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1º DE MAIO | LULA | Lula no 1º de maio: oportunismo para desviar o ódio dos trabalhadores

O ato transmitido pelas Centrais Sindicais neste 1º de maio, proporcionou momentos de grande atenção (não pela qualidade de conteúdo, evidentemente). Seja por receber depoimentos de Ciro Gomes, de Marina Silva, e até do genocída Witzel, mas também por recolocar no mesmo “palanque” (desta vez virtual), depois de 31 anos, Lula e FHC.

sábado 2 de maio de 2020 | Edição do dia

A live organizada, dentre outras centrais, pela CUT, e pela CTB, foi uma demonstração importante de qual estratégia querem algumas organizações, e também de quem estão dispostas a ter ao seu lado em nome da sua Frente Ampla contra Bolsonaro.

Lula, FHC, Flávio Dino, Ciro Gomes, Wilson Witzel, juntos com as direções dos principais sindicatos do país, dividiram palanque na tarde de hoje, concretizando a organização de um ato com convites criminosos, deixando subir ao palanque do Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores, notórios inimigos, golpistas, e ex-bolsonaristas.

No caso de Lula e FHC, a última vez que haviam dividido fileiras dessa forma, foi no pleito eleitoral de 1989, no segundo turno onde Lula disputava contra Collor, e o tucano apoiou o petista.

A fala “radicalizada” de Lula, “ao lado" de FHC tem significado nada radical

O discurso de Lula surpreendeu alguns, pela suposta radicalidade. Ainda mais pensando que nas últimas semanas é o próprio Lula quem vinha orientando o PT a evitar propagar o “Fora Bolsonaro”, e pedindo calma aos seus companheiros de partido.

“Grandes tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações” Foi nesta frase que Lula apoiou grande parte de seu discurso. Dizendo que dessas transformações espera um mundo que virá depois “seja uma comunidade universal, que o homem e a mulher, em harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo, e que a economia e a tecnologia estejam a serviço deles”

Com colocações bastante fortes, expressou uma realidade que de fato vemos, mas que sua resposta é bastante distinta da que parece estar colocada em seu discurso. “os principais jornais econômicos do mundo, as bíblias da elite mundial, a anunciarem que o capitalismo está com os dias contados. E está mesmo. Está moribundo. E está nas nossas mãos, nas mãos do trabalhadores, a tarefa de construir esse novo mundo que vem aí”

De fato, como também disse ele, o “capitalismo está nu”. E de fato, a burguesia internacional vê a olhos nus as consequências da pandemia com as crises sanitárias, e com o quanto ela acelerou as tendências recessivas que já operavam na economia global, e que sim, deixarão grandes marcas ao redor do globo.

Mas de que vale esse discurso radical, se a aliança que Lula busca forjar como alternativa conta com cenas como essa “reedição” de um palanque dividido com tucanos “em nome da democracia”?

Afinal, não contam somente as palavras jogadas ao vento pelo ex-presidente, mas conta também seu lugar, e todo o cenário montado por um ato, que no Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores, abriu o microfone para figuras como FHC, histórico privatizador, que tem na sua conta articulação de uma Reforma da Previdência, Marina Silva, golpista, que batalhou pela reforma trabalhista, e o governador do Rio de Janeiro, aquele que comemorou o assassinato de um sequestrador, que monta em helicópteros para fuzilar periferias, Wilson Witzel.

Essa unidade, que Lula, PT, PCdoB, as centrais sindicais, os tucanos e outros partidos burgueses tentam forjar enquanto oposição à Bolsonaro, é o completo contrário a qualquer “radicalização discursiva” de Lula. É a contenção de qualquer radicalidade numa alternativa burguesa, que passa longe de realmente aproximar a construção do “mundo novo que sonhamos”, como disse Lula ao final de sua declaração

O que une estes setores? É somente Bolsonaro? Ou o medo da radicalização real?

Ao redor do mundo inteiro cresce um discurso de unidade nacional, de um “combate unificado a um inimigo comum” que seria o coronavírus, fortalecendo tendências nacionalistas, extrema-direitistas, ou então unificando em vários países a esquerda reformista, e a direita liberal.

Sabemos bem também que o inimigo que enfrentamos não é o coronavírus, mas a classe dominante que arrasta as condições para que a classe trabalhadora ao redor do mundo seja quem pague com suas vidas por essa pandemia, enquanto governos e bancos correm para salvar seus lucros e dos grandes capitalistas.

No Brasil falamos de um dos poucos países que vive um cenário um pouco - mas não totalmente - diferente. Afinal, não são todos que têm na presidência um boçal negacionista como Bolsonaro. Do outro lado da balança de Bolsonaro, estão Governadores (desde o PT até os tucanos), o Congresso, dirigido por Rodrigo Maia, e o STF, postando-se como oposição ao bolsonarismo, e eles sim, nas disputas palacianas, tentar construir a “unidade nacional” em torno da luta contra o vírus, enquanto uma alternativa burguesa.

Mas, o que no Brasil não é diferente do resto do mundo, é a clareza da burguesia das consequências desta crise, e um profundo medo da possibilidade de processos de levantes e revoltas sociais. Estes, claramente rondam o ar - não podemos dizer como serão, nem quando, mas rondam. Internacionalmente se estampam nos jornais matérias sobre a “vida pós pandemia”, sobre o que será do capitalismo em frangalhos.

Em muitos países, com setores fundamentais da produção parando, a crise se atenuou. Em outros, mesmo sem parar, mostrou que aqueles que movem o mundo - a própria economia - são os trabalhadores. Se de fato, a pandemia deixou nu o capitalismo, também serviu para deixar mais evidente, sem tantas máscaras, que se a classe trabalhadora para, a economia vai aos ares. Em outras palavras, mostra, mais uma vez, para aqueles que seguem se apoiando nas teorias de que a classe trabalhadora acabou, que ela segue sendo o grande sujeito histórico que pode transformar a nossa realidade. E é precisamente esse sujeito histórico que a política de Lula, e de todos os políticos de direita e políticos burgueses que ele busca se aliar, busca frear, ou impedir que se alce.

São milhões perdendo suas rendas, perdendo seus empregos, vendo familiares e amigos morrendo fruto das condições deixadas por esse mesmo sistema capitalista. Se as condições nas quais hoje enfrentamos o coronavírus já são extremamente degradadas ao redor do globo, fruto de anos de neoliberalismo e de suas crises, seria ingênuo achar que o medo da revolta contra as condições de vida não estão nos mapas e cálculos da burguesia.

Afinal, para que o mesmo Lula que disse anos atrás que “precisou de mim para o capitalismo funcionar no Brasil”, e que “nunca os banqueiros haviam lucrado tanto no Brasil” quanto em seus governos, passe agora em falar de “capitalismo moribundo” e desnudado, há de existir um medo, que os mova a busca canalizar-los da forma menos radical possível. E de pouco radical, encontram essa resposta na Frente Ampla que estão construindo como oposição à Bolsonaro, abarcando petistas, setores da esquerda, golpistas, burgueses, ex-bolsonaristas, e figurões de todo o tipo.

Não é esta a primeira vez que Lula se movimenta num sentido parecido. As condições antes eram outras, mas a estratégia para impedir qualquer avanço real que possa haver pela via da luta de classes, é a mesma.

Um refresco para a memória: Especialistas em desviar e conter as revoltas sociais

Se no início deste artigo relembramos que a última vez que Lula e FHC dividiram palanques foi na eleição presidencial de 1989, com o tucano apoiando o petista em segundo turno contra Collor, agora relembremos então de um processo que expressa muito bem o quando a política de Frente Ampla que Lula abraça leva para um caminho no sentido oposto da construção de um mundo novo.

Em 1989 já havia sido promulgada a constituinte de 88, e tínhamos a primeira eleição por voto direto no país. E nos anos anteriores não só Lula, como o PT em surgimento, haviam mostrado seu papel na transição do regime militar.

Lula, antes da fundação do PT, já era um conhecido e importante dirigente sindical da burocracia dos chamados Sindicalistas Autênticos. E teve um papel muito crucial em transformar os processos de greves operárias não em lutas abertas contra o regime militar, mas em lutas econômicas, arrancando qualquer conteúdo radical que se expressasse nas massas, e garantindo que os planos dos militares, da transição “lenta, gradual e segura” não perdesse foco. Nos processos de greve do final dos anos 1970, Lula foi fundamental para impedir que a luta dos trabalhadores ultrapasse os limites que os dirigentes sindicais tentavam lhes impor, se afastando das bandeiras mais radicais de questionamento ao regime, como “Abaixo a Ditadura”, e sendo um grande empecilho para que houvesse quaisquer tipos de espaço de organização operária que não estivessem sob controle dos burocratas sindicais. É nos marcos deste processo de greves, que abriu um cenário de enorme instabilidade no regime militar, e que depois foi derrotado, que surge posteriormente o PT. Em resumo, surge fruto da derrota de um dos maiores processos de greve da história da classe trabalhadora brasileira, e é fundado, em partes, por setores responsáveis por essa derrota.

Já no processo da Constituinte de 88, o PT não só aceitou, como legitimou um processo Constituinte totalmente tutelado pelos militares, por fora de em qualquer momento, organizar a força dos batalhões da classe trabalhadora para batalhar pela aprovação das demandas da classe trabalhadora naquela - na época - nova constituição, fazendo bom grado aos militares e a sua transição pacífica, e permitindo que estes mesmos se localizassem dentro de um novo regime, mas não fossem totalmente chutados da política pela população e pela classe trabalhadora. Suas alianças em época, eram, como hoje, tucanos, e políticos burgueses e da direita, opositores ao regime, mas também opositores de qualquer resposta operária ao regime militar.

Se não bastam estes refrescos para a memória, dentro do governo Lula, também nos governos Dilma, encontramos importantes lembranças de onde nos leva a aliança com estes setores.

Afinal foi o “Lula paz e amor”, com sua carta direcionada ao capital financeiro internacional e nacional, que colocou ao seu lado figuras desprezíveis da política nacional, como Renan Calheiros, como boa parte da bancada evangélica, e como Temer, por exemplo. Foi com a aliança com o centrão, e o fisiologismo da direita brasileira que o PT construiu sua base em seus governos. E isso não só gerou ataques à classe trabalhadora, como a Reforma da Previdência de 2003, cortes na saúde e na educação, a Lei Anti-Terrorismo, mas abriu espaço para que essa mesma direita, com a chegada da crise economia no Brasil, se voltasse contra o PT em nome de fazer passar ainda mais rápido ajustes e ataques à classe trabalhadora. Foi a própria política de conciliação do PT que abriu a boca dos bueiros para chegada do que existe de mais reacionário na política nacional, e que seguiu até chegarmos em Jair Bolsonaro.

A Frente Ampla e a Frente Única

Fica claro então, que não é de hoje que Lula está de braços abertos a dividir palanques (mesmo que virtuais) com algozes da classe trabalhadora. Mas o que é importante ficar claro também é que o discurso de Lula, supostamente radical, e a estratégia real que ele assume e defende, não levam a lugar algum que não a conter qualquer sinal de radicalidade, em nome de respostas eleitorais, e não em nome da transformação da sociedade.

Lula se une, e caminha de mãos dadas com setores que até ontem eram adversários, em nome de sua Frente Ampla. Marina Silva, Ciro, Witzel, Maia, Toffoli, Doria, todos estes tem as portas abertas para se somar a “luta pela democracia”. Mas a própria história de Lula mostra qual a direção que nos leva essa política de Frente Ampla.

Aos que escutam o discurso de Lula, e que de fato acreditam no “mundo novo que sonhamos”, fica a pergunta: então qual é a saída?

Se queremos de fato derrotar não só Bolsonaro, mas todos os inimigos da classe trabalhadora, e lutar por uma sociedade livre da exploração e da opressão, precisamos construir a mais forte unidade das fileiras da classe trabalhadora, unificada com todos os setores oprimidos e explorados da sociedade. Uma frente não com aqueles que aprovam reformas contra nós, mas das fileiras de cada fábrica, escola, metrô, centro de telemarketing, para buscarmos uma saída nossa. A mais ampla Frente Única entre trabalhadores de todas as categorias, dos partidos de esquerda, e dos movimentos sociais, para lutarmos contra os nossos verdadeiros inimigos: os capitalistas, que nos colocaram na situação que estamos, e que só sairemos com uma resposta própria, sem confiança nas instituições e nos políticos burgueses. Uma Frente Única que coloque de pé a força da classe trabalhadora para que ela própria possa decidir os rumos de nossas vidas.

Por gritamos Fora Bolsonaro, Mourão, e os Militares, sem nenhuma confiança nos governadores, no Congresso e nem no STF. E batalhamos por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que não seja tutelada por nenhum poder, e que possa decidir sobre todo o rumo das nossas vidas, do combate à crise sanitária, e também a crise econômica, decidindo nós mesmos as regras do jogo, mas lutando para avançar rumo a um governo de trabalhadores, de ruptura com o capitalismo. Só assim, teremos uma resposta que não signifique deixar que as vidas da classe trabalhadora sejam perdidas em nome dos lucros capitalistas.




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