Diretor da Fundação Konrad Adenauer no Brasil afirma que país está num beco sem saída. "Com esse vácuo de poder político, há o risco de que algum populista ou extremista se aproveite da situação na próxima eleição", diz.
sexta-feira 23 de junho de 2017 | Edição do dia
Em entrevista à Deutsche Welle, Jan Woischnik, diretor da Fundação Konrad Adenauer no Brasil, afirma que país está num beco sem saída. "Com esse vácuo de poder político, há o risco de que algum populista ou extremista se aproveite da situação na próxima eleição", e que não vê nenhum nome que poderia substituir Temer.
"O país está parado, como num bloqueio imposto a si mesmo. Os poderes Executivo e Legislativo se preocupam somente com si mesmos e em limitar os danos até agora sofridos pela Operação Lava Jato, enquanto o Judiciário se politiza – e esse círculo vicioso causa um prejuízo duradouro para a democracia brasileira. Está tudo parado por conta da grande crise que foi gerada com o início da Lava Jato."
Com as crescentes rusgas entre Estados Unidos e Alemanha durante a administração Obama (com a crise geopolítica na Ucrânia) e após a entrada de Donald Trump (ameaça de sanções econômicas às empresas europeias que facilitem a construção de novos oleodutos russos), aos alemães não parece agradar uma operação como a Lava Jato que tem mil e um laços com o Departamento de Estado norteamericano. Berlim quer ajustes contra os trabalhadores brasileiros, mas para incrementar seu espaço de influência, e não o de Washington.
A chanceler alemã Angela Merkel, em seu recente giro pela América Latina, passou pelo México e pela Argentina, mas não veio ao Brasil.
Woischnik afirma que mesmo sem Temer a crise continuaria, especialmente se a queda do presidente golpista resultasse em eleições indiretas, que seriam realizadas pelo Congresso carregado de condenações judiciais.
"[...] Isso tudo mostra que a posição do presidente está muito instável e frágil, mas ninguém consegue dizer até quando ele ficará no poder. Ao mesmo tempo, não há uma solução à vista para a crise – com ou sem Temer".
"Não vejo nenhum nome que poderia substituí-lo. Simplesmente não vejo alguém que poderia entrar na Presidência e fazer o país sair da crise. Em eleições indiretas, os deputados e senadores poderiam acabar escolhendo um parlamentar num Congresso em que grande parte de seus membros é acusada de corrupção. Estamos num beco sem saída e, com esse vácuo de poder político, há o risco de que algum populista ou extremista se aproveite da situação na próxima eleição."
Em relação às "novas cabeças" da direita tradicional, como João Dória, o alemão se mostra igualmente descrente. "Mesmo as gerações mais novas de políticos dependem dos caciques dos partidos – e, assim, não há como sair desse círculo vicioso e se oferecer como líder para a renovação. Por isso, não há uma solução à vista para a crise."
As relações entre Brasil e Alemanha, que vinham florescendo com os acordos de entrega nacional assinados por Dilma Rousseff (como o acordo de entrega à Alemanha das estratégicas "terras raras" - conjunto de 17 elementos químicos metálicos usados como matérias-primas estratégicas na indústria de alta tecnologia, como na produção de smartphones, supercondutores, catalisadores, painéis solares e super-imãs), esfriaram relativamente após o golpe institucional de 2016. Merkel e Temer não têm iniciativas diplomáticas mútuas. Nem mesmo a importação das medidas tomadas pela reforma trabalhista alemã para explorar os trabalhadores brasileiros foi suficiente para reatar os laços Berlim-Brasília.