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BOLÍVIA | Justiça boliviana convoca diálogo sobre eleições após três dias de bloqueios e mobilizações

Com quase 80 pontos de bloqueio, o Tribunal Supremo convocou a COB (Central Obrera Boliviana, em espanhol) e outras organizações que exigem a realização das eleições para negociar após o terceiro adiamento decretado pelo governo golpista de Añez.

sexta-feira 7 de agosto de 2020 | Edição do dia

Três dias após o início do bloqueio de estrada determinado pelo COB, já existem cerca de 80 pontos de conflito, embora a greve geral, como aconteceu anos atrás, não se efetiva. A situação revela divisões crescentes dentro do governo de fato.

Após três dias do início da greve geral indefinida determinada pela COB e organizações sociais e sindicais aglutinadas no Pacto de Unidade, contabilizam-se quase 80 pontos de bloqueios em nível nacional com tendências a aumentar. Entretanto, esta medida de pressão acontece com contradições já que nos centros urbanos, mineiros e fabris a greve não foi acatada. Tanto a CTEUB (Confederação de Trabalhadores da Educação Urbana da Bolívia), como a Confederação de Trabalhadores Fabris emitiram comunicados rechaçando a disposição da COB, com o argumento de que a saúde está em primeiro lugar e assinalando que as eleições só foram postergadas por um mês.

Estas visões, sustentadas pelos dirigentes fabris, “esquecem” que na realidade este é o terceiro adiamento. O temor de amplos setores populares, como vem se expressando nas mobilizações, é que os golpistas pretendam novas postergações frente ao aumento geométrico de contágios quando, além do mais, os diversos representantes do arco golpista assim como os meios de imprensa hegemônicos sinalizam constantemente que o vírus não vai desaparecer nos próximos meses, o que deixaria a porta aberta aos golpistas para seguir adiando o calendário eleitoral.

Juan Carlos Huarachi, secretário executivo da COB, nesta quarta, desafiou o presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Salvador Romero, a um debate que seja transmitido para que em todos os pontos de bloqueio possam escutar os argumentos do TSE e da COB. Este “desafio”, entretanto, se complementou com a resolução do mesmo TSE de abrir uma mesa de diálogo com sete organizações sindicais, entre elas a COB, para a mesma quarta às 14h, onde esperavam convencer as organizações sociais de postergar para 18 de outubro os comícios, buscando fazer com que as medidas de pressão sejam desmontadas.

Esta tática de diálogo não funciona por si mesma. Arturo Murillo afirmou que se não se desmontassem os bloqueios voluntariamente, eles desmontariam, numa clara ameaça de repressão policial e militar, sob o argumento de que deveriam garantir a chegada de oxigênio aos hospitais, algo que estaria interrompido por causa dos bloqueios. Também afirmou que, se o TSE organizar as eleições para "amanhã", eles, como o governo e a frente eleitoral juntos, não terão problemas em ir às eleições amanhã. Essa declaração, que busca focar o objeto do conflito no TSE, enquanto avalia a possibilidade de alcançar novos acordos com o MAS (Movimiento al Socialismo, em espanhol, partido de Evo Morales), antes de recorrer à força, é feita dentro de uma estrutura de crescentes fissuras no gabinete.

Como se não bastasse o encerramento do ano letivo anunciado pelo ministro da Presidência Yerko Nuñez, invés do ministro desta pasta, Victor Hugo Cárdenas, ontem foram conhecidas mais das muitas renúncias até agora na gestão golpista. Trata-se da renúncia do Ministro do Planejamento devido a diferenças na maneira de lidar com eventuais créditos internacionais, os quais ficariam condicionados a uma desvalorização monetária após a superação da crise da saúde.

Por outro lado, os escândalos de corrupção não param, revelando que o pessoal executivo da companhia estatal de petróleo YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos, sigla em espanhol) que foram funcionários da Petrobras assinaram resoluções contrárias aos interesses do Estado para beneficiar a transnacional por valores aproximados em 5 milhões de dólares por mês.

O negócio do setor privado de saúde

Enquanto Murillo e todo o bloco golpista tentavam manchar as mobilizações com o argumento de que as mortes estavam ocorrendo devido à falta de oxigênio que não chegaria aos centros hospitalares, o rádio Kawsachum Coca negou essas declarações, afirmando que a livre circulação de oxigênio e medicamentos foi instruída nos vários pontos de bloqueio. A verdade é que, semanas atrás, o colapso sanitário é tal que as pessoas morrem em suas casas ou nas ruas devido à falta de oxigênio, ou mesmo em hospitais onde os pacientes quase só podem ser admitidos se transportarem um tubo de oxigênio com eles próprios.

O colapso do sistema de saúde está incentivando a especulação e a usura de clínicas, laboratórios e empresas farmacêuticas, e agora com os distribuidores de oxigênio.

O governo do golpe incentiva os negócios que os donos e empresários da saúde têm realizado, onde os setores populares mais negligenciados estão sendo condenados a tratamentos de eficácia duvidosa, como a Ivermectina, um antiparasitário que, segundo alguns, estaria contribuindo para o combate à doença e outros que incentivam o dióxido de cloro, um desinfetante industrial, a combater a doença. Em outras palavras, a gestão criminosa da pandemia por Áñez e seus ministros está condenando a classe trabalhadora, maiorias populares, comunidades e povos indígenas e camponeses a salvarem-se quem conseguir e se resignarem.

Infelizmente, o COB e as lideranças sindicais e movimentos sociais, longe de lutar pela nacionalização, sem remuneração, de todo o sistema privado de saúde, a fim de garantir o acesso à assistência médica nos centros hospitalares para a maioria da população, reduz suas exigências para que esse desinfetante industrial, dióxido de cloro, possa ser comercializado livremente, evitando assim unir forças para uma verdadeira luta contra o golpe e salvar a vida dos trabalhadores.




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