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"Limpamos os ônibus com água reutilizada contaminada" denuncia trabalhador do BRT no RJ

"Então o pessoal trabalha com um sistema de água reaproveitada, que tem um cheiro horrível, imagine o tanto de bactéria que tem nessa água, os ônibus vem com várias sujeiras, pessoas que passam mal, urinam, tudo no ônibus."

terça-feira 24 de março de 2020 | Edição do dia

A crise do coronavírus tem escancarado as condições absurdas que vive a maior parte da população brasileira, especialmente a mais pobre, que está presente nos trabalhos mais precários e mais afetados. Nós, do Esquerda Diário, temos recebido inúmeras denúncias de situações alarmantes e revoltantes que os trabalhadores e trabalhadoras estão sendo submetidos, sendo tratados pelo seu patrão como se fossem imunes ao coronavírus. Reproduzimos abaixo a denúncia de um trabalhador do BRT no Rio de Janeiro:

"Está complicado os transportes para a gente ir para o trabalho. Depende das vans, os ônibus praticamente não existem mais. Ou vai de carona, ou vai de bicicleta, depende de onde a pessoa mora.

Em relação a firma, não mudou nada, está tudo normal, a gente não trabalha com nada demais, é o mesmo material que eles deram para a gente assim que eu entrei lá. É uma luva que maneja o latão do lixo, vassoura e a máscara, que não é especial, é a comum mesmo e mais nada. Em relação aos ônibus que eu trabalho não se tem essa limpeza que a Globo mostra aí, que limpa passa pano, nada disso existe lá, desde que começou essa onda de coronavírus, nada disso mudou, não tem nada de especial, continuamos a fazer o mesmo serviço que há 2 anos atrás. É o contrário, a água que usamos na empresa é reutilizada, a Cedae praticamente não fornece água lá, coloca um produto nela e a água que sai dos ônibus sujos sobe pelo sistema de tubulação, faz um tratamento e desce novamente para o processo de lavagem dos ônibus, o que é mais perigoso. Então o pessoal trabalha com um sistema de água reaproveitada, que tem um cheiro horrível, imagine o tanto de bactéria que tem nessa água, os ônibus vem com várias sujeiras, pessoas que passam mal, urinam, tudo no ônibus.

Trabalhamos num ambiente insalubre, só deus para guardar a gente lá, infelizmente é isso aí. Essa historinha que aparece na televisão que a prefeitura mandou lavar os ônibus isso é conversa fiada, quando a globo bota ali uma câmera dentro da supervia que tão limpando os ônibus com paninho, com álcool em gel, nós não temos nem isso dentro da empresa. Quem tem o seu que leve de casa. É isso que tá acontecendo, eu vejo muito blablabla, muita conversa fiada, mas quem vive o dia a dia, quem tá na rua trabalhando sabe que não é isso que acontece. Os ônibus estão andando lotados, o trem andando lotado, quando passa um ônibus vazio em frente a câmera é pra inglês ver, ou é mentira, o ônibus passou dali já está lotado. Os ônibus tão chegando tarde, estão atrasados, mandaram reduzir a frota de ônibus, aí aquele que que tá na rua vai super lotar porque não tem ônibus suficiente e o povo que vai trabalhar é obrigado a trabalhar. Ninguém vai ficar em casa para seguir o conselho da Globo ou da Record porque quem vai pagar o salário deles é o patrão, que tá lá esperando eles para poder trabalhar.

Então eu acho que é um sistema complicado, muito estranho isso aí, entendeu. É muito terror na mídia para pouca ação. Hoje mesmo apareceu na estação de Nova Iguaçu, uma fila imensa para entrar dentro do trem, é contaminação? com certeza, que poderia ser evitada. Eles não fazem porque não querem e na verdade, a conta vai arrebentar pra gente, que somos mais humildes, as pessoas que ganham salário mínimo que vão se arrebentar lá no final, essa que é a verdade.”

Se o governo está tão preocupado com a crise do coronavírus quanto demonstra pela repressão às pessoas que andam nas ruas, não deveria esse mesmo governo estar tomando medidas imediatas pela segurança e saúde desses trabalhadores? O transporte público, como bem afirmado na denúncia, continua carregando milhares pessoas até seus locais de trabalho diariamente. Se esses mesmos transportes não possuem uma higienização adequada feita por trabalhadores em plenas condições sanitárias, tanto os passageiros quanto os trabalhadores do transporte estão potencialmente sob perigo de contaminação e de transmissão. Esses problemas só poderão ser profundamente resolvidos se forem os próprios trabalhadores e a população quem decida sobre o funcionamento e a segurança dos transportes, garantindo que haja para todos elementos essenciais de proteção (como máscaras, álcool gel, luvas etc), higienização adequada e completa, liberação remunerada em caso de contágio, proibição de demissões e testes massivos. Os trabalhadores da saúde e da limpeza são os mais afetados nessa crise, já que são eles que se expõem diretamente dia a dia ao risco do vírus. Precisamos garantir a segurança desses trabalhadores! Não podemos confiar nas empresas e nos governos que continuam expondo nossas vidas para continuar satisfazendo seus próprios lucros.




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