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POLÍTICA | Mandetta: O lobo em pele de cordeiro da saúde privada

Recentemente vimos os conflitos em relação a Bolsonaro e seu Ministro da Saúde, o reacionário Luiz Mandetta, que ao final se manteve no cargo pela pressão dos militares e já expressa também a possibilidade de flexibilização na linha do isolamento social. No dia de ontem vimos grande parte da “oposição” encampar o “Fica Mandetta”, incluindo setores da esquerda, mas o que significa isso de fato?

João SallesEstudante de História da Universidade de São Paulo - USP

terça-feira 7 de abril de 2020 | Edição do dia

Deputado Luiz Henrique Mandetta é indicado ministro da saúde do governo de Jair Bolsonaro - Foto: Nilson Bastian/ Câmara dos Deputados

Luiz Mandetta que é médico de formação e já foi presidente da “cooperativa” Unimed não é só um velho conhecido das redes de plano de saúde e privatistas do setor, Mandetta é um agente direto criado no seio do empresariado e que em sua campanha para deputado federal, pra além dos escândalos de corrupção e caixa 2 envolvidos, recebeu o financiamento da Amil em 2014, empresa essa que foi comprada pela gigante estrangeira da saúde privada United Health.

O Ministro tem um longo histórico de declarações e posicionamentos absurdos, pra não falar diretamente reacionários, tendo chegado a dizer que dependentes químicos fossem tratados em instituições religiosas, as ditas "comunidades terapêuticas" tem crescido com investimento direto do governo. É evidente o porque de Mandetta ter sido chamado para integrar o governo Bolsonaro, um antiabortista ferrenho contra os direitos das mulheres e de declarações sobre a suposta “falência do SUS” e como era necessário acabar com sua gratuidade e operar um verdadeiro desmonte para que a saúde do país fosse entrega para a iniciativa privada, fazendo com que as empresas de plano de saúde lucrem bilhões com um serviço básico e essencial.

Suas últimas trocas de farpa com o atual Presidente se dão no marco de um isolamento, internacional inclusive, da linha defendida por Bolsonaro do isolamento vertical e da reabertura do comércio para salvar o lucro de setores do empresariado como Luciano Hang que ficam impacientes ao verem seus negócios inoperantes e seus lucros ameaçados. Mandetta está alinhado com os governadores estaduais, a alta cúpula dos Militares, o Congresso Nacional na figura de Rodrigo Maia e também do STF, a linha consiste em defender o isolamento social e uma suposta “defesa da ciência” no combate a pandemia para salvar vidas.

Mas é preciso parar para analisar com atenção essa disputa, Bolsonaro com sua política bizarra pode causar uma sensação de que “qualquer um pode ser mais sensato”, isso é inclusive o que defende a grande mídia como a Globo, mas essa política mascara quem realmente são essas figuras: Inimigos declarados dos trabalhadores e da população pobre e marginalizada das mulheres, dos negros e dos LGBTs. Mandetta assim como todo esse amplo setor “oposicionista” de Doria, Maia, STF foram, sem exceção, apoiadores do golpe institucional de 2016 junto com os proeminentes “árbitros” da política nacional - os ministros generais e a alta cúpula militar - assim como foram também os maiores aliados na aprovação da reforma da previdência que obriga os trabalhadores a morrerem sem direito de aposentadoria. Isso sem falar no Vice-Presidente Hamilton Mourão, exaltador da ditadura militar de assassinos e torturadores no Brasil e que já recebe elogio do Governador Flavio Dino (PCdoB).

Assim como nessa questão fundamental que unificou a todos eles para aumentar os lucros dos capitalistas mais vorazes, existe na política de combate a pandemia um ponto de convergência importante que escancara o real interesse de todos esses setores que aparecem para nós como em uma “guerra campal”: Negar para a população testes massivos para determinar as reais taxas de contágio e morte do vírus e assim mascarar os índices fruto de seu descaso com a vida de milhares de trabalhadores. A testagem massiva é uma orientação da própria OMS da qual tanto falam os opositores de Bolsonaro, então devemos nos perguntar o motivo de não realizarem.

A pandemia parece ter ajudado setores de esquerda a se tornarem fiéis seguidores desses neoliberais. É importante nesse sentido apontar diferenças entre eles. O PT e o PCdoB que estão disputando um “lugar ao sol” em meio a esse regime golpista, que em seus “anos de ouro” do governo federal sempre avançaram na precarização do trabalho e na entrega do país para a iniciativa privada; e que hoje nos Estados do Nordeste onde são governo aprovam a ataque brutal da reforma da previdência na base da repressão policial aos trabalhadores. A estratégia desses setores sempre foi, e hoje ainda mais, se aliar com esse “centrão” político e hoje o fazem com a bandeira da suposta defesa da democracia – Como se o general Mourão fosse um verdadeiro Robespierre – contra o “neofascismo” bolsonarista.

Agora vemos setores do próprio PSOL serem pegos na rede da “frente ampla democrática” contra Bolsonaro, seja no tweet de Marcelo Freixo ontem com a #FicaMandetta – entendendo que a manutenção do Ministro é a manutenção de todo esse projeto privatista que ele defende e é apoiado por Bolsonaro – seja na política completamente adaptada de impeachment de Bolsonaro por parte desse Congresso e Judiciário inimigos dos trabalhadores e que coloca um General do exército, que sequer esconde seus desejos mais podres e nefastos de reviver os tempos da ditadura, na presidência do país!

É um momento histórico que vive hoje nossa geração, o capitalismo convulsiona de maneira cada vez mais aguda suas crises e contradições gerando miséria, morte e barbárie para a esmagadora maioria da humanidade e do planeta. Os questionamentos dos trabalhadores, da juventude e dos setores oprimidos acerca das saídas possíveis passa cada vez mais pelo questionamento desse sistema e a esquerda deve apresentar uma alternativa com independência de classe e que leve as massas a assumirem o controle do combate das crises sanitária, política e econômica.

É nesse sentido que nós, do Esquerda Diário e do MRT, temos defendido nas nossas mais diversas iniciativas durante esse período de crise que em primeiro lugar sejam realizados Testes Massivos Já na população, podendo acompanhar a dinâmica do vírus e organizar uma quarentena racional separando infectados e não infectados e a exigência de Nenhuma Demissão durante a crise. Junto a isso um programa de renda mínima de R$2.000 (média salarial no Brasil), com a isenção das contas de água, luz, gás e internet para a população e a expropriação dos hotéis que hoje se encontram vazios para abrigar os desalentados nas ruas. O lucro das empresas pode pagar por tudo isso! Medidas como a taxação progressiva de grandes fortunas e o não pagamento da dívida pública são fundamentais para que coloquemos nossas vidas à frente dos lucros dos parasitas que ganham dinheiro com nossas mortes.

Para que se possa avançar nesse sentido não podemos alimentar qualquer ilusão da população nessas instituições golpistas e degradadas, por isso devemos levantar Fora Bolsonaro, Mourão e os militares e Nenhuma confiança em Maia, governadores e STF! Os trabalhadores precisam assumir a linha de frente de uma reconversão completa da produção nacional para que sejam produzidos respiradores ao invés de carros, assim como máscaras, luvas para toda demanda e os testes massivos. Se autoorganizando nos locais de trabalho para garantir condições seguras de produção e que disso possa se formar um gabinete de emergência composto por trabalhadores da saúde, especialistas sanitários, sindicatos e demais organizações operárias e populares que tenha como uma de suas tarefas convocar uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que dê conta de conquistar as reivindicações elementares necessárias e que permita as massas opinarem nos rumos do combate à doença.




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