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INUNDAÇÕES EM SP | Inundações e racionamento: problematização ambiental ou a realidade de um sistema predatório?

Depois da alegação de que a quantidade de chuvas é o fator das inundações, deslizamentos e da morte de 18 pessoas, governo ignora o mal planejamento urbano e as relações ambientais. É necessário discutir mais a fundo que o verdadeiro problema está no sistema predatório que vivemos!

sábado 12 de março de 2016 | 01:00

"Verão em São Paulo: tempo de dias quentes e abafados, chuvas repentinas no final da tarde seguidas de indesejáveis alagamentos e enchentes. Ruas transformam-se em verdadeiros rios, obrigando a população a recorrer a botes, em alguns casos, e a se arriscar na travessia da correnteza."

Essa é a primeira frase no site oficial da Prefeitura da Cidade, na sessão de cultura e patrimônio histórico da cidade. Sim, você está lendo corretamente, problemas socioambientais históricos são considerados patrimônio! E se você ainda tiver curiosidade para continua a ler perceberá que o texto responsabiliza somente a população dos problemas causados pelas inundações – o termo correto é este, pois enchente, que a mídia burguesa coloca significa transbordamento das águas de seu leito natural para a região de várzea provocadas por chuvas intensas e contínuas, enquanto inundação é o transbordamento das águas de seu leito provocando danos de grande proporção devido a modificação do solo da região de várzea –, que “resolveu” ocupar a região natural de alagamento, enquanto que as grandes obras realizadas a fim de domar a natureza dos rios – retificando seus leitos – para evitar os danos causados pelos transbordamentos são enaltecidas...

Ou seja, é uma manipulação da opinião pública responsabilizar o excesso de chuvas – no período que é sabido que mais se chove (já dizia Tom Jobim) – como a verdadeira causa para as inundações e deslizamentos ocorridos entre a noite do dia 10/03 e a madrugada do dia 11/03, que causaram a morte de 18 pessoas.

Sobre esta questão é necessário discutir sobre o planejamento urbano da cidade, pois o mesmo foi, e continua sendo feito, sem levar em consideração os pontos geológicos, ambientais e sociais e dando destaque somente aos interesses de grandes empreiteiros e especuladores imobiliários. Ou seja, privilegia uma classe já privilegiada pelo sistema capitalista e as consequências destes atos são sentidas pela única classe que realmente pode resolver estes problemas democráticos se tomar em suas mãos o controle: a classe trabalhadora.

Continuando na temática, sabemos que as regiões afetadas pelos alagamentos e deslizamentos são regiões periféricas da cidade – a grande São Paulo se expandiu muitos nas últimas décadas – e que a população que habita tais localidades são os trabalhadores mais explorados e que trabalham e vivem nas condições mais precarizadas, pois não conseguem residir em outras regiões da cidade devido ao alto valor dos imóveis (leia aqui especulação imobiliária já que locais próximos do centro tem os valores mais elevados devido à proximidade com toda a infraestrutura da cidade). Esses locais possuem as moradias com os valores menores, justamente porque é sabido destas ocorrências – por isso a denominação de áreas de risco – já que as mesmas são feitas em encostas ou em antigas áreas de mananciais ou várzeas de afluentes dos principais rios do estado.

Também não podemos esquecer que a falta de saneamento básico, com uma rede de coleta e sistema de drenagem eficientes, é um dos motivos causadores das áreas inundadas. Ressalto aqui que esta questão não é responsabilidade da população, pois a falta de locais adequados para dispensa de lixo e a educação sobre estas questões são também responsabilidade dos governantes.

Ou seja, não importa se o leito do rio foi retificado, se houver – como sempre irá haver neste período e a tendência é cada vez aumentar – uma precipitação intensa, os rios irão transbordar e ocupar sua antiga área de alagamento. O problema está na impermeabilização – com cimento, asfalto, dentre outros materiais - dos solos nesta região, pois a água demorará ainda mais para ser absorvida pelo solo, sendo que esta impermeabilização está totalmente relacionada com o descaso dos governantes com a população, pois, como já explicado, só conseguem residir nestas áreas devido ao baixo custo.

Sobre os deslizamentos as inter-relações são: mal planejamento urbano para a população decorrente dos interesses de uma classe já privilegiada, gerando especulação imobiliária nas regiões com condições de habitação e baixos custos nas áreas de risco fazendo com que somente os trabalhadores com baixa renda – ou seja, os mais precarizados – habitem tais localidades. Ressalto mais uma vez, para ficar explicito que o verdadeiro problema não é o ambiental e sim o político-econômico vigente! Isso por que o fator que leva ao deslizamento de terra é a retirada da vegetação que mantem as terras nos barrancos, mas estas só são retiradas pois a população não tem onde habitar, mesmo tendo inúmeros imóveis desabitados no centro da cidade!

Ainda falando das chuvas, durante todos os meses do verão, e mesmo antes desta estação, elas foram suplicadas por trabalhadores de alto escalão da SABESP e do governo do estado. Após inúmeras tentativas de esconder o que realmente estava acontecendo, várias reportagens da mídia burguesa reforçavam o conto do governador: a crise hídrica é resultado da maior seca histórica do Estado! Mais uma vez a culpa é "das questões climáticas e da população", que "não sabe utilizar o recurso"... Isentando o governo da falta de manutenção das obras da SABESP (leia-se aqui vazamentos), com a priorização deste recurso para o agronegócio e grandes indústrias, com a falta de planejamento e de distribuição deste recurso natural, com o descaso ambiental – aqui coloco as poluições dos rios, o desmatamento (pois a vegetação que auxilia na precipitação das chuvas e que garante a capacidade das represas de armazenarem água) – e com a falta de informação sobre as obras, recursos e planejamento para situações como a vivenciada.

No caso da crise hídrica, que apesar do governador ter anunciado seu fim, mesmo com os reservatórios sem o seu volume total e de localidades da cidade ainda passarem por rodízio de abastecimento de água – sim, rodízio, não racionamento como é colocado, pois o primeiro termo revela que somente algumas regiões ficarão sem o abastecimento (e nem preciso dizer quais são estas regiões, não é mesmo?), enquanto o racionamento é o revezamento de abastecimento entre as regiões - ainda durante esta semana, a causa é, mais uma vez, os interesses de grandes empresários e latifundiários que não podem sofre nenhuma alteração em seus abastecimentos ou impeditivos para que aumentem seus lucros, mesmo em momento como o que vivemos de crise econômica.

Resumindo, sobre todas estas questões o governo tenta nos convencer, população, que estamos à mercê das condições climáticas e ambientais e que quando ocorre algo a culpa é da população que não sabe utilizar do recurso natural, que não tem educação, que mora em qualquer lugar. Não podemos aceitar tais desculpas, pois todas essas situações são resultado do descaso governamental em relação as condições geográficas, ambientais e sócias em prol do privilégio de uma classe privilegiada. A classe trabalhadora ter em seu comando os modos produtivos e de planejamento é a única que poderia controlar, gerenciar e utilizar dos recursos e dos espaços em função da melhor qualidade de vida da população. Por isso devemos defender e lutar para que a única classe que pode responder por estas e outras demandas assuma o controle dos modos produtivos e de planejamento.

Foto: Caieiras.




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