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POR UM PLANO DE LUTAS | Indefinições na política, demissões na indústria

Evandro NogueiraSão José dos Campos

quarta-feira 13 de abril de 2016 | Edição do dia

O cenário ainda indefinido da crise política não imobiliza os patrões, pelo contrário, aí é que se aproveitam da desculpa de “instabilidade para os investimentos” e atacam ainda mais, como sinaliza o Conselho Federal de Economistas, Júlio Miragaya, "O prolongamento do impasse político empurrou o fundo do poço do 4º trimestre de 2015 para o 1º trimestre de 2016".

O grave cenário atual na indústria é continuação e aprofundamento de uma tendência anterior. Segundo o IBGE, há quatro anos o emprego nesse setor vem caindo: 2012 (-1,4%), 2013 (-1,1%), 2014 (-3,2) e 2015 (-6,2). Isso corrobora o que diz o economista-chefe do IEDI (Insituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Rafael Cagnin, para quem o desemprego no setor é um dos sintomas da desindustrialização em curso no país, que também pode ser vista pela queda da indústria na participação do PIB (Produto Interno Bruto) do país, que em 1989 era 46,3%, em 2000 caiu para 26,5% e em 2015 para 21,9% (!). Pois é, o “momento da crise política” tem permitido aos patrões defenderem seus bolsos, fazendo com que os trabalhadores paguem o pato.

Nesse gráfico abaixo, do SEADE, podemos ver como o poder de compra dos trabalhadores veio caindo nos últimos anos, ou seja, além das demissões, os que permanecem empregados sentem seu salário cada vez alcançando menos. Como dissemos em outro texto, “Outro efeito dessa desvalorização cambial é sobre os salários. Produtos importados, insumos, tem peso significativo no conjunto da economia brasileira. O real desvalorizado gera um alto custo na importação, que por sua vez gera um efeito em cadeia de aumento de preços em diversos produtos, alimentando a inflação. Com os salários sendo ajustados pouco acima ou mesmo abaixo da inflação, a diferença entre o aumento dos preços e o (não) aumento dos salários, não desaparece no ar, é diretamente embolsada pelos empresários – os trabalhadores estão gastando mais do seu salários com os produtos mais caros.”

Competitividade na exportação a serviço de que?

Voltando ao economista Miragaya, ele diz, "A indústria que depende de exportar compensa a perda de mercado interno com o aumento das exportações, devido ao novo nível do câmbio", reafirmando aquele discurso da FIESP de que essa seria uma via para fortalecer a indústria. De acordo com esse raciocínio, hoje mesmo o jornal Vale paraibano publicou matéria mostrando como São José dos Campos, a 4ª cidade que mais exporta no país e representa 57% das exportações regionais, tem aumentado suas exportações chegando a R$ 7,2 bi só no primeiro trimestre desse ano, enquanto no mesmo período do ano passado foi de R$ 6,3 bi.

Apesar disso, desde o final de fevereiro escrevemosno Esquerda Diário sobre a situação complicada para os operários na região, “O número de demissões no Vale do Paraíba em 2015 foi mais de 26 mil, sendo quase 14 mil só no setor industrial. Em 2016 já foram quatro demissões em massa em fábricas na região, contando 200 demitidos com o fechamento da Maxen, em Atibaia e outros 200 para o mesmo cenário da Comil, em Lorena; 160 demitidos da Wow!, em Caçapava e os 517 demitidos da GM, em São José dos Campos (SJC)”. Cabe a pergunta, “compensa” para quem?

4451 fábrica fechadas, a Mecano será mais uma?

Esse número divulgado pelo IBGE correspondente às fábricas fechadas em São Paulo no último ano. Dentro desses casos está a Corneta, antiga autopeças da região de Presidente Altino, em Osasco, na grande São Paulo, onde existe um verdadeiro desmonte de uma antiga zona industrial. Os trabalhadores saíram de férias coletivas devido às baixas na produção, com direitos atrasados e quando retornaram a fábrica estava fechada. Fechamentos com calote de direitos e verbas rescisórias tem sido uma das táticas preferidas pela patronal e pode ser esse o cenário preparado na Mecano Fabril, autopeças da mesma região da Corneta, onde os trabalhadores também sofrem com constantes atrasos salariais e estão sem receber depósito do FGTS há meses.

Na Mecano os salários atrasaram por três meses e só foi arrancada negociação após 20 dias de greve, sendo que agora outra greve se levanta contra o atraso no pagamento das parcelas dos salários atrasados. Os trabalhadores temem e aguardam a qualquer momento a notícia de fechamento da fábrica sem que seus direitos sejam devidamente pagos. O Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, dirigido por uma ala da Força Sindical que apoia o governo Dilma, faz o mínimo necessário para não aparecer contra a greve, mas nenhuma iniciativa capaz de fortalece-la ou se enfrentar mais duramente com a patronal que após décadas lucrando quer fechar as portas dando o calote.

Uma lei que proíba as demissões seria o mínimo que os sindicatos deveriam exigir de um governo que quer convencer os trabalhadores a barrarem o impeachment. Os trabalhadores não vão defender um governo que insiste em retirar seus direitos e deixar que a patronal demita aos milhares. Não existe hoje no país um movimento de resistência organizada em centenas de fábricas contra as demissões e fechamentos somente porque a CUT, Força e demais atuam para que não exista e fazem isso justamente por saberem que um movimento como esse teria força para barrar o impeachment da direita, mas não poderia ser facilmente contido para que o governo do PT continuasse a aplicar seu plano de ajustes e beneficiamento dos empresários. É com essa perspectiva que nós do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), levamos o Esquerda Diário para as portas das fábricas, chamando a que se organize um plano de lutas a partir das bases para enfrentar os ajustes do governo Dilma, barrar as demissões da patronal e também o impeachment da direita.




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