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LULA E PRIVATIZAÇÕES | Maíra Machado: "Lula quer capital privado dentro da Caixa Econômica, Correios e Eletrobras"

A entrevista de Lula para Reinaldo Azevedo na Band News FM na última semana deixou diversos acenos. Entre eles, um aceno de que Lula aceita o capital privado em estatais. Mais um, num contexto onde o ex-presidente tenta cada vez mais se mostrar uma alternativa viável contra Bolsonaro aos olhos dos empresários e de golpistas, aceitando o reacionarismo e o regime autoritário brasileiro Maíra Machado, professora da rede estadual e dirigente do MRT, falou sobre a declaração de Lula.

terça-feira 6 de abril de 2021 | Edição do dia

“Desde a reabilitação dos seus direitos políticos, Lula vem dando inúmeros acenos para o mercado. Mostrando o papel que o PT pretende assumir nesse regime golpista, já fazendo política para 2022. A fala na entrevista na BandNews apenas mostra um Lula disposto a manter viva toda a obra de ataques do regime do golpe, mas também em seguir aprofundando. Reinaldo Azevedo o perguntou sobre privatizações, e Lula foi categórico em deixar claro que quer a entrada de capital privado na Caixa Econômica, nos Correios e na Eletrobrás. ”, disse Maíra.

Lula tentou contrapor, em sua resposta, privatização e abertura de capitais. Basicamente, ele se mostrou disposto a fazer o que ele próprio fez com a Petrobrás. Torná-las empresas de capital misto, que não sejam, de primeira, totalmente privatizadas, mas colocando parte da empresa na Bolsa de Valores. Mas as consequências, tanto para a população que depende dos serviços dessas empresas, quanto para os seus trabalhadores e trabalhadoras, é de ataque, igualmente. Assim como o preço da gasolina é sentido no país inteiro, a privatização, mesmo que parcial, de uma empresa como a Eletrobrás, seria sentida diretamente no bolso da população mais pobre. No caso da Caixa, é ainda mais absurdo o sinal dado por Lula, se tratando da estatal que é responsável pelo auxílio emergencial, hoje já em um valor extremamente reduzido, mas muito fundamental para a população.

Seu discurso deixa claro sua disposição em conceder ataques, da mesma forma que faz ao não dirigir sua fala para as centrais sindicais para que largarem a paralisia que estão hoje CUT e CTB, e que organizem o enfrentamento contra Bolsonaro e todos os golpistas. Lula se mostra mais do que disposto a conviver pacificamente com golpistas, como o próprio Reinaldo Azevedo, um dos mais ferrenhos defensores do golpe em 2016, e que hoje, frente ao bolsonarismo, se pinta de “razoável”, com governadores e congressistas da direita, que querem fazer avançar os mesmos ataques contra os trabalhadores que Bolsonaro, apenas sem seu discurso negacionista.”, completou.

Maíra também falou sobre o contexto atual dos acenos de Lula ao mercado, a liberação de seus direitos políticos e a situação do Brasil.

“Essa disposição de Lula ajuda a entender a própria liberação de seus direitos políticos. Até porque não podemos acreditar que Fachin, o mais lavajatista dos membros do STF teria tido uma “epifania democrática” ao decidir pela anulação das condenações contra Lula. A liberação dos direitos de Lula está inserida neste contexto, do Brasil de Bolsonaro e do avanço a passos largos da pandemia, com mais de 3 mil mortes por dia, mais de 300 mil mortos, e um desemprego em números recordes, que fez com que nas últimas semanas diversos atores do regime, atuassem para melhor “disciplinar” Bolsonaro. O pano de fundo para tentar disciplinar Bolsonaro é exatamente o medo da luta de classes, e de que, com a situação se agravando tanto na crise sanitária quanto na econômica, a classe trabalhadora e a população pobre se levante para lutar por suas vidas.

Não podemos aceitar essa perspectiva. Por isso é necessário exigir das centrais sindicais como a CUT e CTB, que acordem desse sono profundo que estão hoje, e cumpram o papel que deveriam cumprir, de serem ferramentas de organização dos trabalhadores. Por que só assim vamos conseguir responder ao caos que vivemos hoje. Tanto para lutar por respostas consequentes para a crise sanitária, quanto para a economia. Seja pela garantia da vacinação para a população, testagem massiva para mapear os casos de covid, ou por mais contratações nos hospitais, a uma fila única do SUS, que tenha a sua disposição os leitos da rede privada, mas também por um auxílio emergencial de ao menos um salário mínimo, e não os R$ 150 reais que nos oferecem os políticos golpistas e Bolsonaro - e que Lula e as centrais sindicais aceitam também. E o mesmo vale para a privatização, que vai ser sentida no bolso e no dia-a-dia dos trabalhadores e da população pobre.

Exemplos não faltam. Basta lembrar da força da luta dos petroleiros em 2020, após os anúncios de demissões em uma das fábricas de fertilizantes da Petrobrás. Sua forte greve, de diversos dias, foi um importante exemplo de luta dos trabalhadores contra as privatizações de Guedes e o projeto golpista. Assim como a greve dos ceetistas, contra a privatização dos Correios, mobilizando milhares ao redor de todo o país para se enfrentarem com Bolsonaro. Mas, além de serem ótimos exemplos de luta, outra coisa une estes enfrentamentos contra as privatizações: o fato de CUT e CTB terem mantido, em 2020, essas lutas isoladas, sem organizar outras categorias em apoio aos trabalhadores petroleiros e dos Correios, enfraquecendo suas lutas. Elas fazem isso, porque assim como Lula, estão dispostas a conviver com ataques aos trabalhadores, para terem um lugar ao sol dentro do regime autoritário brasileiro.

Por isso é importante batalhar pela auto-organização dos trabalhadores. E por isso nós do MRT ecoamos um chamado para que se conforme um pólo anti-burocrático, que batalhe pela organização dos trabalhadores, e pressione CUT e CTB a se colocarem em movimento, lutando um caminho diferente do apontado pela política de Lula e do PT, que se contenta apenas em tirar Bolsonaro do poder. É preciso mobilizar nossa classe pelo Fora Bolsonaro, Mourão, todos os militares e todos os golpistas, como a corja do Congresso, o STF e os governadores, todos estes defensores dos mesmos ataques defendidos por Bolsonaro. Essa batalha tem de ser contra todo o regime político brasileiro. Para, com base na luta dos trabalhadores, das mulheres, negros e jovens, colocarmos de pé uma nova Assembleia Constituinte, que seja livre e soberana, sem tutela de nenhum poder, e que possa decidir os rumos do Brasil, revogar o Teto de Gastos que estrangula o sistema de saúde em meio a pandemia, a reforma da previdência e a trabalhista, por exemplo.”




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