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Queimadas na Argentina | Mais da metade das províncias da Argentina em chamas: 95% são queimadas intencionais.

Foi o que reconhece o ministro Cabandié. Em El Jardín, Salta, o fogo está fora de controle. O extrativismo sem freio arrasa a fauna e flora em plena crise ecológica (e sanitária) a nível mundial.

sexta-feira 25 de setembro de 2020 | Edição do dia

Catorze províncias do norte e do centro do país são afetadas pelos focos de incêndio de distintos graus, segundo o Serviço Nacional de Controle de Fogo (Servicio Nacional de Manejo del Fuego, SNMF). Juan Cabandié, ministro do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, indicou que “95% das queimadas são intencionais e provocadas”. Seus pronunciamentos se deram logo na segunda reunião do Gabinete Nacional de Mudança Climática, que ocorreu na mesma semana em que houve mobilizações em todo o país em consonância com a jornada mundial convocada pelo movimento de Greta Thunberg.

Em seu relatório, o SNMF aponta que 95% desses focos de incêndio são provocados por “intervenção humana”, menciona no mesmo nível “a preparação de áreas de pastoreio com fogo; fogueiras e pontas de cigarro mal apagadas e o abandono de terras”. Por outro lado, aponta a incidência de fatores climáticos para a propagação do fogo de origem intencional: falta de precipitações, altas temperaturas, baixa umidade, geadas constantes e fortes ventos somente pioram o cenário colocado.

Corpos de bombeiros, aviões hidrantes e outras equipes operativas trabalham nas zonas afetadas. São elas Entre Ríos, Santa Fe, Córdoba, San Luis, Tucumán, Santiago del Estero, Chaco, Mendoza, Buenos Aires, Catamarca, Jujuy y Salta. Cabandié elogiou o sistema de controle de queimada de Córdoba, ao mesmo tempo em que voltou a insistir que o caso das Ilhas do Paraná é “distinto ao do resto do país” e que é a Justiça que não atua para dar um ponto final a situação na qual os cidadãos “estão respirando fumaça há seis meses”. Ainda aprofunda: “Apagamos o fogo e os mesmos nativos da ilha, a pedido dos produtores, voltam a provocá-lo no dia seguinte”. Mas ele se colocar como responsável também, jamais.

No Chaco, o incêndio do Parque Nacional já foi controlado, assim como na Villa Olivari, Corrientes, onde há bombeiros para evitar sua reativação. Há dois pontos que permanecem em atividade em Santiago del Estero (Parque Nacional Copo e Ojo de Agua). Em Córdoba, as chamas se estendem pela Villa Carlos Paz, Unquillo, Paraje Cuchi Corral, Quebrada del Condorito e Mina Clavero. Se calcula que, em 2020, já são mais de 65 000 hectares da província já sofreram incêndios, o maior número desde 2013. Enquanto, na província de San Luis, dois focos intensos foram extinguidos em Paraje La Totora (Gral. San Martín) e em Saladillo (Coronel Pringles). O mesmo aconteceu em San Rafael, Mendoza.

No norte do país, a situação é grave em El Jardín, Salta, onde o incêndio saiu de controle, segundo a caracterização do SNMF. Se trata de uma região na qual o Governo saltenho chama de “paraíso” por sua densa vegetação e espécies autóctones. O incêndio aconteceu em alta altitude, a mais de 2.500 metros acima do nível do mar, na fronteira com Tucumán. Em Jujuy, há vários focos ativos nas zonas do Gasoducto Ledesma, San Bernardo, El Carmen e Santa Bárbara. Tucumán teve vários focos que já foram controlados (Reserva Natural Provincial Aconquija e Río Chico) e restritos (Anca Juli - Tafí Viejo). Ancasti e Paclin, em Catamarca, são dois locais nos quais as chamas estão sob controle, porém segue ativo o incêndio na província, em Tinogasta.

No território de Buenos Aires, houve dois focos recentes: no Parque Nacional Ciervo de los Pantanos, onde o fogo já foi extinguido, e em Claromecó, onde segue ativo. Semanas atrás, centenas de hectares foram queimados na costa de Hudson, onde há evidente interesse imobiliário. No norte de La Pampa, entretanto, o incêndio ainda arde na instância da justiça agropecuária.

Em reunião com titulares de pastas ambientais a nível nacional, Cabandié advertiu que “frente ao aquecimento global e a mudança climática, as províncias vão ter que fortalecer seus sistemas de controle de queimadas, o mesmo vale para a nação”. Entretanto, como ficou claro no começo desta semana na apresentação do Plano de Políticas Ambientais junto ao presidente Alberto Fernández, a pasta de Cabandié não se propõe nem tem autoridade para frear o extrativismo (e o agronegócio por trás das queimadas), nem a especulação imobiliária.

As queimadas em todo o país resultam em “perda de biomassa, estrutura vegetais, fragmentação de habitats e perda de espécies endêmicas da região”, como aponta o informe da SNMF, que menciona expressamente bosques e zonas úmidas. Em plena crise ecológica e climática global, a impunidade diante dessas queimadas praticadas pelo agronegócio interrompem ciclos biogeoquímicos fundamentais e deixa o país em piores condições inclusive de mitigar as mudanças climáticas.

Tal como está sendo convocada na Argentina, às 17h, em São Paulo também ocorrerá às 17h. Chamamos todas e todos a se mobilizarem contra o agronegócio capitalista, pois os ataques ao meio-ambiente são internacionais, assim como a luta de classes e a força da classe trabalhadora e seus aliados. Se o capitalismo destrói nosso planeta, destruamos o capitalismo!




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