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As iniciativas de autodefesa LGBTI e outros setores oprimidos se multiplicam. Refletimos para entender a necessidade de proteção em uma estratégia de transformação social anticapitalista.

sexta-feira 28 de junho de 2019 | Edição do dia

50 anos atrás, a questão da auto-defesa cotidiana entrou no debate político em virtude do auge dos movimentos de mulheres, movimento negro, movimento sexual e a luta de classes em todo o mundo.

Hoje a questão vive o maior avivamento desde então, especialmente a partir de milhares de mulheres organizadas na Índia contra o abuso sexual, de muçulmanas nos países ocidentais perante a onda de islamofobia (um grupo de 3000 se registraram recentemente) ou da população afro-americana diante da brutalidade policial e do racismo.

Em um artigo centrado na autodefesa LGBTI desde um ponto de vista político, a limitação documental acessível requer circunscrever o panorama histórico essencialmente ao movimento LGBTI nos Estados Unidos, perdendo a perspectiva valiosa dos movimentos nos países semicoloniais.

No entanto, nos Estados Unidos do início do mandato de Donald Trump, o ensinamento de artes marciais para minorias e a articulação de grupos para proteção de bairros negros da ameaça de supremacistas brancos e policiais, cresce a um ritmo histórico. O grupo Pink Pistols, de difusão e treinamento com armas de fogo para as pessoas LGBTI, cresceu de 1500 a 7000 membros no pós-ataque LGBTIfóbico do Pulse Club, em Orlando, em Junho de 2016.

No caso dos Pink Pistols há elementos nacionalistas estadunidenses, tais como referências da Segunda Emenda e o uso do emblema patriótico da serpente, onde se lê: Não pise em mim, com elementos das tradições de auto-defesa dos setores oprimidos dos 70, como a proteção da comunidade à margem do Estado e até mesmo as forças repressivas do Estado e a defesa da posse de armas a partir de uma posição contra a reacionária Associação Nacional do Rifle (NRA)

No entanto, o alcance político deste clube de tiro fundado em 2000, cujo lema é "Gays armadas não são chutadas" é reduzido, uma vez que a defesa armada da vida isolada sem estruturação em uma linha de reivindicações sociais pode se acomodar em uma situação de retrocesso. O armamento com arma de fogo de grupos de autodefesa dá continuidade ao arsenal dos grupos de décadas anteriores, como aqueles criados nos anos 80 e 90 em cidades como San Francisco ou Nova York, mas perde seus avanços obtidos em orientação política.

Estes grupos, que operavamnos anos 80 e 90, assistiu os distritos de muitas cidades, sob o nome Pink Panther Patrol enfrentando neonazistas e grupos LGBTIfóbicos. Embora estas patrulhas foram dissolvidas devido à demanda substancial da produtora MGM, criadora da Pantera Cor de Rosa que ganhou o julgamento por direitos autorais, seu nome foi inspirado no movimento Pantera Rosa dos anos 70.

A ideia nos anos 70, deste setor do movimento LGBTI era simples: copiar os Panteras Negras. Como o Black Panther Party organizada vigilância nos bairros negros e a luta de forma autonôma, mas mantendo um certo grau de interseccionalidade nas lutas operárias e anti-imperialistas dos finais da década de 60 e 70, o Movimento Pantera Rosa decidiu fazer o mesmo, até imitando sua estética.

O movimento pelos direitos LGBTI já existia antes da revolta de Stonewall, mas depois disso não só aumentou o seu eco, sua extensão a outras áreas e o número de ativistas, mas também transforma radicalmente a ousadia de suas abordagens ao calor uma aguda luta de classes, de juventude, de libertação racial e feminina desde o final dos anos 60 em todo o mundo.

Era necessário enfrentar essa situação nas ruas e não somente defender-se, mas também atacar, tanto as leis e as forças repressivas do Estado e suas instituições que oprimem a comunidade LGBTI e o coração da besta: o velho hétero-patriarcado em aliança com o sistema capitalista.

Estas abordagens começaram a se multiplicar por países como Estados Unidos, Argentina, Grã-Bretanha, França, Alemanha e o Estado espanhol durante os anos 70 na mão de uma nova forma de organização para o combate: a FLH, Frente de Libertação Sexual.

Estas organizações militantes são em grande parte descendentes do "Espírito de Stonewall" e eclodem como uma das alas mais revolucionários dos movimentos de libertação sexual, a partir da perspectiva de aliança com o movimento operário e os movimentos anti-racistas, anti-imperialista e emancipação das mulheres, lutando pelos direitos das pessoas LGBT com um discurso que também ataca a sociedade capitalista como culpada dessas várias opressões.

Da cisão de grupos da FLH nasceria o Movimento Pantera Rosa, especialmente depois do assassinato de Harvey Milk, o primeiro político abertamente gay em 1979, que iria participar em piquetes, greves e manifestações, bem como a criação de patrulhas de autodefesa.

No entanto, eles também sofrem o desastre conservador destes grupos nos anos 80, em que foram instituídas as alas mais integracionistas no marco de fortes ataques em uma época marcada pelo neoliberalismo e a criminalização e proliferação do HIV associada com a comunidade LGBTI.

Essa bateria de ataques levou a maior parte do movimento para uma realidade de resistência e conservadorismo, de abandonar a perspectiva de luta de transformação de toda a sociedade para lutar pela criação de espaços reais e institucionais contra a discriminação, aumentando o confinamento de pessoas LGBTI para seus próprios "guetos".

Estes grupos iriam terminar integrando-se em grande parte no Queer Nation, que teve uma visão separatista da luta pela libertação sexual que formava uma espécie de independentismo LGBTI defendendo a fundação de um território para os não-heterossexuais e foi absolutamente desconectado de lutas de outros setores.

No entanto, também a questão da auto-defesa resgatada mais recentemente por grupos como o Bash Back, cujo nome significa "bater de volta", fundado em 2007 como um grupo de auto-defesa que combina ação direta como forma de protesto.

Embora em uma sociedade patriarcal em que a vida das mulheres e das pessoas LGBTI esteja em risco, e a autodefesa é um elemento necessário para a sobrevivência, o simples fato de fazê-lo nos marcos mostrados até o momento se resultam como insuficientes.

A autodefesa isolada costumava concentrar-se em certos bairros de homossexuais dessas cidades, o que é uma forma de resistência à perda de espaços "seguros", não de estender as "áreas seguras" à população total. A tática de liberação de espaços já era criticada na década de 70 pela FLH, que considerava uma espécie de gueto desses lugares, criada em grande parte com base no benefício de empresários da hotelaria e do turismo.

Hoje, quando milhares de pessoas LGBTI são mortas dentro e fora da lei em todo o mundo, a autodefesa é necessária, mas também é necessária a luta pela completa transformação da sociedade, pela abolição do patriarcado e do capitalismo que a retroalimenta, já que não é hora de apenas resignar-se a saber usar armas ou lutar artes marciais quando sofrer ataques, mas é hora de acabar com o machismo, a LGBTfobia e a opressão à dissidência sexual.




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