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EQUADOR | Lenín Moreno descarrega perseguição contra a oposição política no Equador

Após acordo com as direções indígenas e revogação do decreto que aumentava os combustíveis, Moreno começou uma perseguição política aberta contra a oposição correista.

quinta-feira 17 de outubro de 2019 | Edição do dia

Após acordo alcançado com as direções indígenas para revogar o decreto do mega-pacote do FMI e estabelecer uma mesa de diálogo para negociar um novo, Lenín Moreno começou uma feroz perseguição contra as figuras da oposição política ligados ao ex-presidente Rafael Correa

O Governo do Equador voltou a insistir nesta terça-feira em ser o alvo de um suposto plano de desestabilização e que as manifestações da semana passada obedeciam a uma tentativa de golpe de Estado idealizado pelo ex-presidente Rafael Correa.

Sob este argumento, a ofensiva mais forte da qual lançou mão foi deter Paola Pabón, prefeita da província de Pichincha (cuja capital é Quito) e líder do movimento Revolución Ciudadana, de Correa. Nos dias anteriores havia feito o mesmo com outras e outros dirigentes políticos do correismo que tem cargos em prefeituras locais.

Nos dias anteriores Gabriela Rivadeneira, que foi presidenta da Assembleia Nacional e uma das dirigentes mais destacadas do movimento político do ex-presidente, afirmou que estava sendo ameaçada e por isso buscou refúgio na embaixada do México.

Moreno saiu na ofensiva e misturou todos os argumentos, de corrupção até tentativa de golpe para justificar esta perseguição política: “Estes correistas estão sendo julgados pela Justiça, que agora sim é independentes. Roubaram a pátria”, disse apontando supostos casos de corrupção.

No entanto as figuras detidas como a prefeita Pabón são acusadas de “rebelião”, por haver instigado as manifestações.

Correa repudiou as perseguições e rechaçou como ilegal a detenção de Pabón, assegurando que o delito de “rebelião” não se ajusta à realidade e se opõe ao “direito de resistência” que ajuda os equatorianos. Um argumento que de qualquer forma não seria utilizado sob sua presidência, quando criminalizava os protestos sociais.

Pabón por sua vez disse nas redes sociais que “Isso é um ataque aos direitos humanos, isso é perseguição política. Meu único delito é ser militante da Revolución Ciudadana".

Apesar das direções indígenas se somarem durante os 12 dias de mobilizações ao argumento de Moreno contra o ex-presidente, com o qual se encontram enfrentadas pela repressão e perseguição que sofreram sob seu governo, estas mesmas organizações tiveram que reconhecer durante a mesa de diálogo que os setores mobilizações não respondiam particularmente a Correa.

Leonidas Iza, presidente do Movimento Indígena de Cotopaxi, foi quem sinalizou com mais clareza: “me parece irresponsável acreditar que este é um ato de vandalismo da gente dos correistas. Nós mesmos nos surpreendemos com a quantidade de pessoas. Não acredito que Correa tenha neste momento capacidade para movimentar aquilo".

A afirmação do líder indígena tinha que ver com a demonstração palpável de que as barricadas em Quito e os enfrentamentos nas ruas vinham aumentando exponencialmente e ameaçavam escapar de seu controle. Sobretudo porque as ruas começou a se escutar o grito de “Fora Moreno”, uma demanda rechaçada pelas direções indígenas que somente defendiam a revogação do decreto do mega-pacote.

Nesta terça-feira, Moreno falou aos seus simpatizantes do balcão da Casa do Governo em Quito e ajustou seus argumentos: “Não vamos permitir que volte a se fortalecer e mandar a guerra, a quadrilha, o assalto e o roubo”.

Esta acusação é similar a que foi usou durante os primeiros dias de manifestações, para deslegitimá-las dizendo que eram de terroristas enviados pelo governo venezuelano de Nicolás Maduro, até narcotraficantes e seguidores de Correa.

Sob este argumento estabeleceu o estado de exceção e logo o toque de recolher, desatando uma repressão brutal contra todos os manifestantes, inclusive as próprias bases indígenas, que sofreram grande parte do ataque da Polícia e do Exército.

O objetivo de Moreno com esta ofensiva contra o correismo é se reposicionar politicamente após o golpe que sofreu ao ter que retroceder com o decreto do mega-pacote após 12 dias de mobilizações. Para este objetivo já recebeu o apoio dos Governos da direita regional, a OEA e o próprio FMI que enviou uma carta “parabenizando” a mesa de diálogo para “encontrar um acordo que responda aos desafios econômicos atuais”. Ou seja, que define como vai ser aprovado o ajuste exigido pelo organismo.

Até o momento as direções indígenas não rechaçaram, nem denunciaram esta perseguição política brutal, que hoje Moreno descarrega contra a oposição correista mas que coloca os precedentes, os métodos e os argumentos nos quais o Estado Equatoriano está disposto a perseguir e prender por “rebelião” todo aquele ou aquela que se coloque à frente de mobilizações e levantamentos como o que o país acaba de viver.




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