mortes de mulheres, em que a cada uma hora e meia uma mulher é morta, vítima de feminicídio.

Uma estrutura se perpetua ano a ano com mais casos de feminicídio, e que tende a se aprofundar desde o golpe institucional de Temer, que avançou nos ataques que o PT já vinha implementando em seus governos, e colocou a reforma trabalhista, que permite que mulheres grávidas trabalhem em locais insalubres, para que sejam as mulheres trabalhadoras, sobretudo as mulheres negras, a carregar nas costas a conta da crise capitalista, além da PEC 181 defendida por Bolsonaros e Malafaias que tem como objetivo que as mulheres não possam abortar nem mesmo em casos de estupros. Ou ainda o projeto de lei 7180/2014 conhecido como “Escola sem Partido” que tenta não só tirar do ambiente de ensino discussões sobre o papel social do indivíduo dentro da sua realidade, mas também entende que esse aspecto da educação deve partir puramente do ambiente familiar, reforçando que desde criança deve ser ensinado as noções conservadoras de família, os papeis de gênero e portanto o papel de submissão da mulher dentro da logica do capital.

Por Marília e por muitas outras é que devemos escancarar como esse Estado capitalista falha em proteger a vida das mulheres, por isso é necessário exigir um plano de emergência para garantir condições dignas de trabalho e impedir que outras mortes e casos de assédio e violência continuem acontecendo, defendendo direito ao aborto legal, seguro e gratuito, casas abrigos para mulheres vítimas de violência e toda estrutura psicológica e material para que possa reerguer suas vidas de forma independente de seus relacionamentos.

Marília é mais uma vítimas da violência machista, mulheres que são submetidas a relações falhas e insuficientes, baseadas no ciúme e na posse, que se perpetuam na sociedade como pilar fundamental da exploração. Já que por ser mulheres somos submetidas a ganhar menos no trabalho, a estar nos postos mais precários, como o trabalho terceirizado e a ter relacionamentos completamente degenerados e, dentro de casa, somos encarregadas de trabalhos domésticos como cozinhar, lavar e passar, que são trabalhos não remunerados e que garantem a subsistência das suas famílias, questões que são imprescindíveis para que a exploração capitalista se potencialize e possa continuar existindo.

Precisamos entender a necessidade de organização e combate a cada ação machista cotidiana, mas que leve também a luta para superar a estrutura da sociedade capitalista que compactua e sustenta a violência contra as mulheres, nos locais de trabalho, estudo, nos seus relacionamentos e família. A morte da Marília pode inspirar em nós os mais diversos sentimentos desde revolta até a sensação de impotência e fragilidade frente a essa realidade violenta que as mulheres se encontram hoje, ao mesmo tempo ela pode e deve ser vista não como uma fatalidade, mas como reflexo dessa lógica social que permeia nossa vida e que tem se fortificado nos últimos anos e a partir disso servir para sentirmos a necessidade de que cada mulher tome para si a luta para que o machismo e a exploração deixem de imperar no nosso cotidiano, para que deixem de tirar as nossas vidas. Por Marília e muitas outras, seguimos gritando “nenhuma a menos”!




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