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LULA E O GOLPISMO | Lula e o PT conciliam com a direita quando é preciso derrubar o golpista Temer com a força da luta

Antes do início da chancela do golpe institucional da direita no Senado, e mesmo durante a sessão, o PT vem buscando instalar a ideia de “oposição responsável” ao governo Temer, que completou 30 dias de interinidade. Lula encabeça a defesa desta “logomarca” do que será a atividade política petista durante o governo Temer, resultado da aceitação pacífica do golpe de uma direita que o PT alimentou e fortaleceu, e do boicote da CUT e CTB a construir qualquer tipo de resistência com os métodos da classe trabalhadora.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

terça-feira 14 de junho de 2016 | Edição do dia

No Esquerda Diário viemos abordando criticamente os diversos aspectos da estratégia petista encabeçada por Lula no período pós-golpe. A campanha de “Todos juntos pelo Fora Temer” está a serviço de canalizar o repúdio legítimo dos trabalhadores, das mulheres e da juventude contra temer para o fortalecimento da estratégia pacifista e eleitoral de Lula.

Durante todo o último período Lula deu repetidas mostras a toda elite nacional e estrangeira como não buscava, como ele declarou "incendiar o país" mas pela via de buscas de um acordão e conchavos com parlamentares tomar iniciativas que visassem ou o retorno de Dilma ao poder ou novas eleições onde poderia se postar como candidato "não do incêndio" contra os golpistas e seus ataques, mas como "bombeiro" da crise política nacional.

Tudo gira ao redor deste objetivo. Os métodos com os quais Lula trata de se aproximar dele são colhidos das mãos da direita: fisiologismo. Depois que Janot abriu pedido de prisão de eminências do PMDB como Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá, Lula sentiu o bom momento para reencontrar-se com Renan e influenciar o Senado com sua “solidariedade”. Reuniu 25 senadores para discutir a viabilidade do retorno de Dilma na votação decisiva do impeachment para que ela lançasse um plebiscito sobre novas eleições. Junto aos tucanos, o PT saiu em defesa da cúpula peemedebista acusada.

O PT se transformou em pouco tempo no mais aguerrido defensor da Operação Lava Jato. Não fosse a decisão de Teori Zavascki do STF de reenviar as investigações de Lula sobre o Tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia para Sérgio Moro, e o matrimônio petista com o Judiciário golpista estaria praticamente restabelecido. Ainda há juízes em Berlim...

Isso porque a Lava Jato – signo de como o autoritarismo estatal incrementa a violação dos direitos democráticos elementares que já existe nos morros e favelas, e que certamente se deporá sobre a cabeça dos trabalhadores em luta – está mirando alguns dos principais membros da frente golpista, dentro do PMDB, Marina Silva e até Aécio Neves do PSDB e resvalando em Serra (ainda que continue blindando o tucanato paulista). Sua seletividade na denúncia só mostra quão funcional foi ao fortalecimento destas instituições autoritárias e antioperárias, às quais só se opõe quando está diretamente envolvido.

O elemento ausente são as lutas dos trabalhadores, das mulheres e da juventude, das quais Lula, Dilma e o PT nada dizem. Assim como a negativa do PT em lutar seriamente contra o golpe é inseparável de sua estratégia de conciliação de classes, a negativa dos petistas em lutar seriamente contra os ajustes será inseparável de seus objetivos eleitorais.

O PT, como não poderia deixar de ser, trata de renovar seu currículo como agente de resgate de um regime político atravessado pela crise orgânica (econômica, política e social).

Oposição responsável, pacífica... mas tirana à luta de classes

A razão desta preocupação “responsável” é, segundo Lula, que o PT teme ser responsabilizado por fracassos do futuro governo caso adote um “tom muito pesado”. De fato, o golpe "preserva" em alguma medida o PT: seriam praticamente nulas as chances eleitorais petistas se Dilma continuasse sendo sangrada até 2018. Daí a distância entre o que dizem e o que fazem as entidades petistas: por baixo das palavras aguadas de "resistência até o fim", transmitiram sempre a sensação de que o golpe já passou, como intuito de apostar no desgaste que a condução da crise econômica despejará na direita para poder rejuvenescer-se sob a figura de Lula em 2018.

A burocracia sindical petista traduz essa estratégia como melhor pode nas fábricas e nos serviços. Durante a semana passada o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, havia anunciado (em nota removida do site da central) que uma “greve geral seria preparada, mas irá apenas ocorrer quando o governo interino do vice-presidente Michel Temer encaminhar para o Congresso Nacional as medidas de retirada de direitos que vêm sendo anunciadas via imprensa”. Segundo Freitas, a CUT “discutirá medidas no momento adequado”, a maneira adequada de já implementar medidas contra qualquer movimento de combate aos ajustes dos golpistas.

Esta posição de deixar os ataques correrem sem resistência foi a conduta adotada durante todo o processo do golpe institucional, em que a CUT e a CTB bloquearam qualquer expressão política independente dos trabalhadores, deixando de paralisar os principais setores da economia. Não à toa na manifestação de 10 de junho houve apenas poucas paralisações isoladas de algumas horas em algumas unidades na Petrobrás, que ficaram “para constar”, medidas burocraticamente controladas e designadas para ter pouca adesão para preparar uma política de retorno do PT pela via eleitoral ou por negociatas espúrias no Congresso.

Esta tirania sindical do PT contra o movimento operário (controle absoluto da expressão política dos trabalhadores, assembleias em que a base não fala, isolamento dos conflitos e traição das lutas que fogem ao controle) é a contracara do “pacifismo com responsabilidade” de Lula aos empresários, aos parlamentares, aos magistrados e juízes golpistas.

Pode-se afirmar com segurança que, em meio à crise orgânica que atravessa o país e que poderia servir de plataforma para o surgimento de um ciclo de lutas no movimento operário, a burocracia sindical petista (a CUT e a CTB) compõe um dos principais pilares de sustentação dos ataques aos direitos trabalhistas, previdenciários e orçamentários, desde uma posição não-golpista e discursivamente oposta a Temer.

Transferido ao campo da juventude, a UNE e entidades como o Levante Popular da Juventude cumprem o mesmo papel de contenção.

A “nova direita” empesteada pelas tradições escravistas das elites dirigentes nacionais, que conseguiu uma maioria qualificada no Congresso para aplicar contrarreformas reacionárias na Constituição que diz defender para deteriorar direitos adquiridos pela luta dos trabalhadores, e que gozam da confiança das patronais agrárias e industriais “pela graça de Deus, da família, dos torturadores e das Forças Armadas” tem a vantagem de contar com a tirania sindical de uma burocracia corrupta que tem mais medo da radicalização de suas bases do que de ser atropelada pela própria direita.

A separação dos planos “econômico” e “político” favorece a perseguição sistemática da estratégia petista que é desgastar Temer, atrair um punhado de senadores, e se oferecer como alternativa eleitoral sem incendiar o país e que deixa os ajustes passarem basicamente discursando contra eles. Esta “videopolítica” é a marca da paz social que quer o PT e garante os privilégios adquiridos da burocracia sindical em troca dos direitos da enorme maioria dos trabalhadores.

A política do discurso de Lula, pérfida, inverte o dito de Heine: vemos que “no invólucro mais quente nos aguarda o mais gelado dos extratos”.

Lula e o PT conciliam com a direita. Derrubar golpista Temer com a força da luta

É impossível combater o golpista Temer e seu gabinete de ajustadores com a estratégia de conciliação com a direita lançada por Lula e o PT. Meirelles continuará atacando o orçamento público e reduzirá gastos na saúde e educação para entornar na garganta da FIESP.

A única forma de derrotar estes ataques é cercando de solidariedade as lutas em curso e, como na França, confiar nas forças do movimento operário unificado com a juventude.

O que suas centrais calam, é o que deveríamos questionar para levantar um plano de emergência contra a crise. É preciso impedir as demissões e a redução salarial. Toda empresa que alegue falta de verbas para manter salários e empregos deve abrir sua contabilidade para mostrar aonde foi o dinheiro que lucrou. Contra a inflação e o desemprego que aumentam a taxa de mais valia absoluta extraída pela patronal, deve-se levantar escala móvel de salários e de horas de trabalho, reduzindo a jornada sem redução salarial, ocupando todos os que estão aptos ao trabalho. As que ameacem fechar ou demitir em massa, precisam ser ocupadas e postas a produzir sob controle operário, sob responsabilidade do Estado que garanta matérias primas. Estas medidas anticapitalistas, de autodefesa dos trabalhadores, exigem naturalmente um choque com o regime político dos capitalistas; por isso, foram “esquecidas” pelo PT.

Dilma quer uma repactuação do pacto de 88 com esta mesma direita, chamando o povo a participar da mesma com um mero sim ou não em um plebiscito. Ao contrário disso, uma nova Constituinte, Livre e Soberana, como debatemos aqui e aqui, imposta pela luta dos trabalhadores deve atacar este pacto tutelado pelos militares e defender os direitos, exigindo que todos os juízes sejam eleitos, revogáveis e recebam o mesmo salário de uma professora, e o mesmo para os políticos de alto escalão, que elimine o pagamento da dívida pública e estatize sob controle operário as empresas públicas estratégicas, que faça os capitalistas pagarem pela crise, expulse o imperialismo e contribua para que os trabalhadores vejam os limites de qualquer “democracia” convivendo com a FIESP, com os ruralistas com as bancadas das Igreja e passem a defender uma forma superior de governo, um governo dos trabalhadores anticapitalista.


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