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GREVE GERAL NA FRANÇA | Mais de 1,5 milhão de pessoas se manifestaram na França contra a Reforma da Previdência de Macron

O anúncio oficial da Reforma da Previdência do governo francês feito pelo primeiro ministro Edouard Philippe na semana passada não fez mais do que jogar gasolina no fogo. Enquanto a greve geral dos transportes já dura 13 dias, ao menos 1.800.000 pessoas se mobilizaram nesta terça no país, segunda a CGT [Confederação Geral do Trabalho]

terça-feira 17 de dezembro de 2019 | Edição do dia

Para o governo francês, ao menos 615.000 pessoas manifestaram em toda a França hoje, de acordo com o Ministério do Interior. De acordo com a CGT, o número alcança 1.800.000 pessoas, das quais 350.000 apenas em Paris. Além da diferença gritante entre os dados, esses são números que mostram uma luta que está longe de ceder. Pelo contrário, o anúncio formal da reforma da previdência que o primeiro-ministro de Macron, Edouard Philippe, tornou público na semana passada, não fez nada além de jogar mais gasolina no fogo.

No dia seguinte ao anúncio, houveram piquetes nos principais portos do país, como não ocorria desde o início das manifestações e da greve dos transportes. Foi a confirmação de que o texto da reforma, que simplesmente envolve trabalhar mais anos para ganhar menos, enfureceu grande parte da população, apesar do papel das direções sindicais que seguem apostando em manter uma mesa de diálogo com o governo. Até a CFDT [Confederação Francesa Democrática do Trabalho], a maior e mais antiga central sindical da França e a mais conciliadora, que apoiava a reforma de Macron e se negava a mobilizar sua base, teve que reconhecer que o governo "havia cruzado uma linha vermelha" ao aumentar a idade da aposentadoria de 62 a 64 anos para usufruir de uma aposentadoria completa.

É por isso que desde a semana passada, a marcha para este 17 de dezembro começou a ganhar um novo impulso. E a força das mobilizações desta terça-feira em muitas cidades pequenas e médias, além das grandes, mostra que o movimento está longe de acabar.

Durante a manhã de terça-feira, foram vistos piquetes em vários terminais da RATP (transporte metropolitano de Paris, que inclui metrô, ônibus e bonde), que foram reprimidos pela Polícia, o que não impediu os trabalhadores de permanecerem nos terminais e marcharem posteriormente em direção ao centro da cidade. Algo semelhante aconteceu com os ferroviários que, juntamente com os trabalhadores da RATP, estão em greve indeterminada há 13 dias.

Ferroviários e trabalhadores de transporte marcharam juntos pela primeira vez em uma única coluna unificada, sem distinguir setores sindicalizados daqueles que não o são, e também organizaram uma segurança comum. Uma imagem que ainda não havia sido vista nesses 13 dias de greve e que expressa a força que existe para efetivamente derrubar a reforma de Macron. É por isso que os manifestantes presentes em Paris cumprimentavam e aplaudiam a coluna de trabalhadores. Antes, os ferroviários reunidos na Gare du Nord (Estação Norte), em Paris, haviam votado por unanimidade a extensão da greve.

[Tradução Tweet: "Pela primeira vez marcham juntos à frente da manifestação de Paris trabalhadores de ônibus, metrô e trens" relata desde Paris Alejandra Gómez]

O cenário de manifestantes se completou com professores, que também mantém em greve, profissionais de saúde, da Ópera, advogados, estudantes, bombeiros e Coletes Amarelos.

Os trabalhadores das refinarias que estão em greve indeterminada em 5 das 8 existentes no país e estão colocando a França à beira da escassez de combustível também desempenham um papel destacado.

Apesar dos esforços do governo de suspender a greve antes do Natal, a que alguns sindicatos mostraram intenção de ceder, os manifestantes expressaram em seus cantos e bandeiras que o sentimento em amplos setores é de que não haverá trégua de Natal.

As cidades de Marselha, Bordeaux e Lyon tiveram grande manifestações

Como era de se esperar, dada a dinâmica da mobilização nas refinarias e nos portos nos últimos dias, Marselha teve nesta terça uma de suas mobilizações históricas com 200.000 pessoas nas ruas da cidade. Um número maior do que nas marchas de 5 de dezembro, quando haviam saído cerca de 150.000.

Uma situação semelhante ocorreu em Toulouse, onde 120.000 pessoas marcharam na terça-feira contra cerca de 100.000 que o fizeram no dia 5.

Em Bordeaux, 50.000 pessoas manifestaram no dia 5 de dezembro, e esse já era um número muito importante. Na terça-feira, no entanto, 70.000 pessoas se mobilizaram, apesar da repressão e da tentativa da Polícia de interromper a marcha liderada pelos ferroviários.

É também o caso de Nantes, onde os manifestantes passaram de 25.000 em 5 de dezembro para quase 40.000 nesta terça-feira. Os números são semelhantes em Lyon, com 40.000 manifestantes neste 17, contra 35.000 em 5 de dezembro.

Embora esse aumento seja mais claramente observado nas grandes cidades, a situação também é semelhante em outros lugares da França.

Em Le Havre, apesar da chuva, a mobilização foi massiva. Com os trabalhadores portuários à frente, cerca de 35.000 pessoas marcharam, segundo a CGT, número superior ao de 5 de dezembro.

Os números também foram expressivos nas cidades de médio porte: 25.000 em Clermont Ferrand e Montpellier, 20.000 em Perpignan e Caen, 18.000 em Rennes, 16.000 em Limoges, 14.000 em Avignon, 10.000 em Bayonne e 10.000 e até 7.500 manifestantes em Mulhouse, algo que não se via desde 2010.

Trabalhadores ferroviários, do transporte metropolitano de Paris e os professores são os que nutrem a maioria dessas mobilizações, mas são acompanhados por outros setores, como trabalhadores de refinarias e portuários, como também por estudantes e Coletes Amarelos. Os bombeiros, por exemplo, que não França são civis e não militares como no Brasil, foram extremamente numerosos nos atos, assim como os trabalhadores dos hospitais, cujo cronograma de mobilização coincidiu com esta data de 17 de dezembro. Os advogados também têm colunas importantes, especialmente nas províncias.

Este dia 17 de dezembro já se tornou uma data histórica devido à magnitude da mobilização. É um forte sinal enviado ao governo de Macron, na véspera das negociações bilaterais com os sindicatos, e quando a opinião pública permanece amplamente favorável ao movimento. Parece ser a hora de radicalizar o movimento e rechaçar todas as negociações, pôr um fim ao projeto de reforma da aposentadoria e à política do governo de Macron.




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