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Frente Ampla | Marcelo Freixo abraça Alckmin e o legado do golpe institucional

Na disputa com Cláudio Castro para governar o Estado do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo quer a garantia do apoio da alta burguesia do país, e para tal não tem poupado esforços.

quarta-feira 22 de dezembro de 2021 | Edição do dia

No dia 19 de dezembro, Freixo tomou café com Geraldo Alckmin, o candidato que a mais alta burguesia brasileira queria em 2018 – carrasco de incontáveis greves! - e representante oficial do golpe institucional:

A possibilidade de uma chapa Lula-Alckmin é cada vez mais aventada a cada dia que passa. Alckmin acaba de sair do PSDB e Freixo é pivô da movimentação. Aventa-se a possível filiação de Alckmin ao PSB, ou, ainda, a possibilidade de entrada de Alckmin no PSD de Eduardo Paes, com quem Freixo também tem mantido ótimas relações. No mesmo dia, jantaram todos juntos marcando a tentativa de conciliação para a chapa.

Com isso, a Frente Ampla sonhada por Freixo e Lula estaria formada: o Partido dos Trabalhadores, que governou para os capitalistas por 13 anos, aumentando precariamente o acesso a bens de consumo aos trabalhadores e o povo pobre enquanto os capitalistas enriqueciam e batiam lucros recordes, estará de mãos dadas com os representantes diretos destes mesmos capitalistas; os mesmos representantes que, aliás, decidiram dar um golpe institucional em Dilma Rousef e no PT em 2016.

Freixo, de vira casacas a candidato da alta burguesia

Freixo nunca esteve tão bem colocado para a disputa de um cargo executivo, estando empatado com Claudio Castro nas pesquisas até agora. Com isso, Freixo cresceu o olho e começou o vale tudo para isolar Cláudio Castro. Inclusive abraçar o espancador de professores, ladrão de merendas Geraldo Alckmin!
A possibilidade real de ganhar eleições estaduais, coisa que Freixo nunca teve no PSOL, nos brinda com uma imagem nítida de quem ele é verdadeiramente. Até pautas, como a denúncia de violações dos direitos humanos, vieram desaparecendo do programa de Freixo. É assim que Freixo se calou quando a PMERJ realizou uma chacina no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no final deste novembro.

Freixo nunca foi anticapitalista, nunca se propôs a revolucionar as relações sociais no Rio. Porém, mesmo o programa de algumas poucas reformas e “democracia participativa” já não faz parte, também, do seu repertório. Mas esse processo de “mutação” de Freixo não começa com sua filiação ao PSB. Quando estava no PSOL, Freixo já inicia sua guinada à direita, filiando centenas de policiais, e, em seguida, instaurando um ex Comandante da Polícia Militar, o coronel reformado Íbis Pereira, como candidato a Vice Prefeito. Nós do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores denunciamos à época o que representava aquela chapa eleitoral do PSOL, e abrimos mão de lançar nossa candidatura pelo PSOL no Rio de Janeiro. Alguns nos perguntaram se não estávamos exagerando na crítica, mas as posições atuais de Freixo não podem deixar dúvida a ninguém que saiba valorizar a independência de classe.

Freixo foi primeiro de defensor dos direitos humanos a defensor dos direitos da polícia assassina dentro do PSOL. Depois, no PSB, virou defensor de alianças com os principais representantes da burguesia golpista. Alckmin era nada mais nada menos do que o filho legítimo do golpe institucional, candidato da Rede Globo e da FIESP para liderar o país após Michel Temer. No seu currículo, carrega o histórico de governador mão de ferro, reprimiu brutalmente as greves no Estado de SP – mais do que Dória – e ficou conhecido como ladrão de merenda pelos estudantes das escolas estaduais, aonde houve milhares de ocupações que também foram reprimidas pelo seu governo em 2015 e 2016. Se Alckmin não teve votos em 2018, hoje conta com a ajuda de Freixo e Lula para voltar à política (no último período, havia voltado a praticar a medicina).

Mas nesse caso, para Freixo, também não é difícil esquecer o papel de Alckmin como candidato do PSDB no país pos golpe institucional. Afinal de contas, dentro do PSOL, Freixo também contribuiu ao país do golpe de sua maneira. Essa contribuição se deu através de apoio, velado ou aberto, à Lava Jato. Em 2016, apoiou os juízes da Operação Lava Jato, como se estes, ao prenderem Pezão, estivessem realizado a vontade do povo. 5 anos se passaram de lá para cá, e o Rio de Janeiro hoje é governado por alguém que chegou a não ter votos para se eleger como vereador. Freixo também apoiou “criticamente” o autoritário pacote anticrime de Sérgio Moro – suas críticas eram de que o pacote era “fraco”.

Brigando pelos votos daquela seção da classe média que é conservadora, viúva da ditadura e apoiadora - quer dizer - lutando pelos votos da direita e do centro, sem apostar na mobilização da juventude e dos trabalhadores, e, como se mostrou depois, sem acreditar sequer na militância do PSOL, Freixo construiu no Partido Socialismo e Liberdade, as condições para hoje se postar como candidato que pode ser apoiado pela Globo, que pode servir para subordinar a esquerda à conciliação de classes do PT, ou que pode inclusive servir para reabilitar figuras bizarras do golpe institucional, como Alckmin, que sozinho não conseguiria se eleger nem para síndico de prédio.

Temer e Cunha foram justificados por Dilma como necessários para haver a governabilidade. 5 anos depois do golpe institucional, Alckmin aparece como sinalização de que um governo de Lula vai fazer tudo o que o grande capital brasileiro pedir. Aparece para tranquilizar a Fiesp, os grandes produtores de soja e o capital financeiro. Ao invés de desfazer a obra do golpe institucional, a Frente Ampla promete não mudar nada das gestões de Temer e Bolsonaro, mantendo também a obra de Paulo Guedes intacta. A reforma trabalhista e a destruição dos direitos dos trabalhadores, a reforma da previdência, os ataques à saúde e à educação, nenhuma destas medidas do golpe deve ser mexida por Lula. Esta é a sinalização da Frente Ampla, que também não atua contra as privatizações das riquezas nacionais, entregues aos estrangeiros a preço de banana.

Cabe à esquerda que valoriza a independência de classe tirar lições do que preparou, como correntes da esquerda do PSOL que continuaram apostando a maioria de suas fichas em Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, e que recriminavam o Esquerda Diário por alertar sobre esse caminho e “criticar demais” o projeto de Freixo.

É preciso construir uma alternativa de esquerda que não atenda aos compromissos do grande capital. A saída, quando o povo faz fila para pegar osso, é estatizar as empresas estratégicas do país sob o controle dos trabalhadores: botar a terra ocupada pelo agronegócio com gado e soja a serviço de produzir alimentos para os trabalhadores e o povo pobre através de uma reforma agrária radical. Parar de pagar a dívida pública e estatizar o sistema financeiro sob o controle dos trabalhadores, para controlar a inflação e interromper o saque de nossas riquezas feito pelo imperialismo. Distribuir casas e trabalho através de uma reforma urbana radical financiada pela taxação das grandes fortunas, para que acabe a falta de moradia e solucione os problemas da vida nos grandes centros urbanos.

Tal programa – oposto ao programa dos conciliadores - não vai vir de acordos eleitorais espúrios com os representantes da burguesia como faz Freixo, mas somente através da luta de classes, na qual ele nunca acreditou, nem mesmo quando esteve no PSOL. Para tal, é preciso de outra esquerda, uma que aposte na luta da classe dos trabalhadores e rechace todo tipo de acordo com os representantes dos capitalistas – que esteja lado a lado dos processos, ainda que iniciais que ocorreram neste ano, como a luta dos trabalhadores da Sae Towers, dos Garis, das Merendeiras, dos Professores Municipais de SP, dos entregadores de APP, dos trabalhadores da Petrobrás, dos trabalhadores da Proguaru, processos nos quais nos jogamos como MRT. Por isso discutimos com toda a esquerda que se apresenta contra a conciliação de classes a necessidade de reagrupar-se em torno de um programa revolucionário e ações em comuns na luta de classes, e é com esse espírito que participamos do Polo Socialista Revolucionário junto a outras organizações.

Leia mais: O Brasil para além de 2022: a crise política e a resposta dos trabalhadores




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