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Ilú oba de min: o que me toca essas mulheres

Desde os primeiros toques das mulheres que tocam para o rei Xango há um calor que se acende e que mesmo a já tradicional chuva, que cai toda sexta de carnaval para lavar os corpos e as ruas, não esfria.

Gabriela FarrabrásSão Paulo | @gabriela_eagle

segunda-feira 6 de março de 2017 | Edição do dia

Quando levei meu companheiro, um homem negro, para ver pela primeira vez um ensaio do Ilú ele me disse que parecia que ele sentia pantomimes no sangue, porque o Ilú Oba de min é sobre resgate da cultura negra por tanto tempo apagada e silenciada.

No cortejo de sexta-feira, 23 de fevereiro, comemorando seus 12 anos de existência foi mais um desses mágicos momentos que só o Ilú consegue realizar.

As centenas de mulheres tocando, a voz de Nega Duda invadindo os ouvidos e as ruas do centro de São Paulo e enegrecendo o carnaval, que é desde sempre negro; tudo isso é de uma magia inexplicável.

Enquanto o corpo de baile e os pernas de pau representando os orixás desfilavam se escutavam pessoas dizendo sozinhas "ser negro é lindo, eu sou linda e sempre tive orgulho de ser negra", via-se as mulheres negras que só estavam ali para vender a marca de cerveja, que patrocina o carnaval de rua esse ano, completamente encantadas.

Eram turbantes, lenços e cabelos negros, pés ensaiando ritmos afro-brasileiros e bocas cantando aos orixás. Eram milhares em um misto de encantamento pelas mulheres do Ilú e por si mesmos, erguendo os rostos orgulhosos por tantos anos de resistência negra para dispersar a festa de maneira impossivelmente mais simbólica em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a única igreja que os escravos podiam frequentar no Brasil da escravidão.




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