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ORIENTE MÉDIO | Iraque começa uma grande ofensiva militar para recuperar Mossul

O primeiro ministro do Iraque, Haider al-Abadi junto a altos mandantes do exército, anunciaram na madrugada de segunda-feira, o início das operações militares para recuperar a cidade de Mossul das mãos do Estado Islâmico. Estamos diante de uma possível Alepo Iraquiana?

terça-feira 18 de outubro de 2016 | Edição do dia

Se trata de uma operação militar sem precedentes desde a invasão estadunidense ao Iraque em 2003, por sua envergadura e significado. Todos os avanços militares iraquianos dos últimos meses anunciaram uma pronta iniciativa de recuperar a cidade estratégica de Mossul, das mãos do EI, porém não tem sido uma surpresa. Nas últimas semanas, as forças governamentais tem cercado Mossul em preparação deste momento. Este domingo, a aviação iraquiana lançou panfletos anunciando que a batalha seria iminente, pedindo a população que permanecessem em suas casas, assegurando que não tinham como objetivo atacar os civis.

Além do mais trata-se do maior desdobramento de tropas iraquianas desde 2003, o exército conta com o apoio aéreo da coalizão internacional contra o ISIS, nominalmente formada por 60 países e o apoio dos peshmergas (milícias curdas ao norte do Iraque).

O governo do Iraque e seus aliados internacionais esperam que " a campanha constitua o golpe decisivo ao poder e prestigio que o Isis tem acumulado nestes anos e que, como resultado, reduza sua capacidade de recrutar no solo do Iraque e Síria, o autoproclamado Califado, senão também em outras frentes como na Líbia o Sahel". Por outro lado, Al Abadi e seus sócios de Governo pensam que a vitória fortalecerá e dará legitimidade a seu mandato, que atravessa uma profunda crise política e econômica em um país que se enfraquece desde a intervenção militar estadunidense de 2003, que inclui atentados cotidianos em Bagdá e mobilizações populares contra o governo. Sendo que a população é a que menos tem acesso a energia em um país que possui paradoxalmente 10% das reservas mundiais de petróleo.

Mossul é a terceira cidade iraquiana mais importante, depois da capital, Bagdá, e a sulista Basra. A partir da recuperação de Faluja três meses atrás, todas as operações lançadas pelo exército apontam pela tomada desta cidade. Logo os êxitos militares sobre a aproximação desta cidade de Qayara, Mossul terá a maior concentração civil e militar e a que vai se enfrentar com a colisão liderada pelo exército iraquiano. O risco de vinganças sectárias como as que se tem vivido nas províncias de Al Anbar e Saladino, se somam a necessidade de proteger a população civil que permanece em baixo do controle dos extremistas. Estima-se que ainda ficam entre meio milhão e um milhão dos milhões de habitantes que tem na cidade, quase exclusivamente árabes sudaneses. Além de, esperar que 100.000 iraquianos possam fugir pela Síria e Turquia para escapar da ofensiva militar, anunciaram desde a agência das Nações Unidas para os refugiados ACNUR.

O exército iraquiano e os peshmergas ( tropas curdas no Iraque) livraram combates em várias populações perto de Mossul, gerando as condições necessárias para iniciar a ofensiva para recuperar a cidade das mão dos jihadistas. Uns 25.000 soldados e peshmergas respaldados pela aviação da colisão bloquearam as carretas para impedir que soldados do Estado Islâmico escapem ( entre 4000 e 9000 jihadistas segundo as fontes).

Mossul uma nova Alepo?

Ao redor de Mossul confluem distintos atores que representam o teatro de operações e interesses contrapostos de potencias estrangeiras. a própria composição das forças que chocaram, uma amálgama de soldados, milícias curdas, xiitas e sunitas, nos dá essa ideia. Existem batalhas precedentes contra o EI na Faluja, Ramadi o Tikrit onde subjazia o enfrentamento sectário entre árabes sunitas e árabes xiitas ( e por extensão o receio dos países árabes pela influência da Arábia Saudita, Irã e Iraque respectivamente). Além de entrarem em cena as ambições curdas e a interferência turca para evitar que se contamine seu território.

As autoridades da Região Autônoma do Curdistão repetem que não tem aspirações territoriais sobre Mossul e a província de Nínive da qual é capital, embora afirmem que vão manter presença nas zonas que se apropriaram depois do surgimento do EI e que esperam um governo provincial favorável a seus interesses.

Por sua parte, Turquia está utilizando a existência da minoria turcomana e a " guerra contra o terrorismo", como desculpa para estar presente no conflito que lhe permite além de posicionar-se como potencia regional frente ao Irã, cuja influencia no Governo iraquiano tem se implementado através de milícias xiitas projetadas consequentemente da irrupção do EI.

Para isso não somente tem mobilizado tropas dentro do Iraque, desatando um grave encharcamento diplomático com Bagdá, senão que tem financiado e treinado a milícia Guarda de Nínive, sob mando do controverso anterior governador, Atheel al Nujaifi, um árabe sunita, cuja família tem dominado a política local durante décadas. Existem uns 2000 soldados turcos estacionados na localidade de Ba’ashiqah que participaram desta ofensiva estratégica para Ancara e os demais atores, posto que o governo de Erdogan pretende frear as ambições na fronteira turca, apesar de que o governo iraquiano os considera como invasores.

Em caso de conquistar uma vitória, não está claro como o débil governo de Al Abadi, vai conseguir conjugar os interesses contrapostos. Ou se, a recuperação de Mossul somente aprofundará a desintegração do Iraque, aumentando o sofrimento dos diferentes grupos étnicos.

A ofensiva, se desenvolve em um contexto onde as tensões entre a Rússia e EUA estão aumentando, apostando em terceirizar a guerra no teatro de operações Síria, mas que pode ir aumentando uma escalada maior consequentemente dos bombardeios estadunidense no solo iemenita. Mais uma vez pode-se ver como as incursões norte-americanas e a OTAN principalmente acarretam anos de agonia para os povos.

Traduzido por Tatiana Ramos Malacarne.




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