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O caso que chocou a comunidade LGBT no começo deste mês (05/Mar) quando o menino Peterson Ricardo de Oliveira, 14 anos, de Ferraz de Vasconcelos (SP), entrou em coma após ser espancado por 5 estudantes de sua escola. O motivo? Seus pais serem homossexuais. Cinco dias depois o mesmo faleceu, segundo o laudo divulgado na sexta-feira (27) por "causas naturais".

domingo 29 de março de 2015 | 00:50

Depois que o caso repercutiu em diversas mídias como o jornal O globo, O Dia e G1, Peterson se junta a mais um dos casos de crime de homofobia que são registrados como "morte natural". Essa é uma maneira poderosa de ocultar o índice altíssimo de crimes de ódio contra homossexuais, ou como neste caso, contra o filho de um casal homoafetivo, e, assim, seguir negando a existência da homofobia e da transfobia no país, fortalecendo os discursos de ódio da bancada moralista do Congresso Nacional.

O caso Peterson tem muito a nos mostrar sobre a brutalidade da homofobia no país. A começar por não existir nenhuma lei federal que garanta o combate à homo-lesbo-transfobia e a comunidade LGBT seguir sem qualquer proteção legal, que reconheça que existe uma profunda discriminação e forte vulnerabilidade a estes seguimentos sociais. Todavia, esse caso evidencia que não é preciso ser LGBT para sofrer a repressão sexual e a intolerância. Sendo filho de um casal homoafetivo, Peterson, sentiu em seu corpo o peso das agressões de ódio e a disposição de impedir a formação de famílias não heterossexuais.

Um dia após o espancamento de Peterson, a deputada Júlia Marinho (PSC-PA) apresentou na Comissão de Direitos Humanos um proposta de alteração no artigo 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), adicionando o trecho "É vedada a adoção conjunta por casal homoafetivo". Uma proposta de lei para proibir à população LGBT a adoção e o direito de constituir família, naturalizando tal restrição e aceitando que os espaços de violência contra LGBTs, como o que foi fatal a Peterson e os que foram a tantos outros jovens, garantam tal proibição.

Esconderijos e Silenciadores da homofobia

A mídia, a polícia e a justiça sempre andam de mãos dadas para negar que existe homofobia, dizendo contraditoriamente que não "tem preconceito" e "todos somos iguais". Foi assim que Kaique Augusto, mesmo com os dentes arrancados e uma barra de ferro atravessada em sua perna após uma noite na balada, recebeu um laudo que dizia "suicídio". No caso João Donatti, a homofobia foi chamada de "crime passional". Também no assassinato a facadas de Marcos Vinicius, mesmo sem qualquer indicio de roubo, nada de comprovação de homofobia. Serão todos estes casos uma grande coincidência? Ou estas distorções são métodos para reduzir os inúmeros registros de homofobia e reforçar a ideologia de que "homossexuais se vitimizam para conquistar privilégios"?

As famílias de vítimas de homofobia constantemente se manifestam denunciando o crime homofóbico, mas são em grande maioria, assediadas ou "cansadas pelo cansaço". Outras tantas seguem na luta por justiça, como o grupo Mães Pela Igualdade, formado por mães de filhos LGBT que sofreram ou se solidarizam com as vítimas de homo-lesbo-transfobia. Porém, seguem impotentes para desmascarar a mídia, a polícia e os médicos legistas que não possuem nenhum compromisso com o combate a violência homofóbica.

Virgínia que é ativista LGBT e colunista da Seção Gênero e Sexualidade do Esquerda Diário se manifestou "Mais um escandaloso caso de homofobia é silenciado. É hora dos sindicatos combativos e dirigidos pela Esquerda, as entidades estudantis nas universidades e escolas que lutam contra todas as formas de opressão, tomarem nas suas mãos a necessidade de colocar de pé investigações independentes deste Estado e desta polícia que assassina os jovens pobres e negros e silencia os feminicídios e assassinatos homofóbicos, nada podendo nos oferecer em nossa luta por verdade, justiça e punição. Chegou a hora de desmascarar a polícia e nos empoderarmos da tradição de StoneWall, isto é, lembrarmo-nos que somente nossa própria organização pode dar um basta a nossa opressão".




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